Exposição no Inpa mostra pesquisa sobre mudanças climáticas na floresta amazônica
Durante dois meses, a exposição Amazônia e Mudanças Climáticas: um futuro em fotos, ilustrações e ciência ficará em cartaz no Paiol da Cultura. O espaço dentro do Bosque da Ciência recebe mostras artísticas que dialogam com a ciência que o Inpa produz
Por Cimone Barros – Comunicação Inpa
Fotos: Ingrydd Ramos - Inpa
Para quem conhece de perto a Amazônia sabe que o contato com a mata ou a floresta proporciona uma sensação de bem-estar, tranquilidade, alívio do estresse e das preocupações. E que tal vivenciar uma imersão na floresta amazônica, estando na área central de Manaus, por meio de experiências sensoriais?
Com fotos, ilustrações, painel com dados e imagens de concentração de gás carbônico captados por escâner a laser e uma diversidade de sons da floresta, uma exposição no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) mostra resultados de pesquisas do programa AmazonFACE sobre os efeitos das mudanças climáticas no futuro na floresta Amazônica. O AmazonFACE é um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) executado pelo Inpa.
Aberta na terça-feira (11), a exposição Amazônia e Mudanças Climáticas: um futuro em fotos, ilustrações e ciência segue até 11 de novembro, no Paiol da Cultura, dentro Bosque da Ciência do Inpa, localizado na rua Bem-te-vi, s/nº, Petrópolis. A curadoria é do artista suíço Marcus Maeder, da Universidade das Artes de Zurique. A portaria do bosque funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 16h, e sábado e domingo, das 9h às 16h.
“Aliar a ciência com a arte é uma tendência. E essa exposição do AmazonFACE que trata sobre mudanças climáticas chega num momento muito importante”, disse a diretora do Inpa, a pesquisadora Hillandia Brandão, destacando que há mais de 20 anos o Instituto desenvolve pesquisas de interação da atmosfera com mudanças na floresta.
Na aberturada exposição, Maeder fez uma apresentação dos sons que ele captou na floresta da água e seiva passando por dentro de galhos de árvores, troncos, raízes e também do processo de decomposição foliar no solo, além dos sons no ambiente de floresta. “Aqui temos sons de um ano atrás e da semana passada captados na ZF2, onde acontecem os experimentos do AmazonFACE, com microfones especiais instalados em diferentes profundidades e cujos sons captados são depois transformados em música”, explicou o artista.
Para o presidente do Comitê Científico do AmazonFACE, David Lapola, a ciência vive um momento crítico no Brasil e no mundo, um momento de certo descrédito, e em parte isso se deve à dificuldade que os pesquisadores encontram em comunicar seus resultados. “Precisamos nos esforçar um pouquinho mais para traduzir nossos estudos complexos ou não, para a população de forma geral, para que a importância da ciência fique mais clara para a população”, reconheceu Lapola, que é pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo Lapola, os efeitos das mudanças climáticas serão sentidos por toda a sociedade e isso não é problema só da ciência. “Num futuro, talvez bem próximo, vários setores socioeconômicos da região vão começar a sentir esses efeitos. Então, nada melhor do que abrir de forma paulatina esse assunto para a sociedade, sobre o que vai acontecer, para que as várias instâncias saibam tomar as decisões de como enfrentar o problema”, destacou.
Na exposição, o visitante encontrará cerca de 30 fotos (60 x 40cm) captadas pelas lentes do fotógrafo de natureza João Marcos Rosa, que tem fotolivros publicados, como o Harpia, e realizou trabalhos para revistas como a National Geographic. A exposição inclui ainda desenhos do ilustrador Rogério Lupo, profissional em ilustração botânica e de ecologia de paisagens.
“Temos a percepção de que o Paiol da Cultura é um espaço privilegiado que o Inpa tem dentro do Bosque da Ciência. E temos procurado trazer exposições e mostras artísticas que permitam estabelecer o diálogo da arte com a ciência que o Inpa produz, de modo que para o visitante além de ser uma experiência bonita, cultural, artística e interessante, também agrega conhecimento”, disse a coordenadora de Extensão do Inpa, Rita Mesquita.
AmazonFACE
O AmazonFACE busca entender o que acontecerá com a floresta em um cenário futuro de mudanças climáticas, de 50 a 100 anos. Pelas projeções do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), a concentração de dióxido de carbono na atmosfera continuará subindo. Estima-se que em 50 anos estará em cerca de 600 ppm (partes por milhão), hoje está em cerca de 400 ppm. Este é o cenário que o AmazonFACE quer simular dentro da floresta.
“Nosso experimento vai imitar essas condições numa parcela grande da floresta. Vamos aspergir CO2 na copa das árvores por um período longo de dez anos, para vermos hoje o que acontecerá com a floresta amanhã”, contou o gerente executivo do AmazonFACE, o pesquisador do Inpa, Carlos Alberto Quesada.
As projeções apontam que o planeta vai ficar mais quente nesse período - na região de Manaus a temperatura deve subir até cinco graus Celsius –, o ambiente vai ficar mais seco como uma savana, terá 60% a menos de chuva e terá mais gás carbônico. Segundo Quesada, a questão que determinará como a floresta será no futuro é justamente à resposta ao CO2, um dos principais gases do efeito estufa e base da nutrição da floresta pelo processo da fotossíntese.
“Então, às vezes, tendo mais CO2, acreditamos que a floresta possa ficar mais forte, mais resiliente, e que aguente mais o aumento de temperatura, e aí teremos ainda uma floresta daqui a 100 anos”, disse Quesada. “Se hoje no AmazonFACE não encontrarmos esse efeito e descobrirmos que só tem o lado ruim, aí a teremos a chance de nos preparar para o futuro com ações de mitigação, adaptação, porque saberemos que muita coisa ruim virá pela frente”, completou o pesquisador do Inpa.
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