Pesquisadora do Inpa descobre substância que pode ajudar em tratamento do câncer
Cecília Nunez, autora da pesquisa, afirma que ainda é preciso realizar todas as etapas pré- clínica e clínica, antes de poder usá-la como medicamento. A substância foi uma das sete patentes depositadas em 2012 pelo Inpa
Por Raiza Lucena
A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Cecília Veronica Nunez, reconheceu em uma planta amazônica um alcaloide que possui potencial anticancerígeno. As pesquisas sãorealizadas há sete anos e em 2012 a substância fez parte da lista de patentes depositadas pelo Instituto.
A pesquisa, iniciada em 2006, trata-se da coleta de material biológico, preparação de extratos e avaliação destes em diversos ensaios biológicos - procedimento chamado de bioprospecção, com a finalidade de explorar os recursos genéticos -, que neste caso foi a seleção de diversas plantas para a realização do fracionamento a fim de isolar as substâncias ativas.
O alcalóide encontrado foi extraído da planta Duroia macrophylla, popularmente conhecida como puruí-grande-da-mata. A espécie pertence à família Rubiaceae (a mesma do café) e possui um fruto comestível, porém não muito consumido. “Eu quis conhecer o potencial biológico das espécies amazônicas. Então com esse objetivo, coletei diversas plantas, não só da família Rubiaceae, mas de outras famílias de vegetais e esse extrato mostrou uma grande atividade”, explica.
De acordo com Nunez, esse foi o primeiro estudocom aespécie. “Essa planta nunca teve nenhum estudo químico realizado. Muita gente fala sobre a floresta amazônica conter um grande potencial biológico e eu posso realmente afirmar que temos um potencial químico-biológico enorme. Ela forneceu um alcaloide inédito na literatura. Existe já o esqueleto, mas a posição como a estrutura está ligada é inédita, então ainda tem muita coisa a ser descoberta”, afirma.
Potencial anticancerígeno
Podendo ser definido como uma substância de caráter básico, a pesquisadora explica que os alcaloides não são produzidos igualmente pelas plantas, há apenas algumas famílias de vegetais que os produzem, além de alguns micro-organismos e animais.
Já objetivando a busca de substâncias antitumorais nas plantas, o resultado veio após várias etapas de fracionamento na espécie. “Este alcaloide específico deu atividades sobre células tumorais de Leucemia humana, Adenocarcinoma gástrico (câncer de estômago)e Melanoma (câncer de pele), isso por enquanto em linhagens em células, ou seja, o ensaioin vitro. Ainda precisamos realizar os ensaios de todas as etapas pré-clínica e clínica”, destaca a pesquisadora.
Ela ainda completa: “Pela alta atividade que esse alcaloide apresentou e pela baixa toxicidade em células sadias, existe um potencial muito grande, mas é prematuro dizer para já se utilizar a planta (em tratamentos)”.
Ainda em andamento, a pesquisaestá dividida em duasfrentes: a primeira é o estudo da planta para encontrar outros alcaloides minoritários com possíveis atividades ainda maiores e a segunda é a tentativa de obtenção da cultura de células da planta para uma produção maior deste alcaloide, já que a planta o produz em pequena quantidade, insuficiente ainda para passar às etapasin vivo. “Deu muito trabalho realizar o isolamento e a identificação estrutural do alcaloide, mas foi muito bom poder encontrar uma substância com esse potencial”, avaliou a pesquisadora.
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