Inpa vai lançar até o início do próximo ano edital de seleção para novas empresas incubadas
Sete negócios inovadores são acompanhados pelo instituto. Primeiro produto, a farinha integral de pupunha, ganhará o mercado ainda em 2013
Por Cimone Barros
Até o início de 2014, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) vai lançar edital de seleção para novas empresas com interesse em ser incubadas pelo Instituto. A proposta é permitir a transferência de tecnologias para empresas que transformem o conhecimento científico em produtos e processos que beneficiem a sociedade.
O anúncio foi feito na última segunda-feira (30) pela titular da Coordenadora de Extensão Tecnológica e Inovação do Inpa (CETI), Rosângela Bentes, durante a VIII edição do Encontro Consciência, que reuniu jornalistas, pesquisadores e empreendedores para discutir a inovação na Amazônia. A CETI funciona como o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do Inpa, que tem como função articular as demandas da sociedade com as ofertas de conhecimento e tecnologias geradas no Inpa.
De acordo com Bentes, as empresas que quiserem participar do edital precisam ter um modelo de negócio voltado para a área de atuação do Inpa, como biotecnologia, produtos e serviços ambientais e fármacos. Uma novidade é que também poderão concorrer os negócios inovadores vinculados à indústria criativa, como escritórios jurídicos, assessoria ambiental e empresas de comunicação voltadas para a divulgação e jornalismo científico.
Atualmente sete empresas são incubadas pelo Inpa, sendo duas residentes (com estrutura física dentro da incubadora do instituto) e cinco não-residentes (sem estrutura física no Inpa). Elas recebem acompanhamento do instituto desde o plano de negócios até a captação de investimentos, via editais, ampliação da rede de contatos e redução dos riscos operacionais, possibilitando que as empresas sejas autossustentáveis.
“O edital vai contemplar duas vagas para empresas residentes e outras para não-residentes, que neste caso ficará a nosso critério selecionar quantos são. E isso vai depender da nossa avaliação do plano de negócio”, disse Bentes.
O Inpa vem trabalhando para estimular e fomentar a inovação dentro da instituição. O objetivo é promover a transferência de tecnologia para as empresas, fazendo a interface da instituição com a iniciativa privada e esta com a sociedade. “A empresa também tem de fazer o seu papel: de transferir essa tecnologia para produtos e processos que cheguem ao mercado. É o caso da farinha integral de pupunha”, disse a coordenadora.
Transferida para a Néctar Frutos da Amazônia, em 2011, a farinha de pupunha será lançada como produto ao mercado até o início de dezembro deste ano. O produto é rico em vitamina A e serve tanto como suplemento nutricional quanto de ingrediente para receitas gastronômicas, como bolos e pães.
Além da disponibilidade nas prateleiras dos supermercados, a ideia é que a farinha de pupunha também faça parte do programa de regionalização da merenda escolar, que substitui os alimentícios importados por produtos regionais, contribuindo para a interiorização do desenvolvimento e o resgate de hábitos alimentares saudáveis.
Para o diretor do Inpa, Adalberto Val, que participou do VIII Consciência, a diversidade biológica da região Norte é singular e esconde um conjunto de produtos e processos que estamos muito longe de conhecer. “Mas o que já conhecemos nos permite intervenções seguras não só na floresta, e com o que aprendemos lá levar para o chão de fábrica, para a inclusão social”, destacou Val.
Debate
Promovido pela Assessoria de Comunicação do Inpa em parceria com a Coordenação de Extensão Tecnológica e Inovação (CETI), o Consciência é um evento periódico que visa aproximar e integrar quem faz ciência e produz notícias. Nesta edição, o evento discutiu uma inovação na Amazônia.
De acordo com o agente da propriedade industrial, Ricardo Remer, a inovação já está se consolidando no Brasil, especialmente a partir da publicação da Lei de Inovação, a Lei 10.973/ 2004. Os avanços principais, segundo ele, foram no sentido das Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) de incorporarem a cultura de transferência do conhecimento para a sociedade em forma de bens, produtos e serviços.
“Para isso, as ICTs tiveram de agregar uma série de serviços e atitudes que antes não eram exigidas delas, como, por exemplo, os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs)”, disse Remer, que também é consultor do Inpa.
Remer diz que é difícil avaliar qual é o investimento do Governo nos NITs. Para ele, a conta tem de ser feita em termos de custo/benefício. Mesmo assim, a equação é complicada, porque a avaliação do custo é fácil, mas o benefício do investimento é difuso, por estar lidando com o intangível, e a sua obtenção acontecer a longo prazo.
“É uma equação difícil, mas a conta geral que se fez no mundo é que, a fase de implantação e de obtenção de sustentabilidade dessas unidades dentro das instituições, deve levar algo em torno de dez anos para que ele comece a gerar resultados que paguem seus custos operacionais”, revelou o consultor.
Para Remer, os jornalistas podem ajudar com a inovação divulgando os casos de sucesso e fugindo da cultura do fracasso. “A gente tem de divulgar os sucessos e louvar as iniciativas boas e que geraram a distribuição de renda, geração de empregos e que aproveitaram as características locais”.
O jornalista Rafael Nobre, do Portal Amazônia, fez sua abordagem exatamente no papel da imprensa na inovação, destacando que a imprensa tem de levar informação às pessoas que contribuam para a vida delas. “A ciência tem função social e a imprensa entra para levar esse conhecimento ao grande público. Nesse processo é preciso que os pesquisadores e jornalistas estejam abertos ao diálogo”, disse Nobre.
Saiba Mais
O Inpa possui 64 patentes, cerca de 80 produtos e seteempresas incubadas. A essência das tecnologias do Inpa é basicamente de processo (27%), produto (27%) e produto e processo (25%).
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