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Convênios lançam projeto que testa reação da floresta a excesso de CO2

  • Publicado: Quarta, 14 de Maio de 2014, 20h00
  • Última atualização em Terça, 14 de Abril de 2015, 11h12

 

Convênios lançam projeto que testa reação da floresta a excesso de CO2

O ministro Campolina assinou com BID e Fapeam acordos do Amazon Face, que submeterá áreas na Amazônia a concentrações elevadas de gás carbônico para investigar a reação do ecossistema. A implantação do projeto será em estação experimental do Inpa

Por Pedro Biondi – Ascom do MCTI

Foto da chamada: Augusto Coelho/ MCTI

A assinatura de dois convênios lançou oficialmente na última quarta-feira (14) o projeto Amazon Face, que submeterá áreas de floresta amazônica a concentrações elevadas de gás carbônico para ver como a vegetação e o ecossistema reagem. Um dos acordos foi estabelecido entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e o outro, entre a pasta federal e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). O ministro Clélio Campolina Diniz e o secretário Carlos Nobre participaram da cerimônia, em Brasília, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI).

O experimento será implementado em uma floresta de platô na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, localizada cerca de 60 quilômetros (km) ao norte de Manaus e administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI).

A simulação vai aumentar em 50% a concentração do gás (o CO2 também é conhecido como dióxido de carbono), que assim chegará a 600 partes por milhão (ppm), em parcelas de mata de 30 metros de diâmetro. O objetivo é ver até que ponto a fertilização pela oferta extra do gás – usado pelas plantas para fazer fotossíntese – aumenta a resiliência da floresta, compensando fatores adversos como o aquecimento e alterações no regime de chuvas.

“Falar do Amazon Face é, de certa forma, falar da importância da Amazônia para o Brasil e para o mundo”, destacou o engenheiro florestal e pesquisador do Inpa, Carlos Alberto Quesada, um dos coordenadores científicos do experimento. “É talvez a maior biodiversidade do planeta, um importante componente dos ciclos de carbono – está ali um estoque de 90 bilhões de toneladas – e dos ciclos hidrológicos, uma bacia que aporta importante quantidade de água doce aos oceanos”. O pesquisador lembrou que as mudanças no clima colocam em risco todos esses processos funcionais e a vida de cerca de 25 milhões de pessoas que habitam a região, considerando apenas a porção brasileira do bioma. 

Quesada observou que tem sido observado um aumento da biomassa em áreas monitoradas nos últimos 30 anos, e que uma das hipóteses é que o fenômeno se deva à fertilização por CO2. A concentração desse gás – considerado o principal agravador do efeito estufa – segue aumentando na atmosfera, e as projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) são de que essa tendência não vai se reverter até o fim do século.   

Outro coordenador, o ecólogo David Lapola, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), comentou que, considerados apenas os efeitos indiretos – aumento na temperatura e perturbação do ciclo de chuvas –, os modelos atuais preveem o avanço de áreas de savana e de floresta seca. “Mas isso é em grande parte especulativo para os trópicos. A gente não tem nenhum conhecimento empírico sobre esse efeito”, pontuou.

A primeira fase do projeto, com 2017 como horizonte e aplicada em duas parcelas de mata, está orçada em US$ 11 milhões. A segunda, que se estenderia por dez anos, em US$ 78 milhões. “É um projeto caro? Sim. Mas quanto vale saber mais sobre o futuro da Amazônia? Saber se está desenhado um cenário de sustentabilidade ou de catástrofe?”, questionou Lapola.  Ele citou a ocorrência mais frequente de incêndios, quebras na agricultura e dificuldades em obras de infraestrutura planejadas para a região. “Os problemas não ficam restritos à Bacia Amazônica,  têm consequências regionais ou globais”, alertou.

Desenvolvimento sustentável

O ministro Clelio Campolina Diniz destacou a importância geopolítica de pensar a região amazônica. “Eu e a geógrafa Bertha Becker sempre discutíamos a necessidade de uma revolução tecnológica para o desenvolvimento da região. Comentávamos que pela pata do boi e pelo trator não era o caminho adequado para o conjunto. Só com educação, ciência e tecnologia se terá um bom caminho para o desenvolvimento sustentável da região”, destacou.

O titular do MCTI contou ter recebido representantes de universidades pedindo a fixação de doutores na Região Norte, e pontuado que essa pauta tem que se conectar aos sistemas regionais de pesquisas e industrial. Sobre o Amazon Face, Campolina disse esperar que a iniciativa gere “filhotes” e que, cumpridos os objetivos, o esforço de conhecimento se articule aos outros países amazônicos.  

Para o secretário de Políticas e Programas de Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, trata-se de um empreendimento científico de escala comparável a qualquer outro no mundo. “Os resultados vão nos ajudar a encontrar trajetórias de sustentabilidade para o planeta”, afirmou.

Nobre ressaltou a presença de pesquisadores de diversos países no corpo do projeto, e, ao mesmo tempo, a presença de instituições da Região Norte como referências. “Tenho sempre defendido que a ciência amazônica tem que ter âncoras muito fortes, até principais, na região”, argumentou. Sobre os passos futuros, ele comentou: “Precisamos de muito mais parceiros e certamente os teremos”.

O diretor do Inpa, Adalberto Val, chamou atenção para a importância do bioma amazônico. “É a região pivotal para o desenvolvimento da América Latina”, opinou, avaliando que os países do bioma compartilham tanto as riquezas os desafios a superar.

Val lembrou o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA, na sigla em inglês) como um marco e disse esperar que o Amazon Face, de forma semelhante, contribua para fixar cientistas na região. Ele defendeu que o projeto se oriente pela interdisciplinaridade e vá além do viés da fisiologia vegetal, abrangendo as perspectivas ecológica, sociológica e antropológica.

Baixo carbono

Também a representante do BID no Brasil, Daniela Carrera Marquis, sublinhou o caráter integrador da região amazônica no contexto latino-americano. Ela contou que a instituição vem apoiando diversas propostas ligadas a crescimento e baixo carbono no território brasileiro.

O presidente do CNPq, Glaucius Oliva, apontou contribuições da ciência para o desenvolvimento social no país. A seu ver, o projeto é “um investimento na saúde do planeta inteiro”.

A contribuição na área de recursos humanos foi enfatizada pela presidenta da Fapeam, Maria Olívia Simão. Ela avaliou que os desafios postos exigem maior convergência, interação entre os órgãos de fomento à ciência e a busca de projetos estratégicos de alcance panamazônico.

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