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Variedades de sabores e cores dos frutos da Amazônia na Copa

  • Publicado: Quinta, 16 de Janeiro de 2014, 20h00
  • Última atualização em Segunda, 13 de Abril de 2015, 11h07

 

Ao menos 15 frutos nativos estarão na safra no mês de junho.  População e visitantes poderão apreciar açaí, araçá-boi, bacuri-de-espinho, biribá, cubiu, maracujá-do-mato e tucumã 

Por Cimone Barros

Açaí, cupuaçu, castanha-do-Brasil, guaraná e as delícias preparadas com essas frutas já conquistaram o Brasil e algumas partes do mundo. Mas ainda há muitas outras frutas saborosas e nutritivas, como buriti, cubiu, bacuri, mapati (uva da Amazônia), camu-camu (fruta com maior teor de vitamina C já analisada), araçá-boi, pupunha e tucumã que possuem alto valor agregado e que poderiam ser melhor aproveitadas neste ano de Copa do Mundo de Futebol.

No Mundial de Futebol (12 de junho a 13 de julho), pelo menos 15 frutos nativos estarão no período de safra e disponíveis em forma in natura, de acordo com o engenheiro florestal e técnico da Coordenação de Biodiversidade do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), Afonso Rabelo.

Os visitantes poderão conhecer as cores e sabores do açaí-do-Amazonas (Euterpe precatoria Mart.), açaí-do-Pará (Euterpe oleracea Mart.), araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh), Bacuri-de-espinho (Garcinia madruno (Kunth) Hammel), bacuri-do-igapó (Garcinia brasiliensis Mart.), biribá (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.), cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal), ingá-açu (Inga cinnamomea Spruce ex Benth.), ingá-cipó (Inga edulis var. edulis Mart.), Jatobá (Hymenaea courbaril L.), Jenipapo (Genipa americana L.), mari-mari (Cassia leiandra Benth.), sorvinha (Couma utilis (Mart.) Müll. Arg.), maracujá-do-mato (Passiflora nitida Kunth) e tucumã (Astrocaryum aculeatum G. Mey.).

“Além desses, também têm os frutos industrializados, que são aqueles beneficiados pelas indústrias alimentícias, de bebidas, fitoterápicos e cosméticos”, disse Rabelo, que é autor do livro Frutos Nativos da Amazônia comercializados nas feiras de Manaus-AM, no qual descreve 38 frutos comercializados em dez feiras da capital amazonense.

Na floresta amazônica existem aproximadamente 250 espécies com frutos comestíveis, entre fruteiras nativas e palmeiras. As frutas são uma aliada importante quando se trata de alimentação saudável, sendo ricas em vitaminas, sais minerais, gorduras do bem e outros nutrientes que contribuem para o bom funcionamento do corpo.

Nos últimos anos, restaurantes e bares maiores passaram a incorporar os alimentos regionais e nativos nos cardápios, como peixes (tambaqui, pirarucu), ervas, temperos (pimenta murupi, jambu) e frutos (açaí, castanha-do-Brasil, cupuaçu, tucumã, banana pacovã, araçá-boi, bacuri). Esses últimos ganham cada vez mais mercado nas empresas de chocolates, em forma de geleias, trufas, bombons, panetones e licores, por exemplo.

Além do desconhecimento das potencialidades agroindustriais e gastronômicas de certos frutos nativos, empresários do setor de alimentos e bebidas afirmam que têm problemas quando se trata de escala de produção, de encontrar produtos dentro dos padrões de higiene (tucumã minimamente processado ou em lascas) e de preço. Há dificuldade de acessar diretamente o produtor.

De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-AM), Lilian Guedes, após o sorteio das seleções que virão jogar em Manaus na Copa (Inglaterra X Itália, Camarões X Croácia, Estados Unidos X Portugal, Honduras e Suíça), o setor ficou mais animado, porém, para os grupos de pacotes oficiais que visitarão a cidade não há muitas perspectivas para se incluir o cardápio regional, além do trivial. “O turista estrangeiro até prova o regional, mas muitos têm medo de comer”, revelou.

Muitos frutos amazônicos substituem facilmente em valores nutricionais as frutas exóticas (que não são originárias da região). “O cubiu em termos nutricionais corresponde à maçã, mas em termos de sabor e preparações substitui o tomate, podendo ser usado assado juntamente ao peixe. Já açaí e mapati correspondem à uva roxa ou preta, pois tem antocianina”, explicou a pesquisadora do Inpa, a nutricionista Dionísia Nagahama.

