Nova espécie de boto já está ameaçada, aponta pesquisa
A descoberta de uma nova espécie de boto foi divulgada semana passada na “Plos One”, revista especializada de alto impacto no meio científico. Estima-se que a nova espécie tenha cerca de mil indivíduos que estão ameaçados de extinção
Por Séfora Antela
Ascom Ampa
A nova espécie de boto de rio no Brasil descoberta por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), batizada de Inia araguaiaensis, já “nasce” como espécie vulnerável. A sugestão foi feita para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uma organização que avalia se as plantas e animais estão ameaçados de extinção.
No artigo publicado na revista científica Plos One, os cientistas estimam que existam cerca de 1.000 botos araguaias.Encontrado no Rio Araguaia, o Inia araguaiaensis é a terceira espécie de boto vermelho identificada no país.
Essa análise foi feita levando em consideração que a estimativa populacional da espécie é de mil indivíduos, isolados por barreiras geográficas e altamente impactada por ações criadas pelo homem, como as usinas hidrelétricas, destruição do habitat e turismo desordenado.
“O Rio Araguaia é um dos rios que sofre maior influência antrópica por conta de construções de hidroelétricas, grandes fazendas e atividades agrícolas/pecuárias e turismo, o que dificulta a permanência do animal em seu habitat. Devido à baixa variabilidade genética da espécie e à baixa estimativa populacional é importante que a espécie seja considerada como vulnerável à extinção”, salienta a Coordenadora do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LMA/ Inpa), a bióloga Vera da Silva, coautora do artigo.
“Os animais que serviram como base para o estudo de morfometria (estudo da forma e sua relação com o tamanho) foram encontrados mortos com evidencias de uso de arma de fogo, provavelmente abatidos por pescadores, durante a atividade de pesca”, explica Waleska Gravena, coautora do artigo, pesquisadora do Laboratório de Genética Animal – Legal da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Assim como os outros golfinhos da Amazônia, a nova espécie também vive o conflito com a pesca. Até a década de 1960, a pesca era uma atividade predominantemente de subsistência, utilizada para alimentação. A partir desta época, a inovação tecnológica e o aumento populacional na região impulsionaram a atividade, aumentando as interações entre os golfinhos e a pesca
Estudos
Os pesquisadores compararam seções do DNA nuclear e mitocondrial da nova espécie com a de duas espécies já descritas para mostrar que cada uma delas têm evoluído separadamente e não são produto de cruzamentos. Eles também compararam três crânios de I. araguaiaensis com as medições do crânio das outras espécies e encontraram pequenas diferenças no número e forma de alguns dentes, e o crânio um pouco menor.
“Após as medidas dos crânios, notou-se que estes possuem diferenças sutis quando comparado ao Inia geoffrensis e a I. boliviensis. Esses animais também possuem coloração mais escura, por conta das condições do Rio Araguaia”, explica Silva.
Segundo a coordenadora do LMA/ Inpa, nas análises de marcadores genéticos observou-se uma distinção entre as espécies de boto reconhecidas, indicando que cada uma delas evolui separadamente e que as mesmas não cruzam entre si. “Foi estimado que o boto do rio Araguaia está isolado das outras duas espécies de botos cerca de dois milhões e meio de anos, caracterizando uma nova espécie”, salienta Silva.
O trabalho é o resultado de uma parceria entre o LMA/ Inpa e o Laboratório de Genética Animal - Legal da Ufam. Os pesquisadores envolvidos nas pesquisas foram Vera da Silva, Tomas Hrbek, Izeni Farias, Anthony Martin, Waleska Gravena e Nicole Dutra.
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