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Inpa e Ufam desenvolvem corante natural para o diagnóstico da Tuberculose

  • Publicado: Domingo, 23 de Fevereiro de 2014, 20h00
  • Última atualização em Segunda, 13 de Abril de 2015, 11h40

 

Para os pesquisadores, o importante agora é conseguir que essa nova tecnologia alcance o interesse das empresas e de órgãos ligados à saúde para que seja efetivada em favor da sociedade

Por Luciete Pedrosa

O diagnóstico da tuberculose é feito por meio da técnica de baciloscopia que analisa o escarro do paciente. Na técnica são utilizados corantes sintéticos (a carbolfucsina) e reagentes para detectarem a presença de micróbios causadores da doença. No entanto, os corantes utilizados no diagnóstico são indutores de desenvolvimento de câncer ou tóxicos à saúde do homem e ao meio ambiente.

Preocupados em eliminar esses riscos, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolveram nova técnica de coloração que substitui a carbolfucsina por uma substância natural encontrada em plantas da Amazônia ou microrganismos da natureza - os nomes são mantidos em sigilo por questões de segurança -. O resultado da pesquisa gerou o pedido de duas patentes, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), em 2013.

A Tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa (passa de uma pessoa para outra) causada pelo micróbio Mycobacterium tuberculosis, conhecido como bacilo de Koch (por causa do seu descobridor Robert Koch). A doença atinge principalmente os pulmões, mas pode atingir outras partes do nosso corpo, como gânglios, rins, ossos, intestinos e meninges. 

“Após 130 anos, utilizando-se a mesma técnica (a baciloscopia) para diagnosticar a tuberculose e sabendo-se que os corantes e reagentes utilizados são cancerígenos (indutoras ao desenvolvimento de câncer) ou tóxicos para o homem e para o meio ambiente, surgiu a ideia de substituir os corantes sintéticos por uma substância natural presente em plantas ou microrganismos da natureza”, explica a pesquisadora do Inpa, médica e doutora em Ciências (Microbiologia) Julia Ignez Salem. 

Pesquisa e resultados

Desde 1995, o Laboratório de Micobacteriologia do Inpa executa atividades à procura de novos fármacos e corantes para uso no combate à Tuberculose. Para isso, conta com vários parceiros, entre eles a Ufam.

A pesquisa teve início em 2007 pela médica e professora do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Ufam, Luciana Fujimoto, para a obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (Ufam). A pesquisa foi coordenada e orientada pela pesquisadora Julia Ignez Salem (Inpa) e por Valdir F. Veiga Junior (Ufam) como coorientador e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

De acordo com a pesquisadora da Ufam, a médica e doutora em Biotecnologia Luciana Botinelly Mendonça Fujimoto, a taxa de incidência de Tuberculoseno Amazonas é uma das maiores do país, oscilando entre 70 e 90 casos por 100 mil habitantes. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a incidência da doença é de 36 casos por 100 milhabitantes. Segundo ela, para o decréscimo desta taxa é preciso diagnosticar e tratar os doentes para que ocorra a quebra na cadeia de transmissão da doença.

Os resultados obtidos, após dois anos de pesquisa, comprovaram que a nova técnica de coloração é mais eficaz no diagnóstico da doença do que a baciloscopia realizada com a coloração de Zielh-Neelsen - pesquisadores que elaboraram, em 1883, a partir do corante fucsina, a solução de carbolfucsina que corava o Mycobacterium tuberculosis -. Por esse motivo, o sucesso alcançado possibilitou os pedidos de patente junto ao Inpi.

O pesquisador e professor do Departamento de Química da Ufam, Valdir F. Veiga Junior, comenta alguns motivos que levaram a união de esforços entre a universidade e o Inpa na realização da pesquisa. “Quando se trabalha com os fascinantes universos dos microrganismos e das plantas, continuamente, vemos as imensas possibilidades de suas utilizações em prol da saúde humana. Foi o que aconteceu nessa pesquisa. Tínhamos o conhecimento da necessidade de substituir corantes sintéticos por naturais”, diz.

Segundo a pesquisadora Julia Ignez Salem, desde 1880, quando surgiram as primeiras demandas por corantes para uso em colorações biológicas, na Alemanha, não havia a preocupação com o meio ambiente ou com a saúde daqueles que manipulavam essas fórmulas.

De acordo com a pesquisadora Luciana Fujimoto, dentre os mais de 400 relatos de novas substâncias, foram selecionadas 18 com possibilidades de oferecer o que se pretendia – corar o M. tuberculosis. Foram realizados testes com diferentes concentrações de cada uma das 18 substâncias selecionadas. Mais de 2 mil lâminas microscópicas contendo esfregaços do M. tuberculosis foram analisadas.

Após quase dois anos de atividades, os pesquisadores tiveram a primeira alegria ao constatar que uma das 18 substâncias selecionadas tinha o potencial de corar de forma específica as espécies pertencentes ao gênero Mycobacterium, sendo o M. tuberculosis um deles.

No decorrer da pesquisa e somente com a substância que apresentou potencial, deu-se início às modificações na técnica de coloração para torná-la mais rápida, menos tóxica e perigosa para os profissionais que a manipulam e ao meio ambiente. Segundo Luciana, um dos passos mais importantes foi a exclusão do uso de fogo na fixação do corante, evitando-se assim a possibilidade de incêndios em laboratório.

Ela revela que somente após a total confirmação de eficácia da técnica e do corante é que realizaram os testes em amostras de pacientes com suspeita de serem portadores da Tuberculose.

Benefícios

Os pesquisadores afirmam que os benefícios e a importância de algo inovador na área de diagnóstico laboratorial das doenças humanas serão utilizadas em favor dos profissionais de saúde, sendo que serão, efetivamente, muito mais importantes para a sociedade e para o meio ambiente.

Para os profissionais de laboratório, a retirada de substâncias cancerígenas de procedimentos laboratoriais segue uma orientação internacional de boas práticas de laboratório. Para os pesquisadores, a substituição de substâncias nocivas por outras não tóxicas é de extrema importância para os profissionais que trabalham diariamente com as técnicas de diagnóstico.

Já o benefício para o meio ambiente será na facilidade do descarte de substâncias não tóxicas, visto que há falta de estações de tratamento de resíduos químicos na maioria das instituições públicas e privadas de diagnóstico e pesquisa.

A pesquisadora Luciana Fujimoto, considera que o pedido de patente é uma etapa de proteção dessa tecnologia. Para ela, o mais importante, agora, é conseguir que essa nova tecnologia alcance o interesse das empresas e do Ministério da Saúde e que essa inovação, desenvolvida em parceria com o Inpa e a Ufam, seja efetivada em favor da sociedade.

A coordenadora de Extensão e Inovação (CETI), Rosangela Bentes, explica que o Inpa é um instituto de excelência com resultados promissores, a partir de parcerias estratégicas, e com o compromisso de fazer sua proteção intelectual, resguardando seus resultados balizados nos princípios legais e éticos. “Apresentar tais resultados para a sociedade é uma de nossas missões, sobretudo, para atrair os interessados em desenvolver a pesquisa em escala industrial para então de fato levar o benefício social e promoção de novas pesquisas”, comenta.

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