Inpa estuda manipulação de nutrientes do solo e debate a limitação nutricional da floresta
A ideia da fertilização é testar experimentalmente a hipótese de que a carência de certos nutrientes acaba causando limitações nos ecossistemas da floresta
Por Karen Canto – Ascom Inpa
Foto: Karen Canto e Acervo Afex - Inpa
Seis meses após os primeiros testes experimentais, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e parceiros apresentam os resultados do projeto Amazon Fertilisation Experiment (Afex). O projeto é um estudo de manipulação de nutrientes do solo, em larga escala, para examinar como a disponibilidade de nutrientes afeta o ciclo de carbono em florestas tropicais.
Em um prazo relativamente curto, o experimento teve como principais respostas: aumento no fluxo dos nutrientes via serapilheira (camada superficial do solo de florestas formada por restos de folhas, galhos, frutos e demais partes vegetais em decomposição misturados a terra); aumento de produtividade do carbono (C) acima e abaixo do solo e, com a adição do fósforo (P), um aumento total da respiração do solo. Além disso, há sinais de que as plantas estão investindo menos em compostos de defesa anti-herbívoros.
A rede de pesquisadores do Afex inclui profissionais do Brasil, Panamá, Austrália e Reino Unido. Os testes consistem em adicionar nutrientes presentes naturalmente em baixa concentração na floresta. Entre os principais nutrientes adicionados à floresta está o fósforo (P), elemento escasso nos solos da região amazônica.
No Brasil, o projeto Afex é desenvolvido sob a coordenação do pesquisador do Inpa Carlos Alberto Quesada, no Laboratório de Biogeoquímica, apoiado pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), LBA e coorganizado pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) como apoio do pesquisador José Luís Camargo.
Também são parceiros as Universidades de Exeter e de Edimburgo, ambas no Reino Unido, e pelo lado brasileiro, além do Inpa, a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Outra característica com base no experimento é determinar se as limitações nutricionais podem interferir na estruturação da comunidade de invertebrados da serapilheira e nos processos biológicos mediados pela fauna.
A ideia da fertilização é baseada na hipótese de que a carência de certos nutrientes acaba causando limitações no ecossistema da floresta. O foco dos estudos consiste em pesquisar a ecologia do ecossistema, seu funcionamento e como os nutrientes interferem dentro dos mecanismos do funcionamento da floresta. A lógica do experimento é usar a adição de determinados nutrientes para entender o papel deles nos processos da ecologia do ecossistema.
“Como base nos estudos que vêm sendo realizados, constatamos que o fósforo (P), elemento muito escasso nos solos da região, acaba limitando o crescimento das árvores, o processo de fotossíntese, produção de folhas, raízes, interação com microrganismos e vários outros processos”, explica Quesada.
O pesquisador acrescenta que o experimento funciona como uma ferramenta para entender a limitação nutricional em vários parâmetros da floresta. “Como a gente sabe quais nutrientes estão faltando, trabalhamos em cima disso”, explica. “Se o fósforo estiver realmente limitando esses processos, ao ser introduzido mais deste nutriente, a árvore passará a crescer mais e o processo de fotossíntese aumentará”, acrescenta o pesquisador.
Outro processo fundamental para entender o funcionamento do ecossistema é a emissão de dióxido de carbono (CO2) do solo e sua relação com o fósforo. Quesada afirma que com o fluxo de carbono respondendo aos nutrientes, em breve, será possível particionar o efeito da emissão de CO2 das raízes, microrganismos e micorrízas, o que permite entender melhor o efeito dos nutrientes nas plantas e nos microrganismos do solo.
Segundo o coordenador, o Afex é um experimento de longo prazo que funciona como um laboratório a céu aberto. “O objetivo é rodar o projeto por mais 10 ou 15 anos, no mínimo”, garante. Ainda conforme Quesada, a ideia é que o experimento possa permitir, não apenas as respostas do grupo de pesquisadores diretamente envolvidos, mas também as de toda comunidade do Inpa que tiver interesse em estudar limitações nutricionais na floresta.
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