Incentivo

Como centro de excelência no estudo da biodiversidade, dos ecossistemas amazônicos e um dos mais importantes centros de pesquisas de biologia tropical do planeta, o Inpa trabalha desde a década de 1980 várias pesquisas utilizando frutos nativos. Os estudos vão da área da botânica, passando pelos aspectos agronômicos, nutricionais, medicinais e econômicos até o desenvolvimento de produtos.

Entre os produtos e processos patenteados pelo Inpa está “um mix a base de pupunha e bacuri”, como a pupurola (a granola de pupunha), bebida fermentada de pupunha, sabonete sólido e sabonete líquido à base de óleo de pupunha e buriti, creme antioxidante à base de óleo de pupunha, emulsão evanescente à base de óleo de punha e buriti e a farinha integral de pupunha. Parte das tecnologias de produtos e processos patenteados pelo Inpa é transferida para empresas de base tecnológica incubadas pelo próprio Instituto, gerando negócios inovadores que têm como base o desenvolvimento sustentável.

Esse é o caso da farinha integral de pupunha desenvolvida pela equipe científica da pesquisadora Jerusa de Souza Andrade e com tecnologia transferida em 2011 para Nectar Frutos da Amazônia, uma das sete empresas incubadas pelo Inpa. A expectativa é lançar o produto (rico em vitamina A e que serve tanto como suplemento nutricional quanto ingredientes para receitas culinárias) para o mercado em fevereiro.

De acordo com a coordenadora de extensão tecnológica do Inpa, Rosângela Bentes, o Inpa vem trabalhando para estimular e fomentar a inovação em seus diversos aspectos, seja na identificação de projetos internos, por demandas tecnológicas provenientes do mercado para solucionar questões pontuais de empresa e indústria, seja no estímulo à criação de empresas para desenvolvimento do produto e novos negócios tecnológico. “Estamos buscando, assim, promover a transferência de tecnologia para as empresas fazendo a interface da Instituição com a iniciativa privada e esta com a sociedade”, destacou.

Atualmente o Inpa possui 69 pedidos de patente, 115 produtos e processos registrados. A essência das tecnologias do Instituto é basicamente de processo (27%), produto (27%) e produto e processo (25%).

Os resultados dessas pesquisas também podem ser encontrados em formas de banners, folders, cartilhas e livros, além dos eventos. Esses materiais estão disponíveis no Inpa consultas. “Porém, para que as pessoas possam consumir os frutos nativos é necessário primeiro conhecer”, disse Rabelo.

Mercado

No premiado restaurante de Manaus, Banzeiro cozinha amazônica, os frutos nativos campeões de venda são a banana pacovã – servida em vários pratos quentes (salgados) e em sobremesas - e o cupuaçu, apreciado principalmente em forma de geleia com a pimenta murupi. Mas outros frutos também constam no cardápio, como castanha-do-Brasil, taperebá, graviola, açaí e tucumã (versão farofa e sorvete).

“Em breve, colocarei no cardápio cubiu, bacuri e pupunha. Mas como esses ingredientes são sazonais, é preciso respeitá-los e ter somente na temporada, até porque temos problema de fornecimento de produtos regionais”, disse o chef do Banzeiro, Felipe Schaedler, catarinense radicado no Amazonas que já ganhou vários prêmios pela Veja Manaus como melhor restaurante (2011, 2012, 2013) e chef do ano (2011, 2012, 2013).

No Careiro (a 88 quilômetros de Manaus), a agroindústria Cupuama trabalha com cerca de 100 toneladas de polpas de 17 frutas por ano – entre elas abacaxi, araçá-boi, açaí, acerola, bacuri, camu-camu e cubiu – e cerca de 50t de semente de cupuaçu. As amêndoas são aproveitadas de diversas formas para elaboração de óleo e manteiga para indústria de cosméticos, ração animal (peixe e carneiro), chocolate em pó (Cupulate) e chocolate em barra (Cupumax), em fase de elaboração com expectativa de ser lançado até a Copa. Para a utilização do camu-camu e a produção do ingrediente para a ração de peixe, a empresa contou com o apoio do Inpa.

Por três anos, a Cupuama exportou camu-camu (rico em aminoácidos, flavonóides e principalmente vitamina C)para uma indústria alimentícia do Japão, porém com a crise financeira mundial de 2008/2009 o fornecimento cessou. “A população está consumindo muito mais frutas regionais seja como alimento seja como cosméticos, mas é preciso melhorar a produção. Nós não crescemos mais porque temos esse limitador”, ressaltou a empresária Fátima Sales.

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