Pesquisador do Inpa ganha Prêmio Bunge 2014 na área Ciências Agrárias
O agrônomo Hiroshi Noda é reconhecido pelo trabalho de conservação e melhoramento genético de recursos vegetais na Amazônia, em especial o tomateiro
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Atuando há quase 40 anos em conservação e melhoramento genético de espécies hortícolas na região, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Hiroshi Noda, 71, foi contemplado no Prêmio Fundação Bunge 2014, na área Ciências Agrárias – Produtividade Agrícola Sustentável, categoria Vida e Obra. A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá no dia 22 de setembro, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
“Foi com muita surpresa que recebi a notícia de ter sido escolhido para o Prêmio da Fundação Bunge. Não esperava ser contemplado. Trata-se de uma premiação nacional; jamais pensei que um dia iria receber esse prêmio”, revela Hiroshi Noda.
Noda é reconhecido dentro e fora do Amazonas por ter desenvolvido uma variedade de tomate denominada “Yoshimatsu” (junção dos nomes dos pais do pesquisador), com boa adaptação ao cultivo no trópico úmido e alta resistência contra a bactéria causadora da “murcha bacteriana”, um dos principais fatores limitantes ao cultivo nos trópicos úmidos. A doença mata o tomateiro, mas não afeta a saúde humana.
O tomate é uma das hortaliças convencionais mais consumidas no Amazonas, mas a sua produção ainda é muito pequena em função da incidência de pragas e doenças, o que onera os preços. Para se ter ideia, o Brasil produziu 4,11 milhões de toneladas de tomate, em 2010. A região Norte participou com apenas 0,9% dessa produção, cabendo ao Amazonas 0,2%, de acordo com informações da FAO (2012), braço das Organizações das Nações Unidas para a agricultura e alimentação.
No Inpa, o programa de melhoramento genético do tomateiro teve início a partir de 1975. Na Instituição, o tomate é a mais importante hortaliça convencional estudada e as pesquisas de seleção genética são conduzidas para melhorar as características agronômicas relacionadas à qualidade do fruto.
Atualmente, Noda coordena a pesquisa intitulada “Sementes e tecnologias agroecológicas para agricultura familiar no Amazonas” financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com vigência até dezembro de 2016. Trata-se de um projeto-piloto visando à criação de um sistema público na produção de sementes voltado à agricultura familiar.
O objetivo do projeto é proporcionar autonomia aos agricultores familiares no acesso à semente, insumo fundamental para a prática da agricultura sustentável. “O princípio é fazer com que o agricultor produza os alimentos e ele possa, também, ser um produtor de sementes”, adianta.
Esta é a segunda vez que um pesquisador do Inpa recebe o Prêmio Fundação Bunge. Em 2010, o pesquisador Niro Higuchi, do Laboratório de Manejo Florestal, foi contemplado com a premiação por ter ajudado a elaborar, em 2007, um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que viria a influenciar decisivamente o olhar do mundo sobre as ações do homem e sobre os desafios climáticos a serem enfrentados nas próximas décadas.
Indicação
Indicado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), o nome do pesquisador Hiroshi Noda foi escolhido por um Grande Júri do Prêmio, formado por reitores das principais universidades brasileiras e presidentes de entidades científicas e culturais de renome, para a categoria Vida e Obra pelo conjunto dos trabalhos desenvolvidos pelo pesquisador na conservação e no melhoramento genético de recursos vegetais na Amazônia.
Para Noda, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o conhecimento científico é resultado de um processo coletivo. “O ambiente colaborativo no Inpa é muito propício para realização das pesquisas e os pesquisadores são atentos à questão do desenvolvimento sustentável. Por isso, agradeço aos servidores do Inpa e, também, aos meus colegas e parceiros de outras instituições”, diz.
Noda diz que pautou suas pesquisas nos princípios de comprometimento, seriedade e generosidade defendidos pelo professor Warwick Estevam Kerr, diretor do Inpa em duas oportunidades: na segunda metade da década de 70 e no início da década de 2000.
Criado em 1955, o Prêmio Fundação Bunge é uma forma de reconhecimento para incentivar a inovação e a disseminação do conhecimento sendo concedido anualmente a personalidades de destaque em diversos ramos das Ciências, Letras e Artes em duas categorias: Vida e Obra e Juventude. Os candidatos não são inscritos, mas indicados por universidades e representantes de entidades científicas.
Atualmente, Noda é professor dos Programas de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido (PPG-ATU), do Inpa, e Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia (PPG-CASA), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Desafios da horticultura sustentável
De acordo com o pesquisador Hiroshi Noda, as hortaliças consumidas pela população amazônica podem ser classificadas em duas categorias: hortaliças convencionais e hortaliças não convencionais (a exemplo do cariru, taioba, vinagreira). As últimas, adaptadas para cultivo nos trópicos úmidos, são nutritivas, mas pouco consumidas por serem desconhecidas.
Por outro lado, as hortaliças convencionais são as mais conhecidas e consumidas. Algumas delas foram domesticadas no trópico úmido americano (batata-doce, cará, mandioca, macaxeira), que são geneticamente adaptadas ao cultivo na região amazônica. Outras foram domesticadas em regiões de clima temperado e, via de regra, não são geneticamente adaptadas para cultivo no ambiente amazônico.
Uma alternativa muito utilizada é a adaptação do ambiente de cultivo (cultivo protegido) e uso o de agrotóxico para controle de doenças e pragas. O tomateiro (Solanum lycopersicum) enquadra-se nesta categoria por tratar-se de uma espécie domesticada no México e originalmente adaptada para cultivo em regiões de clima temperado. “O cultivo de tomate nesta região é um desafio, porque as cultivares existentes no mercado não são adaptadas aos ambientes quentes e úmidos”, conta Noda.
O pesquisador ressalta que coube à pesquisa científica adaptar geneticamente essas espécies, de modo a superar as limitações ambientais que dificultam o cultivo. Um desses desafios é combater a bactéria Ralstonia solanecearum causadora da “murcha bacteriana”. “Esta bactéria faz parte da biodiversidade dos solos da região tropical úmida de baixa altitude. Portanto, temos que aprender a conviver com isso, incorporando resistência genética no tomateiro para que possa completar o ciclo vegetativo e reprodutivo sem contrair a doença”, revela Noda.
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