Análise de DNA mostra a preferência alimentar de morcegos vampiros na Amazônia
Os resultados da pesquisa foram publicados recentemente na revista Journal of Mammalogy e divulgados pela revista Science
Da Redação da Ascom
Foto: Acervo Pesquisador
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) investigaram os hábitos alimentares do morcego da espécie Desmodus rotundus, na Amazônia, mais conhecido como morcego-vampiro-comum, por meio da detecção do DNA das “vítimas” (animais sugados pelo vampiro) nas fezes do animal. O método foi desenvolvido no LabGen (Laboratório de Genética de Plantas do Inpa) e o estudo de campo foi realizado em comunidades ribeirinhas do rio Purus e médio rio Madeira (AM).
O pesquisador do Inpa Rogério Gribel, um dos autores do trabalho, conta que inicialmente o estudo envolveu uma fase experimental, ainda em Manaus, na qual alguns morcegos vampiros foram mantidos em cativeiro, alimentando-se por vários dias exclusivamente do sangue de uma de suas “vítimas” potenciais (galinha, porco, cachorro, boi ou humanos), visando a coleta das fezes dos morcegos.
“Em seguida, foi desenvolvido em laboratório, um protocolo utilizando ferramentas moleculares para detectar o DNA das “vitimas” nas amostras das fezes destes vampiros com dieta controlada”, explica a também pesquisadora do instituto, Maristerra Lemes.
Após o desenvolvimento do protocolo de identificação do DNA nas fezes, partiu-se para o trabalho de campo, na região do rio Purus e médio Madeira, a fim de se investigar a preferência por espécies na alimentação dos morcegos, relata o pesquisador colaborador do instituto, Paulo Bobrowiec, doutor em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva pelo Inpa.
“O estudo demandou 47 noites de trabalho de campo em 18 comunidades ribeirinhas, onde foram capturados cerca de 160 vampiros com o intuito de descobrir quais eram seus hábitos alimentares na natureza. Os resultados indicaram o maior consumo de sangue de animais domésticos como galinhas e porcos e ausência de DNA humano e de animais silvestres (papagaio, arara, macaco, dentre outros) nas fezes dos vampiros caputrados”, disse.
Bobrowiec acrescenta que, a ausência de vestígios de DNA de animais selvagens nas amostras fecais dos morcegos foi um tanto intrigante, considerando que as comunidades ribeirinhas visitadas são cercadas por florestas com baixos níveis de perturbação humana. “Os animais domésticos e de criação chegaram à Amazônia só nos últimos séculos, isso sugere uma rápida adaptação comportamental para o ambiente antrópico, o que permitiu os morcegos vampiros explorá-los com sucesso”, explicou.
Ainda de acordo com Bobrowiec, o desenvolvimento do protocolo molecular simples e de baixo custo pode contribuir para compreender os hábitos alimentares dos vampiros, especialmente em áreas com altos índices de agressão por mocergos em humanos e animais domésticos.
Journal of Mammalogy e Science
Os resultados da pesquisa foram publicados recentemente na revista Journal of Mammalogy e divulgados como destaque na “latest news” da Science, uma das mais prestigiadas revistas sobre investigação científica. O trabalho foi o tema central da tese de doutorado de Paulo Bobrowiec, dentro do Programa de Pós-Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do Inpa. A pesquisa foi orientada pelos pesquisadores do Inpa Rogério Gribel e Maristerra Lemes , os quais estão atualmente cedidos para o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Para os pesquisadores, foi uma satisfação ter o reconhecimento do trabalho divulgado numa das mais conceituadas revistas científicas. “Ter um artigo científico publicado costuma ser uma alegria para os pesquisadores, principalmente quando o artigo é escolhido entre milhares publicados no período para ser destaque como “latest news” (Últimas Notícias) da revista Science”, comenta Maristerra.
Segue o link (http://news.sciencemag.org/biology/2015/04/vampire-bats-have-taste-bacon) da nota na Science, a qual disponibiliza o link para o artigo completo publicado em Journal of Mammalogy.
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