Nota de Pesar - João Alves Coelho
Vivemos tempos difíceis e mais um colega do Inpa partiu, em decorrência de complicações da Covid-19. Aposentado há poucos anos, João Alves Coelho, faleceu nesta semana, apesar de já estar no aconchego do seu lar recuperando-se das complicações da doença. Motorista dedicado, com mais de 30 anos de atuação no Instituto, João Coelho percorreu muito chão dessa Amazônia, acompanhando diversas equipes de pesquisas em excursões e expedições.
Condutor, parceiro, proativo, alegre e um cara bem ‘esperto’, como pode ser observado na mensagem do Dr. Bruce Nelson, João Coelho carregava nas veias o gosto pela mata. Ele era sobrinho dos irmãos Luiz e Dionízio Coelho “botânicos práticos pioneiros e grandes conhecedores da flora Amazônica”, ambos falecidos. João Coelho também gostava de música, e nas comemorações com os colegas atuava até como D.J., sem contar a paixão pela Marujada de Guerra (Caprichoso), onde o esposo, pai e avó ‘bateu palminhas, brincou e mostrou o melhor ritmo do Festival’.
João Coelho e tantos outros colegas e parceiros do Inpa que partiram, vamos levar um tempo para processar e elaborar uma nova forma de ver e lidar com essa realidade, pois uma parte de quem nós somos como pessoas e organização foi com vocês. Mas, com a solidariedade de todos, vamos construir uma nova história, sem esquecer da contribuição dos que passaram. A cada um, a nossa gratidão, e desejos para que na nova morada vocês tenham o descanso eterno. A todos os familiares, amigos e colegas, as nossas sinceras condolências.
Homenagem ao Sr. João Coelho
“Sobrinho dos irmãos Luiz e Dionísio Coelho, botânicos práticos pioneiros e grandes conhecedores da flora Amazônica. Descendente, também, de um guarda-fio em Rondônia, responsável por manter funcionando um longo trecho da linha de telégrafo do Coronel Rondon. Esse era João Coelho, motorista e muito mais que motorista, como manda sua tradição familiar. Nos anos de 1980, o Projeto Flora fez sessenta excursões de coleta para o herbário. Foram seis, oito semanas no campo, cada uma. Invariavelmente, quem conduziu, garantiu a chegada, foi Joãozinho Coelho. Nas chuvas de abril de 1983, com Iêda Amaral, João arrastou uma kombi pelos atoleiros da BR-163, entre Santarém e a Serra do Cachimbo. Com caminhões atolados bloqueando a passagem, havia noites em que o jeito era dormir na beira da estrada, na roupa enlameada. Chegaram e fizeram as coletas na Serra.
João era grande camarada de viagem. Topava. Procurava o que fazer. Tirava e montava as prensas, tarefa chata, mas que fluía com suas histórias. Uma vez levou a camionete Toyota para Porto Velho; cinco dias de balsa. Ao chegar, subiu a rampa e seguiu pelo longo ramal escuro do porto das balsas. Um carro lotado de homens fez sinal de encostar. Eram falsos policiais armados. Teriam levado a camionete e talvez vida de João. Ao perceber a trama, João jogou a chave do carro no mato escuro e correu. Astúcia que salvou a si, o veículo e a excursão.
João ficou até o ano passado no INPA. Completou a carreira, cumpriu a missão. Agora toma seu lugar, cedo demais, ao lado dos ilustres tios Luiz e Dionísio.” Dr. Bruce Nelson, pesquisador do Inpa.
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