Borboletas trarão benefícios em longo prazo para a região Amazônica
Segundo o técnico do Inpa, Francisco Xavier, Manaus (AM) é uma rota de passagem dessa espécie, que está “visitando a cidade"
Por Fernanda Farias
“Elas estão migrando para o Sul do Amazonas e para o norte do Mato Grosso para se reproduzir”, afirma o técnico em Ciência e Tecnologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Francisco Felipe Xavier Filho, que explica o fenômeno das borboletas que surpreendeu moradores da cidade de Manaus (AM) nas últimas semanas.
Segundo Xavier, que trabalha na Coleção de Invertebrados do Instituto, é comum a espécie Augiades crinisus migrar para se reproduzir, em conjunto com outras espécies migratórias, mas relata que é a primeira vez que observa o aparecimento em grande quantidade dessa espécie sobrevoando a cidade. De acordo com o técnico, o clima, pelo fato de ser o final do período chuvoso e início do verão, interferiu no processo de maturação da espécie.
“O clima pode ter influenciado para que as borboletas desta espécie tenham se tornadas adultas na mesma época e em vários lugares, pois sempre acontece no começo do verão, é quando elas migram em busca de um lugar adequado para se reproduzirem”, explica.
Essa migração, de acordo com Xavier, é importante para haver mistura dos genes das borboletas, porque permite que a espécie tenha melhor carga genética repassada para seus descendentes, para que se adaptem às mudanças climáticas. “A polinização também é um grande benefício que as borboletas trazem, pois elas se alimentam do néctar das flores, e involuntariamente, transferem o pólen de uma flor para outra, auxiliando a reprodução da vegetação na região, trazendo assim grandes benefícios para a agricultura”, esclarece.
Além disso, essa espécie, que já foi vista em vários locais da capital amazonense, e também do interior do estado, é capaz de transferir aos seus descendentes uma memória genética, tornando-os capazes de retornarem para o norte. “Aqui na região existem populações locais de Augiades crinisus, mas ela é difícil de ser vista no meio urbano e até mesmo na floresta. Aqui na coleção do Instituto, por exemplo, temos apenas cinco exemplares dessa espécie, por isso se tornou um fenômeno atípico”, relata o técnico.
Xavier e a entomóloga Gilcélia Lourido, formada pelo Programa de Pós-Graduação em Entomologia (PPG-ENT) do Inpa e especialista em lepidópteros, fizeram observações durante quatro dias e verificaram que a migração continua com grande quantidade de exemplares. “Uma das rotas é pela zona norte da cidade onde elas seguem em direção ao sul passando pelo centro da cidade. Verificamos também que elas aproveitam os fragmentos florestais do Inpa e de outras áreas verdes para se alimentam do néctar das flores e principalmente para descansar”, conclui.
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