Pesquisadores discutem biosfera e interações de uso da terra na Amazônia
Evento apresentou capítulos de livro do LBA que tem previsão para ser lançado até o início de 2015. Publicação conta com a participação de várias instituições brasileiras e estrangeiras
Por Camila Leonel- Ascom Inpa
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e do Museu Goeldi apresentaram a pesquisadores e estudantes as contribuições para o livro “Biosphere, atmosphere and land use interactions in Amazonia” (Biosfera, atmosfera e interações de uso da terra na Amazônia). O lançamento está previsto para até o início de 2015.
No momento, a obra passa por uma fase de revisão dos capítulos. A obra será publicada pela editora alemã Springer e distribuída em instituições de ensino e pesquisa em diversas partes do mundo. Apresentação no Inpa aconteceu na última segunda-feira (30).
Serão produzidos cerca de 650 exemplares em língua inglesa. Com 21 capítulos, o foco são estudos que abordam a Amazônia em vários aspectos. Dos 21 capítulos, quatro foram escritos por pesquisadores do Inpa e outros cinco têm coautoria do lado do INPA. Autores estrangeiros também participaram da composição do livro. Uma versão online está prevista para o mesmo período de lançamento do livro impresso.
Os editores da obra são pesquisadores Laszlo Nagy (Gerente Científico LBA-INPA), Bruce Forsberg (INPA) e Paulo Artaxo (Instituto de Física/ USP). A obra reúne pesquisas realizadas pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), PDBFF, PPBio, vários INCTs, Rede Clima e pela rede pan-amazônica RAINFOR.
Segundo o gerente científico do LBA, Laszlo Nagy, o processo de composição do livro iniciou-se em 2011, logo após a sua chegada ao LBA. “Eu conversei com colegas no início e aí surgiu a ideia de fazer um livro didático. Nós entramos em contato com a editora e eles perguntaram se gostaríamos de fazer um livro para essa série (Ecological Studies) e a proposta do livro foi muito bem recebida”, disse. Ainda de acordo com o pesquisador, a proposta do LBA é importante pois esse livro faz uma integração entre vários programas do MCTI e entre várias instituições de pesquisa do país e reforça a relação entre pesquisa brasileira e estrangeira na Amazônia.
Entre os autores, está o pesquisador do Inpe, Luiz Aragão que escreveu o capítulo “ Fires in Amazônia”. Aragão trabalha com mudanças ambientais na Amazônia, principalmente estudando as mudanças no uso da terra, mudanças climáticas e na dinâmica de carbono da Floresta Amazônica. O pesquisador disse que já tem uma relação com o LBA desde o ano 2000, quando foi aluno de doutorado do projeto e destaca que importância dessa obra reflete o desenvolvimento da ciência no país.
“O LBA provavelmente foi o projeto mais bem-sucedido que ocorreu no país e foi um programa que conseguiu formar muitos pesquisadores, sendo um ponto de virada na ciência brasileira porque o Brasil conseguiu colaborar de uma forma muito intensiva com instituições estrangeiras e formar profissionais de alto nível. Então, o livro é importante nesse ponto, porque ele traz todo o histórico do desenvolvimento das tecnologias, da instrumentação e da capacitação técnico-científico. Ele traz esse histórico e demonstra como essa iniciativa ajuda a gente a entender o ecossistema terrestre, amazônico para tornar o uso da floresta mais sustentável”, disse Aragão.
Outra característica do livro é a multidisciplinaridade dos temas discutidos. Para Érika Schloemp, que faz parte do LBA, o projeto não estuda apenas um tema. “As pessoas pensam que LBA é só clima, é só torre, mas não é bem assim”, lembra.
Uso da terra e dimensões humanas
Além de abordar temas relacionados com biosfera, o livro também discute usos da terra e dimensões humanas. No capítulo publicado pela pesquisadora do Museu Emílio Goeldi, Ima Vieira, em coautoria com Peter Toledo e Roberto Araújo, são discutidas as transformações da paisagem amazônica a partir de modelos de desenvolvimento contrastantes como o "desenvolvimentismo" e o "socioambientalismo".
“O nosso capítulo discute a ideia de que diferentes tipos de paisagens, que chamamos de 'new nature’, que são paisagens novas, criadas pela transformação da floresta para agropecuária e a paisagem de natureza social, influenciada pelo paradigma socioambiental, onde destacam-se as RESEX, terras indígenas, etc. Então, fazemos um balanço entre esses dois modelos desenvolvimento, em termos de impacto, de questões ligadas às transformações ecológicas e sociais”, explicou Vieira.
Segundo a pesquisadora do Goeldi, os caminhos para o desenvolvimento sustentável na Amazônia devem levar em consideração a complexa história da ocupação da região, o contexto socioecológico dos principais atores produtivos e sua relação com o desmatamento e conservação.
Para Vieira, a obra é muito importante para a divulgação das pesquisas que vêm sendo realizadas na região. Segundo ela, a publicação organizada é o “exemplo de um livro de caráter didático que vai ser muito útil para os estudantes de pós-graduação e que conta com autores brasileiros e estrangeiros que divulgam informações atuais sobre a região amazônica. Não se discute apenas ecologia, mas inclui-se a dimensão humana nessas discussões sobre as transformações que a Amazônia sofre hoje”, destacou.
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