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Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos debate Ciência e Literatura com Moacyr Medri

  • Publicado: Quinta, 23 de Maio de 2019, 15h35
  • Última atualização em Quinta, 23 de Maio de 2019, 16h09

Na palestra, Medri destaca a sua satisfação íntima de escrever e ressalta a importância da escrita como um legado de gratidão para as futuras gerações

 

Da Redação – Geea/Inpa

Fotos: Wérica Lima - Inpa

 

O Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Geea/Inpa/MCTIC) realizou na quarta-feira (22), a sua 60ª Reunião, com o tema Ciência & Literatura: conexão possível, talvez necessária. O palestrante foi o professor, pesquisador, gestor e agora escritor Moacyr Eurípedes Medri, mestre e doutor pelo curso de Botânica do Inpa, e aposentado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

 

Antes atuando na Ciência por compromisso e agora na Literatura por divertimento, Moacyr tece palavras para construir estórias de casos com base em entes reais e imaginários, grande parte deles trazidos pela cultura folclórica dos seus ascendentes italianos que se deslocaram para o Brasil no século passado e colonizaram o interior do Paraná, terra onde sempre viveu.

 

Medri apresentou suas obras, publicadas nos últimos oito anos, incluindo Da Dor da Terra (2010); Cheiro de Chuva (2013); Travessia – a felicidade não mora ao lado (2015) e Pedras, Paus & Pétalas (2019). Alguns contos desses livros já se transformaram em peças de teatro, como “Quem conta um conto aumenta um ponto” e “Tempo de Travessia”, ambas apoiadas pelo Programa de Incentivo à Cultura do Município de Londrina. Com tais instrumentos e sendo um educador nato, Medri visa não somente a promoção da arte literária, mas, sobretudo a formação de valores éticos, a educação integral e a cidadania plena.

 

Na palestra, Medri traça um panorama geral de sua trajetória, com foco em sua fase de criança vivida no interior do Paraná e profundamente influenciada por seres mitológicos que serviram para provocar seus medos e testar sua coragem de enfrentamento; curiosamente, muitos desses seres e desses relatos se encontram nas personagens de seus contos, agora em forma de livros e peças teatrais.

 

Ele também narrou a convivência que teve com uma família de caboclo que o acolheu em sua residência no Lago Janauacá, durante as coletas de campo para suas pesquisas botânicas; enaltece a coragem e generosidade dessa família, a qual representa muito bem o povo humilde do interior da Amazônia e faz de seu conto um belo tributo de gratidão a ele.

 

Comparações

 

Comparando o que pensa acerca da relação entre Ciência e Literatura com alguns pensadores clássicos, Medri destaca que a delimitação entre ambas sempre foi uma questão essencialmente filosófica, até hoje não bem resolvida e merecedora de toda a atenção. Como exemplo, ele indaga se uma partitura musical pode ser considerada como peça científica, já que essa é determinada por parâmetros matemáticos e arranjos ordenados de sons. Ele detalha que um violão é feito de madeira, cordas, travas, cravos e produz sonoridades acústicas que podem ser medidas, quantificadas, repetidas quantas vezes precisar e serem gravadas, transformadas em números, tabelas e dados estatísticos.

 

De mesma maneira didática e comparativa, ele toma como exemplo o perfil fonográfico do canto do sabiá, estudado em Ciências biológicas e o perfil fonográfico do canto de Mozart, estudado na Música; daí, ele indaga o porquê deles serem tratados em setores tão distintos do conhecimento humano, uma vez que tem tantos elementos em comum e tratam da mesma natureza do som.

 

Medri relembra a importância do Renascimento como momento propulsor da Ciência e cita algumas figuras geniais que souberam combinar Ciência e Arte, dando exemplo de Leonardo da Vinci (pintor, escultor, engenheiro, cientista e inventor); Isaac Newton (matemático, físico, astrônomo, alquimista, teólogo e filósofo natural) e Galileu Galilei (matemático, astrônomo, filósofo e personalidade fundamental na revolução científica).

 

Também relembra alguns pensadores modernos que tratam da relação entre Ciência e Literatura, mencionando o romancista inglês Charles Percy Snow que mostrou o abismo cavado pela ignorância e dogmatismo e que resultou na separação artificial entre ciências “duras” e ciências “humanas”. Também relembrou Paulo Emílio Vanzolini, professor de pós-graduação no Inpa e que foi ao mesmo tempo zoólogo e sambista, autor de canções imortais como "Ronda", "Volta por Cima", "Na Boca da Noite", bem como o do livro “Lira”. Para Medri, a conciliação entre Ciência e Literatura é possível e desejável, quando se tem em vista a promoção do ser humano e o conhecimento pleno.

 

Medri destaca a importância de escrever aquilo que se viveu e que se conhece; diz que escreve por satisfação íntima, mas que a escrita é também um legado de gratidão que se deixa para as futuras gerações. Para ele, a Literatura serve exatamente para isso e deve ser utilizada por todos os amantes das letras, inclusive os cientistas. Conclama seus colegas cientistas a fazerem o mesmo, a deixarem seu legado às futuras gerações.

 

Diálogo e aproximação

 

De maneira prática, Medri chama a atenção para a necessidade de haver maior diálogo e aproximação entre aquilo que é denominado ciência e não-ciência; que os aspectos históricos precisam ser levados em conta porque a Ciência e a Literatura, assim como as artes em geral, são processos sociais humanos; que é preciso descobrir as principais convergências entre os estudos literários e a prática científica para derrubar muros e dogmas estabelecidos.

 

Ele conclui sua palestra deixando um recado, com base em sua experiência e em combinação com aquilo deixado por eminentes pensadores que trataram da relação entre Ciência e Literatura. “Numa visão naturalista dos métodos científicos, não bastam números, tabelas e tratamentos estatísticos; há que, também, considerar observações sobre o mundo, sobre nós mesmos, porque somos um emaranhado formado por anseios, emoções, vieses e limitações”, diz Medri.

 

Ao final, Medri revela algo a respeito do processo criativo, deixando com isso um recado aos jovens que pretendem se arriscar no mundo das letras. “Eu sou um contador de histórias; sempre que uma história vem até mim, eu procuro colocá-la no papel; depois vem o trabalho de lapidar o texto; dar forma, maturar; fazer com que fique pronto para o leitor. Escrever é um processo. Mas, para começar, é preciso perder o medo e colocar o pensamento no papel”.

 

Após a exposição, Medri recebe depoimentos emotivos da diretora do Inpa Antonia Franco, dos seus colegas da época da posgraduação e de admiradores de sua obra, de sua trajetória e de seu exemplo.

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