Botânico e parataxonomista do Inpa são homenageados pela Fapeam
O botânico e ecologista professor Prance e o parataxonomista (mateiro) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), José Ramos, receberam Menção Honrosa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)
Por Luciete Pedrosa
“Há 50 anos, quando cheguei por aqui, nunca pensei em desmatamento. Na década de 70, quando começou a Transamazônica, fiquei triste porque a floresta amazônica é tão importante para o Brasil e para o mundo. Vamos aproveitar a floresta sem derrubá-la”, declarou o pesquisador e fundador da Botânica no Amazonas Ghillean Prance durante homenagem prestada a ele, por sua dedicação a serviço da Ciência, e ao senhor José Ramos, seu primeiro mateiro pela região amazônica.
O botânico e ecologista professor Prance e o parataxonomista (mateiro) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), José Ramos, receberam uma Menção Honrosa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), nessa quarta-feira (4), no auditório do Bosque da Ciência do Inpa.
Com uma vida dedicada à pesquisa e com mais de 50 anos de carreira, o doutor Prance, durante suas 16 excursões botânicas que fez à Amazônia, coletou mais de 30 mil amostras de plantas, das quais ao menos 400 delas eram espécies novas. Ele foi o primeiro coordenador do primeiro curso de pós-graduação em Botânica, na Amazônia, em 1973, durante a administração do então diretor do Inpa, Paulo de Almeida Machado.
O parataxonomista José Ramos também foi homenageado pela Fapeam pelo reconhecimento ao esforço desprendido nesses 40 anos de serviço em prol da coleta e identificação de mais de 30 mil espécies de plantas no Herbário do Inpa, o que equivale a 12% do acervo geral.
José Ramos, que ainda está na ativa, no Herbário do Inpa, contou que foi pego de surpresa com essa homenagem pelo seu trabalho desenvolvido ao lado do pesquisador Prance. “Para mim foi uma surpresa receber essa homenagem. Sem o mateiro o pesquisador não faz nada e fica como uma pessoa perdida na mata”, disse Ramos com quem concordou o pesquisador britânico: “Isso é verdade”.
Pioneirismo
O pesquisador Prance chegou ao Brasil, em julho de 64, numa excursão entre Belém e Brasília. Segundo o botânico, nas suas idas e vindas ao Brasil, morava três anos no Campus do Inpa e voltava. “É muito bom estar de volta ao Amazonas porque fiz muitos amigos por aqui. Tenho uma grande honra em receber essa homenagem num país estrangeiro, e como fiz muitas pesquisas, aqui no Brasil, humildemente, agradeço ao Inpa e ao Brasil por esse reconhecimento”, disse o pesquisador.
Segundo ele, que já coletou mais de 30 mil amostras de inventários de floresta amazônica, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas em locais que nem têm botânicos. “Ainda há muito a se fazer. Eu coletei plantas, mas é preciso coletar fungos, também, porque são bem menos conhecidos do que as plantas superiores (árvores com folhas e galhos)”, revela.
O pesquisador Prance conta que conheceu José Ramos quando este tinha 17 anos e foi seu primeiro mateiro pelas matas da Amazônia, acompanhando-o durante sua segunda excursão, no Brasil, em 1966. Os dois trabalharam juntos durante 20 anos. “Para mim ele é um botânico, embora não tenha graduação, mas conhece muito mais do que um botânico formado. Ele é um especialista em Botânica”, contou Prance.
Parceria
Para o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alexander Ellis, é uma honra que o Amazonas reconheça um grande britânico como o doutor Prance, fundador da Botânica no Amazonas. “Um estrangeiro, mas brasileiro de coração, que passou 50 anos, aqui no Amazonas, estudando, pesquisando e trabalhando com brasileiros para entender melhor a verdade sobre a selva amazônica”, disse.
O embaixador revela que existe a possibilidade de que sejam firmados grandes projetos com a realização do workshop Brasil-Reino Unido, que iniciou no último dia 3, no Inpa, e encerra-se nesta sexta-feira (6). “Tenho esperança de que sejam criadas mais cooperações na área de bioeconomia entre Reino Unido e o Brasil”, contou Ellis.
Segundo ele, os dois países são grandes parceiros em termos de pesquisa e Ciência e há o desejo de alargar essa parceria. “Por isso estou aqui, como embaixador do Reino Unido, para facilitar os contatos entre os pesquisadores, como os do Ciências Sem Fronteiras (CSF), que já têm ligação com o Kew Gardens e, também, entre as empresas, pois já temos alguns investimentos britânicos aqui em Manaus e queremos aumentar essa parceria”, revela.
A melhor
O embaixador conta, ainda, que a parceria científica entre Brasil e Reino Unido é uma das melhores parceiras que os britânicos realizaram. “Quando um brasileiro publica um artigo internacional a repercussão é muito grande, por isso acabamos de lançar um novo fundo de pesquisa entre o Brasil e Reino Unido, o Fundo Newton, com o objetivo de juntar mais pesquisadores em programas conjuntos e em áreas como a biodiversidade”.
Alexander Ellis cita como exemplo a área de mudanças climáticas a qual é essencial entender o que está acontecendo no Brasil e no Reino Unido, e para isso há um forte desejo de universidades britânicas em trabalhar no Amazonas e em outras partes do Brasil. “Temos muito interesse em fazer mais por aqui. Temos uma longa história entre Reino Unido e Manaus, e queremos reanimar essa parceria para o futuro pensando não só na história, como o Porto de Manaus que foi construído pelos ingleses, mas em novas formas de trabalho em conjunto”, explica.
Para o embaixador, o principal desafio, agora, é manter o ritmo desses contatos e ver como podem ser aproveitados os bolsistas do CSF, que já levou mais de 10 mil brasileiros para intercâmbio no Reino Unido. “Precisamos ver como podemos trabalhar com esses bolsistas, no futuro, seja no lado comercial, ou no lado científico”, finaliza.
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