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Metade de todas as árvores da Amazônia pertence a apenas 1,4% das espécies

  • Publicado: Quinta, 17 de Outubro de 2013, 20h00
  • Última atualização em Segunda, 27 de Abril de 2015, 09h08

 

A análise foi feita a partir de inventários florestais realizados em expedições de grupos de pesquisas em campo e não por imagens de satélite, que até hoje ainda não conseguem responder a essa demanda

Por Cimone Barros

Pela primeira vez uma pesquisa realizada em colaboração com especialistas de 125 instituições do mundo consegue responder a duas questões antigas sobre a floresta Amazônica: quantas árvores e espécies arbóreas existem na Amazônia? O estudo publicado na revista Science nesta sexta-feira (18) conta com a coautoria de 15 pesquisadores e estudantes de pós-graduação ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI).

O trabalho “Hiperdominância de espécies Arbóreas na flora Amazônica” fez uma estimativa de que existem aproximadamente 16 mil espécies de árvores na Amazônia, mas metade de todas as árvores pertence a apenas 227 espécies (1,4% do total), enquanto que 11 mil espécies estão entre as mais raras e representam apenas 0,12% das árvores.

Nos 6 milhões de quilômetros quadrados da grande Amazônia, incluindo a bacia Amazônica e as Guianas, o estudo estimou cerca de 400 bilhões o número de árvores existentes.

Para os especialistas, a presença das hiperdominantes pode ajudar a entender como a Amazônia funciona hoje e como poderá funcionar no futuro. No topo do ranking das mais abundantes estão o açaí, espécies da família da castanha-da-Amazônia, patauá, buriti, barriguda, paxiúba, murumuru (parente do tucumã), breu e seringueira, a maioria palmeiras e conhecidas pelas populações locais.

“Essa hiperdominância é observada também nos nossos inventários mais locais”, afirmou a botânica do Inpa, Iêda Leão do Amaral.

O estudo compila dados de 1.170 levantamentos ou parcelas florestais, o que resultou na primeira estimativa de abundância, frequência e distribuição espacial em larga escala de milhares de árvores amazônicas.

Para a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPG-ECO) do Inpa e coautora do estudo, a bióloga Flávia Costa, uma implicação dessa dominância é o lado contrário, já que 62% das espécies têm uma abundância extremamente pequena e algumas são tão raras que talvez os cientistas nunca as encontrem.

Lista vermelha

Das 16 mil espécies de árvores, cerca de 6 mil espécies têm populações abaixo do que é considerada população viável para conservação, ou seja, menos de mil indivíduos em toda a bacia Amazônica. Essa situação as qualifica para entrar na lista das espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“Se há pouquíssimas espécies muito abundantes, significa que há muitas espécies que são extremamente raras e essas são as que estão em perigo de desaparecer. É isso que nos preocupa”, disse Flávia Costa.

Para o botânico do Inpa e coautor do estudo, Charles Zartman, esses resultados estão gritando a necessidade de aumentar e valorizar o levantamento florestal na Amazônia. “Para entender, por exemplo, grandes frações de espécies raras precisamos de mais inventários para repetir e entender os padrões”, disse Zartman, que destaca a colaboração internacional de uma centena de instituições para que se tivesse um resultado tão marcante.

Mais investigação

A pesquisa não revela a razão pela qual as 227 espécies são hiperdominantes. Entre as possíveis explicações, os autores sugerem que algumas espécies hiperdominantes talvez sejam comuns por terem sido cultivadas pelas populações indígenas antes de 1492, mas isso ainda é ponto de investigação.

Para Flávia Costa, no caso das palmeiras há duas suspeitas: a primeira é que elas podem ter sido espalhadas na Amazônia pelos indígenas, e isso que se observa hoje seria o resultado da propagação de plantas úteis no passado, aproximadamente há 10 mil anos, tempo que as pessoas colonizaram a região. Este é um tópico que está sendo estudado por uma aluna da pós-graduação do Inpa, Carolina Levis, que já mostrou em outro estudo os impactos de populações antigas na composição florística atual da floresta

“A outra suspeita está relacionada com a capacidade das plantas de se reproduzirem. E isso não vale só para as palmeiras, mas para qualquer uma dessas espécies que se tornaram muito abundantes”, contou.

Liderado por Hans ter Steege, pesquisador do Naturalis Biodiversity Center, no sul da Holanda, o estudo conta a participação de 25 especialistas brasileiros, sendo 15 ligados ao Inpa. São 11 pesquisadores (William Magnusson, Iêda Leão Amaral, Francisca Dionísia de Almeida Matos, Flávia Costa, Maria Teresa Fernandez Piedade, Rogerio Gribel, Charles Eugene Zartman, Diógenes de Andrade Lima Filho e Cid Ferreira, Florian Wittman, Ana Andrade) e quatro pós-graduandos (Thaise Emilio, Carolina, Juliana Schietti e Priscila Souza).

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