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Pesquisa do Inpa consegue identificar casos em que morte pode ter sido causada por overdose

  • Publicado: Domingo, 11 de Agosto de 2013, 20h00
  • Última atualização em Quinta, 23 de Abril de 2015, 08h47

 

A pesquisa desenvolvida no Instituto, por meio de estudo com larvas de moscas, permite detectar, em indivíduos mortos, se houve abuso de cocaína mesmo após vários dias de óbito

Por Josiane Santos

José Albertino (Acervo pesquisador)

Amostras coletadas e analisadas durante o processo

A pesquisa, desenvolvida pela estudante de mestrado do programa de Pós-Graduação em Entomologia (PPG-ENT) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Tamires Rezende Vieira, analisou a presença de cocaína na cutícula de larvas de moscas criadas em tecido morto intoxicado, que dá possibilidade de saber o intervalo pós-morte (IPM) e se a causa foi por overdose da droga. 

A pesquisa faz parte do ramo da entomotoxicologia forense, que utiliza os insetos para detectar substâncias tóxicas. Essa informação pode ser útil para uma investigação dentro do âmbito judicial. No Inpa é o primeiro trabalho nesse sentido. “Trata da detecção de drogas de abuso (cocaína) em larvas de insetos que se desenvolvem em corpos em decomposição. Em pessoas que morrem pelo efeito de superdosagem, a droga pode ser detectada nos insetos, mesmo depois de vários dias após a morte”, explica o orientador e pesquisador do Inpa, José Albertino Rafael. 

Método

Na experimentação, foram introduzidos 18 coelhos, seis para controle (sem droga), seis receberam DL 50 (dose que mata 50%) e outros seis receberam DL 100.

Após a morte dos coelhos por injeção de uma overdose de cocaína, o fígado foi retirado para ser utilizado como substrato para a criação das larvas das moscas. O fígado é o órgão que absorve mais rapidamente a droga.

Segundo José Albertino, a vantagem desse método é que no caso do corpo em decomposição, a droga se dilui e dissipa, desaparecendo rapidamente no meio ambiente. Já nas larvas necrófagas (que se alimentam de tecido animal morto), ela absorve a droga que fica armazenada e concentrada no seu tecido. “Por meio da larva a droga é preservada no seu corpo e facilita a sua detecção para informar à polícia, por exemplo, que aquele corpo morreu ou, pelo menos, esteve envolvido com tal droga”, ressalta o pesquisador. 

O estudo se concentrou em analisar as larvas das moscas no estágio 3 – nesse estágio a larva está maior e acumula maior quantidade de cocaína, portanto mais fácil de detectar por métodos químicos. Foram utilizados dois métodos para detectar a presença de droga no tecido vivo da larva: imunohistoquímica e cromatografia de camada delgada.

Diferença de tamanho das larvas é indicador

Se comparado o tamanho das larvas presentes em indivíduos que estiveram sob o efeito da droga com larvas presentes em indivíduos sem a presença de droga no organismo, esse tamanho é diferente. Isso acontece porque, de acordo com o pesquisador, há drogas que aceleram o desenvolvimento da larva, num curto período de tempo, e há outras que retardam. No caso da cocaína, ela acelera o desenvolvimento.

“Os resultados mostraram que é possível subsidiar laudos no âmbito judicial com base em informações coletadas nas larvas que se desenvolvem em carcaças sob suspeita de uso de cocaína. Mostrou ainda que as larvas criadas em substrato animal intoxicado com cocaína sofrem alterações morfológicas e físicas como peso, largura e comprimento que podem ser indicativo de influência da cocaína”, observou a estudante Tamires Vieira.

Experimentos futuros

De acordo com Albertino Rafael, o próximo passo é expandir os estudos utilizando outras drogas e firmar uma parceira com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que apoiou a pesquisa, a fim de subsidiar a Polícia Civil do Estado do Amazonas.

O experimento teve autorização do Conselho de Ética do Inpa, apoio da equipe de veterinários do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e a droga foi doada pela Polícia Federal do Amazonas.

Foto da chamada: José Albertino (Acervo pesquisador)

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