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Estudo inédito ajuda a desvendar espetacular diversidade de peixes da bacia amazônica

  • Publicado: Sexta, 13 de Setembro de 2019, 12h37
  • Última atualização em Quarta, 06 de Novembro de 2019, 11h43

peixesAcervoINPA

 

Pesquisa publicada na revista Science Advances foi desenvolvida por cientistas de oito países, incluindo o pesquisador do Inpa Jansen Zuanon

Da Redação – Inpa

Fotos: Gislene Torrente-Vilara  

                                             

Um trabalho colaborativo de cientistas de várias partes do mundo permitiu construir o mais completo banco de dados já reunido sobre a espetacular diversidade de peixes amazônicos. Estudos realizados a partir dessas informações sugerem que o principal centro de diversidade de peixes da bacia amazônica estava localizado na porção mais a oeste da bacia – onde hoje se situam os territórios da Colômbia e Peru.

Por outro lado, o estudo revelou uma tendência de redução na riqueza de espécies no sentido cabeceiras-foz, ao contrário das previsões de aumento da riqueza em locais que ficam mais rio abaixo ao longo do gradiente fluvial (o aumento progressivo dos corpos d’água ao longo de uma bacia, desde os pequenos igarapés de cabeceiras até a foz do rio).

Liderado pelo pesquisador francês Thierry Oberdorff, o estudo “Unexpected fish diversity gradients in the Amazon Basin" (Gradientes inesperados de diversidade de peixes na Bacia Amazônica) publicado na quarta-feira (11) na revista Science Advances conta com a colaboração de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e de outras instituições do Brasil e do mundo.

Os autores do artigo sugerem que a redução na diversidade de peixes no sentido cabeceiras-foz pode estar ligada à história da rede de drenagem da Amazônia. Eles entendem que após um longo período de isolamento como duas grandes bacias a oeste e leste durante o período Mioceno (entre 23 e 5 milhões de anos atrás), a formação das montanhas andinas na parte oeste fez com que os principais rios da bacia começassem a fluir para o leste, formandoa Bacia Amazônica como conhecemos hoje. Os cientistas acreditam que rio Amazonas assumiu seu curso moderno em direção ao Atlântico em algum período entre 9 e 4,5 milhões de anos atrás.

 

INPA Jansen Zuanon Gislene Torrente Viana

 

“Esse processo de dispersão dos peixes para o leste parece ainda não ter sido completado, o que apóia a hipótese de uma formação recente do atual sistema amazônico. Na prática, isso significa que as partes mais rio abaixo da Bacia Amazônica ainda poderiam ser colonizadas por espécies que hoje ocorrem apenas nas regiões mais distantes da foz”, explicou o pesquisador do Inpa e um dos autores do artigo, o doutor em ecologia Jansen Zuanon.

De acordo com Zuanon, modelos estatísticos revelaram que a diversidade de peixes encontrada atualmente nas sub-bacias da Amazônia foi significativamente influenciada pelas condições climáticas do passado e do presente, tamanho e produtividade biológica das sub-bacias. Assim, as sub-bacias maiores, com maior diversidade de habitats e produtividade biológica e localizadas em partes da Amazônia que sofreram pouca variação climática ao longo do tempo evolutivo abrigam maior riqueza de espécies.

Banco de Dados

O banco de dados de ocorrência de peixes é formado por informações obtidas de mais de 100 coleções, 22.000 localidades de coleta, 305.000 registros de ocorrência e 2.257 espécies. A partir dele, pesquisadores da França, Bélgica, Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia e Estados Unidos, ligados ao Projeto AmazonFish avaliaram a importância de fatores ecológicos e históricos nos padrões de diversidade das sub-bacias de drenagem em toda a Bacia Amazônica.

Para Zuanon, um dos pesquisadores que mais entendem de peixes amazônicos no mundo, esses resultados são importantes por revelarem informações sobre um aspecto pouco compreendido a respeito da biodiversidade amazônica, que são os processos ecológicos e históricos que geraram e mantêm essa “fabulosa biodiversidade” de peixes.

“Conhecendo melhor esses processos, será possível refinar nossas estratégias para conservar essa biodiversidade e prever com mais precisão os possíveis impactos decorrentes das alterações ambientais que vêm ocorrendo na Amazônia, seja pela ação direta humana (desmatamentos, queimadas, uso desordenado dos recursos naturais, construção de hidrelétricas, avanço da poluição e degradação de habitats), seja por efeito das mudanças climáticas em curso no planeta”.

Saiba Mais

A bacia amazônica cobre mais de 6 milhões quilômetros quadrados, produz aproximadamente 16% da descarga de água doce do mundo e contém a maior biodiversidade de água doce da Terra. Para os peixes, isso também é verdadeiro. Na região há 2.257 espécies reconhecidas - mais da metade (1.248 espécies) são endêmicas, encontradas em nenhum outro lugar da Terra - e representam aproximadamente 15% dos peixes de água doce do mundo (www.amazon-fish.com).

Projeto AmazonFish

 

INPA Jansen Zuanon Foto Gislene Torrente Viana

 

Montar o banco de dados de ocorrência de peixes amazônicos foi o primeiro passo para que os pesquisadores pudessem desvendar os padrões de distribuição de peixes na escala da Bacia Amazônica, de forma a contribuir para um melhor entendimento dos fatores que geraram e mantêm a megadiversidade de peixes no bioma.

Para elaborar o banco de dados, foram acessadas informações publicadas na literatura, registros de exemplares de peixes depositados em museus e coleções científicas de todo o mundo, e bancos de dados pessoais de pesquisadores. Todos esses registros passaram por um processo cuidadoso de “limpeza”, que é a correção de informações, atualização taxonômica, checagem de distribuição geográfica e descarte de informações imprecisas ou pouco confiáveis.

Após essa fase muito trabalhosa, os dados foram analisados por meio de métodos estatísticos sofisticados e passaram pelo crivo de revisores muito competentes e exigentes, até chegar a essa publicação do artigo.

O banco de dados em breve estará disponível para consulta pela comunidade científica. Para Zuanon, se bem mantido e atualizado constantemente, será uma ferramenta muito útil e poderosa para subsidiar novas pesquisas sobre a ictiofauna amazônica e sobre a ecologia de ambientes aquáticos no bioma, por muitos anos ainda.

 

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