Inpa lança cartilha de identificação de plantas do lago amazônico do Bosque da Ciência
A obra foi financiada pelo MCTIC, por meio da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017. O lançamento faz parte da programação de aniversário de 23 anos do Bosque da Ciência
Por Luciete Pedrosa (Texto e fotos) – Ascom Inpa
A catalogação de 20 espécies de macrófitas aquáticas (plantas que vivem em ambientes aquáticos), no Lago Amazônico, situado no Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), resultou na publicação da cartilha “Ecologia e Guia de Identificação de macrófitas aquáticas do Lago Amazônico”. A obra, lançada na tarde da última terça-feira (24), no Inpa, contou com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O lançamento da obra fez parte da programação especial em comemoração aos 23 anos do Bosque da Ciência, espaço de visitação pública do Inpa, instituto que é referencial mundial nos estudos da biodiversidade e dos ecossistemas amazônicos. Além de espécies da fauna e flora da Amazônia, o visitante terá oportunidade até domingo de participar de apresentações da obra Zuummm: o planeta terra é muito distante daqui (quarta-feira e sábado, às 10h), pegada hídrica, atividades de pintura, charadas, vídeos educativos, visita guiadas – plantas do bosque (quinta-feira, das 10h às 11h30), 1ª edição do ano do projeto Circuito da Ciência (sexta-feira).
A cartilha é uma pequena amostra das plantas macrófitas aquáticas contidas no Lago Amazônico a exemplo das Najas microcarpa conhecida como lodo, Lemna aequinochialis (lentilha-d’água), Pistia stratiotes (alface-d´’agua, mureru) e Pontederia rotundifolia (aguapé ou mureru-de-orelha).
No lago podem ser encontrados ainda tartarugas, aves, peixes e espécies da fauna aquática como insetos aquáticos, anfíbios e moluscos, sem contar a vegetação do entorno - como ilhas de bambus e palmeiras - e animais que podem ser observados por lá, entre eles macacos, pássaros e borboletas. O lugar também oferece a oportunidade de descanso, depois da caminhada pelas trilhas, de contemplação da natureza e de possível aprendizado pela observação atenta das espécies presentes no lago.
A obra visa permitir ao visitante do Bosque a construção de novos conhecimentos, além de estimular a curiosidade das pessoas por conhecer melhor estse grupo de plantas tão diverso e com adaptações únicas que as permitem ter sucesso na colonização das águas na Amazônia.
Segundo um dos autores da obra, o doutorando em Botânica no Inpa, Layon Demarchi, essa riqueza de espécies no Lago Amazônico flutua em consequência das características ambientais do local. “Como o lago do Inpa é um ambiente seminatural, que abriga uma considerável parcela da biodiversidade de corpos de água da região, muitas de suas características físico-químicas são influenciadas pela água que chega nele”, diz o doutorando.
Layon explica que, hoje, a água utilizada pelos peixes-bois é despejada no lago. Esta água vem carregada de fezes, que são nutrientes, utilizadas pelas macrófitas para se proliferarem. Esse impacto será minimizado em breve, com a entrega das obras de implantação da estação de tratamento e reciclagem das águas residuais dos três tanques dos peixes-bois. A obra é financiada pelo Projeto Museu na Floresta.
“Quando vemos o lago tomado por macrófitas é porque o lago está rico em nutrientes”, diz Demarchi, ao acrescentar que esas plantas são um reflexo da qualidade da água. “Se essa água possui nutrientes, então, conterá muitas plantas”, destaca.
As macrófitas aquáticas são importantes na estruturação e na dinâmica dos ecossistemas aquáticos. Elas são fontes de matéria orgânica, fornecem alimento, abrigo e local de reprodução para fauna, entre outros. Por outro lado, por apresentarem crescimento rápido, as plantas podem se tornar invasivas e prejudiciais, principalmente, em ambientes com modificações humanas, como reservatórios e lagos, onde a flutuação natural do nível das águas foi suprimida ou é manipulada pelo homem.
Apoio
O trabalho de levantamento foi realizado entre os meses de fevereiro e junho de 2016. A cartilha foi financiada pelo MCTIC, por meio da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) de 2017. Também contou com o apoio da Editora do Inpa no projeto gráfico e do Grupo de Pesquisa Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Mauá), que recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Foram impressos mil exemplares da cartilha que serão distribuídos gratuitamente aos visitantes do Bosque da Ciência que podem consultar as espécies no próprio ambiente do lago. “Com esse guia esperamos que seja o início para as pessoas se interessarem sobre as plantas aquáticas”, torce Demarchi.
Além de Layon Demarchi também são autores: Aline Lopes (doutora pelo Inpa), Aurélia Ferreira (bolsista do Inpa) e a pesquisadora Maria Teresa Piedade, coordenadora do Grupo de Pesquisa Ecológica de Longa Duração – Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Peld/Maua).
“Nosso trabalho tem que ser disponibilizado para a sociedade de diversas formas. É claro que um trabalho científico com ranço, no linguajar científico, penetra menos, e estamos interessados e queremos continuar atuando em iniciativas dessa natureza”, revela Piedade.
Jardim aquático
“Esta cartilha é um material útil e pode ser trabalhado em oficinas de popularização e conhecimento científico que o Inpa gera”, diz a coordenadora de Extensão, a pesquisadora Rita Mesquita. Segundo ela, essa iniciativa tem um efeito cascata porque permitirá iniciar outras atividades que vêm sendo planejadas no Bosque da Ciência. Uma delas é o projeto do jardim aquático interpretado, baseado nas identificações da cartilha.
Mesquita garante que com ajuda da equipe do Bosque continuará fazendo um esforço para ter uma boa diversidade de macrófitas no jardim aquático porque isto enriquecerá a experiência do visitante. “O jardim será dentro do Lago Amazônico e deverá estar pronto o mais breve possível”, ressalta.
O jardim foi concebido para ser um jardim flutuante, balizado por varas de bambus que dividirão em espaços quadrados onde serão colocadas as macrófitas de acordo com as espécies encontradas.
“Estamos buscando soluções para ter esse jardim aquático de maneira organizada para que as pessoas ao chegarem lá possam encontrar as plantas e aprenderem um pouco a partir desse conhecimento”, diz Mesquita. Para a pesquisadora, o lançamento da cartilha foi um momento muito aguardado. “Esperamos que muitos outros produtos como este sejam feitos baseados na biodiversidade que existe no Bosque da Ciência”, destacou.
Mesquita também agradeceu aos autores a cartilha que ajudam o Inpa a cumprir seu papel perante a sociedade, colocando à disposição um material de qualidade e interessante para os visitantes aprenderem e terem os primeiros contatos com as macrófitas aquáticas que estão dentro do bosque.
Na opinião de Guilherme Silva, aluno de mestrado em Botânica no Inpa, a importância dessa cartilha é conhecer a diversidade de plantas existentes no lago. Para ele, a partir das espécies que foram catalogadas saberemos quantas famílias e quais espécies têm mais ou menos importância ecológica e econômica. “Dessa forma, teremos uma realidade de como essa diversidade de macrófitas está composta no bosque”, diz.
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