PF e Inpa promovem Curso sobre Perícia em Tráfico de Animais Silvestres da Amazônia
A 2ª edição do curso é focada na identificação de animais da Amazônia. Inpa e Polícia Federal alinham minuta de Termo de Cooperação Técnico-Científica entre as instituições.
Veja a programação
Da Redação – Inpa
Fotos: Ingrydd Ramos
Na Amazônia, as apreensões de fauna silvestre são crescentes. A Superintendência Regional da Polícia Federal no Amazonas apreendeu somente neste ano mais de três toneladas de caça ilegal, além apreensão de centenas de animais terrestres e também lotes com milhares de peixes ornamentais no aeroporto de Manaus que seriam usados para abastecer o mercado ilegal. A informação é do perito criminal e organizador do 2º Curso de Perícia em Tráfico de Animais Silvestres – Identificação da Fauna Amazônica, Rodrigo Mayrink.
Promovido pelo Instituto Nacional de Criminalística, Academia Nacional de Polícia e Superintendência Regional no Amazonas, o curso teve início nesta segunda-feira (03) e segue até sexta-feira (07), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), correalizador da atividade. Com 64 anos de funcionamento, o Inpa é referencia mundial nos estudos da biodiversidade e dos ecossistemas amazônicos.
Projeto periódico iniciado há cinco anos, o curso sob o guarda-chuva do tema de animais silvestres aborda temas específicos que variam de acordo com a necessidade da PF. De acordo com Mayrink, esta edição veio para Manaus para abordar especificamente a identificação de fauna amazônica.
“A gente sentiu essa necessidade porque o número de apreensões nos estados da região amazônica vem crescendo muito. Então, há necessidade de capacitar nossos peritos na mesma proporção”, explicou Mayrink.
A maioria da caça ilegal foi apreendida pela PF no Amazonas na região de Tabatinga, na divisa do Peru com a Colômbia, e na Região Metropolitana de Manaus. Os principais são mamíferos, como macacos, veados e porcos-do-mato. Segundo o coordenador do curso, existe a cultura da caça nas comunidades tradicionais amazônicas, mas a PF foca no combate a caça ilegal para fins comerciais, que é uma atividade ilegal pela lei brasileira.
Convênio
Para superar limitações de várias ordens, as organizações buscam com mais intensidade parcerias para reforçar áreas de logística, fiscalização e conhecimento, como acontece com este curso. Além da estrutura, o Inpa disponibilizou pesquisadores para atuarem como palestrantes do curso e vai alinhar as tratativas de um Termo de Cooperação Técnico-Científica com a PF para que as parcerias pontuais ganhem coesão e efetividade entre os órgãos. A minuta está pronta.
“Esse Termo vai incluir intercâmbio de pesquisadores, de análises, de amostras de material apreendidas e principalmente o que está morto para ser incorporado às nossas coleções ou entrar como material para se fazer popularização da ciência”, destacou a diretora substituta do Inpa, Hillandia Brandão. “Quanto a material vivo precisamos ter cautela, porque nossos recursos são limitados”, completou.
Para a pesquisadora do Inpa e coordenadora do foco de pesquisa em biodiversidade Lúcia Rapp, a interação entre os órgão é muito importante. Para a pesquisadora da área de peixes, uma questão central no curso é saber o que a PF consegue apreender de tráfico de animais e o que de interesse da instituição pode ser internalizado no Inpa, já que pessoas que fazem tráfico conseguem pegar animais e em quantidade que os pesquisadores em seus esforços de coleta não conseguem. Para a pesquisa, um dos maiores problemas nesse tipo de material é a imprecisão localidade/lugar de onde o animal foi coletado.
“O pessoal do tráfico consegue pegar exemplares em quantidade. Nós conseguimos coletar um, dois bichos, às vezes. A parceria com o Ibama e a PF nos possibilita pegar lotes com centenas de exemplares, e com esse número maior podemos fazer estudos de biologia, genética, estudos mais detalhados para espécies e outros tipos de observações”, explicou Rapp.
A destinação dos animais apreendidos é um grande desafio para os órgãos ambientais brasileiros, por isso é importantíssima a parceria com instituições de pesquisa. Peixes apreendidos no aeroporto costumam ser destinados para estudos no Inpa, por meio de uma parceria com o Ibama, mas a ideia é ampliar para mamíferos, aves, répteis e outros grupos.
Biodiversidade Amazônica
Biodiversidade Amazônica
Na apresentação sobre Pesquisa científica em biodiversidade amazônica, a pesquisadora do Inpa Vera da Silva destacou o esforço que o Inpa e parceiros (Ampa, MPF e Petrobrás) fazem pela conservação dos mamíferos aquáticos da Amazônia, especialmente do boto-vermelho, que teve sua população reduzida drasticamente nos últimos anos em função da carne ser usada como isca na pesca da piracatinga. Esse bagre comercializado em forma de filé recebia até pouco tempo o nome de douradinha.
Estudos mostraram que algumas espécies de peixes de menor valor comercial como maparás, piranambu, mandube, mandi-moela, sierra cuca, usavam nome fantasia de douradinha ao serem comercializados em frigoríficos e supermercados de Manaus. Na verdade, o consumidor era enganado e 60% dos pacotes dos filés de peixes tinham piracatinga.
“Agora descobrimos também que o consumidor está comprando filé de surubim, que é caríssimo, mas levando para casa piracatinga”, revela Vera da Silva. “Se o filé de ‘surubim’ tiver 10, 15 centímetros de comprimento, o que é proibido por lei, desconfiem”, orienta da Silva.
Saiba mais
No Brasil, as aves, especialmente os passeriformes (pássaros de gaiola) são os grupo de animais mais traficado em quantitativo, mas é muito difícil medir a importância de um animal só pela quantidade traficada. Fatores como raridade, impacto ecológico ao se retirar os animais da natureza, estar em lista de animais ameaçados de extinção precisam ser levados em consideração. Por se tratar de uma atividade ilícita é difícil precisar o volume financeiro que o tráfico de animais movimenta, mas é tido como “monstruoso”.
Há pássaros de gaiola relativamente abundantes na natureza, que são vendidos ilegalmente em feiras livres a poucos reais *(10, 20, 50), que tem um valor financeiro pequeno, mas um grande volume de animais traficados, até bichos mais raros e caros que chegam a R$ 50 mil, R$ 80 mil, R$ 200 mil. “Para alguns tipos de animal o céu é o limite, depende da raridade dele e da vontade de um eventual comprador em obter o animal para coleção privada ou qualquer fim específico. O fato é que é atividade criminosa movimenta um vulto muito grande de dinheiro”, contou Mayrink.
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