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Simpósio Internacional apresenta biotecnologias para produção e conservação de peixes

  • Publicado: Segunda, 04 de Junho de 2018, 20h52
  • Última atualização em Segunda, 04 de Junho de 2018, 21h29

Evento que ocorre pela primeira vez na América Latina reúne em Manaus maiores autoridades mundiais em fisiologia da reprodução de peixes

 

Por Cimone Barros – (texto e fotos) Ascom Inpa

 

11 ISRPF Luiz Renato de França Foto Cimone Barros 1 4 INPA

 

Para se ter produção de piscicultura de alta qualidade e fazer conservação de espécies têm de investir em pesquisa. O alerta é do 11º Simpósio Internacional de Fisiologia Reprodutiva de Peixe, que reúne em Manaus os mais renomados especialistas mundiais da área. Técnicas e biotecnologias modernas do mais alto nível científico são apresentadas até esta sexta-feira, no Tropical Hotel.

Em 40 anos, esta é a primeira vez que o Simpósio ocorre na América Latina. Mais de 200 pesquisadores, profissionais e estudantes de 30 países participam do evento. Cerca de 40% dos participantes são do Brasil. Dos 16 renomados especialistas que fazem palestra, apenas dois são do Brasil: Samyra Lacerda, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Ronaldo Barthem, pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

De acordo com o presidente do evento e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Luiz Renato de França, os peixes constituem o grupo mais diverso e abundante de vertebrados do mundo com quase 30 mil espécies, das quais 13 mil são de água doce e aproximadamente 3 mil estão na Amazônia.

“Só isso já mostra a importância do evento para a região, porque hoje grande parte dos peixes consumidos no mundo é cultivada, produzida em tanques e esse é o futuro da piscicultura”, disse França. “Então, para se chegar a um nível de produção de alta qualidade e rentável tem de fazer pesquisa; pesquisa de fertilização, sobrevivência da larva, patologias, ração e tudo mais. Esta é uma vertente que esperamos que resulte em frutos no futuro”, completou.

Além de França, participaram da mesa de abertura na segunda-feira (04) o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Edson Barcelos, e os pesquisadores Rüdiger Schulz (Países Baixos) e Adelino Canário (Portugal).

 

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Transplante de células germinativas

 

Precursor da área de transplante de células germinativas em peixe, Goro Yoshizaki da Universidade de Ciência e Tecnologia Marítima de Tóquio (Japão), fez a palestra de abertura. Autoridade mundial na área, Yoshizaki utiliza tecnologias em que transplanta células de uma espécie de peixe em outra espécie visando a conservação de peixes em perigo de extinção, produção econômica e a própria biologia reprodutiva por lidar com muitos aspectos desconhecidos. No Japão, a fonte de proteína mais importante é o pescado.

“Muitas vezes em cativeiro é difícil manipular, mas com criopreservação consigo congelar óvulos e espermatozoides em nitrogênio líquido de uma espécie ameaçada. E quando eu precisar de indivíduos daquela espécie posso descongelar as células e colocá-las em outra espécie, como numa barriga de aluguel, e gerar indivíduos da espécie ameaçada”, explicou o pesquisador japonês.

A técnica desenvolvida por Yoshizaki pode usada para repovoar rios com espécies em risco de extinção ou extintas, incluindo espécies usadas como alimento ou como peixe ornamental. “Recuperar o meio ambiente leva muito tempo e a técnica permite ter essas espécies preservadas em banco de esperma e óvulo. Seria como um seguro que pode ser usado quando for preciso”, revelou.

 

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A primeira barriga de aluguel usada pelo pesquisador foi o salmão para produzir truta e depois o contrário: a truta como barriga de aluguel para produzir óvulos de salmão, já que o salmão do Pacífico depois da primeira reprodução vive um ou dois anos e morre. Já com a truta, que leva de dois a três anos para se reproduzir, isso não acontece e pode todo ano continuar produzindo óvulos de salmão.

“Eu conheço pouco a realidade amazônica, mas o ser humano está colocando mais espécies de peixes a beira da extinção no mundo todo. E acredito que minhas técnicas possam ser usadas para preservar espécies daqui para serem usadas no futuro quando os rios daqui que estão poluídos forem recuperados”, contou.

Yoshizaki mantém colaboração com o laboratório do França, na UFMG. Aqui no Brasil, França usa a tilápia como modelo experimental por ser fácil de se manter em laboratório e de ser uma espécie de significativa importância econômica. A tilápia é investigada pela equipe de França como peixe-receptor - barriga de aluguel - para o pirarucu, peixe nativo da Amazônia, de alta importância econômica, mas que demora a se reproduzir levando de quatro a cinco anos, com produção de poucos alevinos e baixa viabilidade das larvas.

Apresentações orais

Para permitir que todos os participantes acompanhem as palestras plenárias e as apresentações orais, o Simpósio não possui sessões paralelas. Ele é realizado todo em inglês e sem traduções simultâneas.

Um dos posters do evento é do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Danilo Streit Jr. que apresentou trabalho sobre a reprodução da piracanjuba, espécie parente muito próximo da matrinxã e da jatuarana e que no Brasil é uma espécie bioindicadora em perigo de extinção. Em seu laboratório, o professor desenvolve trabalho de reprodução especialmente para verificar a influência da temperatura na determinação sexual desse animal.

 

11 IRPF Foto Cimone Barros 1 22

 

Para isso, o estudo previamente estabeleceu como funciona a parte hormonal para determinar o sexo do macho e da fêmea, e agora a equipe do professor investiga a determinação sexual a partir da influência da temperatura. A hipótese do estudo é que a temperatura mais alta verificada no ambiente tem produzido um número quase que exclusivamente de machos, o que é considerado “muito ruim”. “Trabalho há 15 anos com piracanjuba e a gente tem verificado sistematicamente esse problema”, revelou.

Segundo Streit Jr., há essa tendência e a espécie está sofrendo consequências drásticas do aquecimento global e das ações humanas. “As usinas hidrelétricas através de programas ambientais repõem esses animais através do processo de povoamento, o problema é que um grande número dos animais é de machos e não se estabelece uma população pelo baixo número de fêmeas”, explicou.

O professor conta que se trabalhado para reverter o quadro, mas a quantidade de fêmeas é cada vez menor. “Se não houver trabalho para determinar qual a temperatura ideal para produzir esse animal e produzir uma relação equivalente macho-fêmea ao longo do tempo as fêmeas vão sumir e consequentemente a espécie que já foi muito consumida e hoje quase não se encontra mais no Sul do País”.

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