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Ativista científico Sebastião Pinheiro faz conferência sobre agricultura na Amazônia

  • Publicado: Quarta, 18 de Abril de 2018, 13h26
  • Última atualização em Quarta, 18 de Abril de 2018, 13h37

Sebastião Pinheiro, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando indígenas a fazerem análise em saúde do solo

 

Por Luciete Pedrosa (Texto e foto) – Ascom Inpa

 

Somente a agricultura de subsistência, que sobrevive do que colhe, pode ser considerada fora das metas da moderna indústria de alimentos. A afirmação é do ativista e cientista em agricultura e saúde, Sebastião Pinheiro, em palestra no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento contou com a presença maciça de cientistas e mobilizadores de diversas organizações ligadas à questão da agricultura e sustentabilidade na Amazônia.

 

Realizada na tarde de terça-feira (17), no Auditório da Ciência, a conferência “O alento ultrassocial do biopoder camponês” teve múltiplos focos. Tratou desde a questão dos alimentos, traçou um caminho entre a alimentação natural e verdadeira para a artificialização da mesma, passando pela indústria de alimentos, chegando até a tecnologia da agricultura sem veneno e sem artificialismo.

 

Sebastião Pinheiro Foto Luciete Pedrosa INPA 3 Cópia

 

Segundo Pinheiro, a indústria de alimentos é o complexo global coletivo de diversas redes de negócio que conjuntamente suprem muito da energia alimentar consumida pela população do mundo. “A indústria de alimentos aciona a regulação local, regional, nacional e internacional, além de regras e normas para produção e venda, incluindo qualidade, seguridade e atividades de lobby”, explica Pinheiro, um dos mais influentes ativistas científicos em agricultura do país.

 

Para o professor, alguns questionamentos podem ser determinantes para que se tenha no país uma agricultura de qualidade. Segundo ele, na Amazônia existe a Terra Preta de Índio – um tipo de solo escuro caracterizado pela ampla disponibilidade de nutrientes como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono -, que está no Brasil e é um solo feito pela mão humana, que é de uma população tradicional com grande sabedoria.

 

“Como essa população pode nos ajudar a encontrar um discernimento com sabedoria para fazermos uma agricultura de qualidade e como podemos reconhecer neles essa sabedoria, essa cidadania internacional, para salvar este planeta que está em uma situação periclitante?”, questiona o cientista.

 

A vinda de Sebastião Pinheiro a Manaus foi organizada pela Rede Maniva de Agroecologia, Memorial Chico Mendes, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e Operação Amazônia Nativa (Opan) com apoio do Inpa.

 

Sebastião Pinheiro Foto Luciete Pedrosa INPA 1 Cópia

 

Capacitação indígena

 

O cientista, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando os indígenas a fazerem análise em saúde do solo. O objetivo foi capacitá-los para que possam determinar quanto de carbono, enxofre e nitrogênio são fixados no solo sem sair da aldeia.

 

Sebastião Pinheiro explica que esta análise feita pelos próprios indígenas é importante, porque ao demonstrarem que estão fixando carbono, enxofre e nitrogênio no solo, os gases de efeito estufa diminuem e ao diminuí-los eles o fazem com o direito de desfrutarem da riqueza, que é a captura de carbono.

 

“O pessoal está muito preocupado em fixar carbono em árvores. O índio com a Terra Preta fixa carbono no solo”, assegura Pinheiro. “Se temos na Amazônia o paul, que é a decomposição do húmus superficial da floresta, transformada em serapilheira, há nesse ambiente micróbios que não podem ser isolados em laboratórios”, explica. “Por isso, temos que fazer com que as populações tradicionais indígenas proponham fixar carbono no solo”.  

 

Para Sebastião Pinheiro, a técnica é simples de fazer e é possível realizá-la com um sistema agroflorestal com pequenos cultivos e com a remineralização do solo que não leva aditivos químicos.

 

O ativista conta que é estranho na Amazônia se utilizar tanto fertilizantes químicos. “Como aqui chove em quantidade muito alta esse fertilizante certamente será desviado contaminado o solo e os rios e não funcionará”, diz. “Então, essa realidade tem que ser estudada em cada caso e os índios são peritos nisso”.

 

Depois de Manaus, o ativista sugue para Carauari (AM), onde ficará cerca de dez dias capacitando os extrativistas e ribeirinhos em saúde do solo.

 

Sobre o palestrante

SebastiaoPinheiro11FotoLucietePedrosaINPA

 

Sebastião Pinheiro possui uma carreira acadêmica extensa e com atividades junto às populações e movimentos sociais. Estudou em Jaboticabal (SP), graduou-se na Argentina e fez pesquisas na Alemanha, em Toxicologia e Poluição Alimentar e Meio Ambiente. Foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS), junto ao Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. É autor e coautor de diversos livros como “Ladrões da Natureza” e “Saúde do solo versus agronegócios”. Tem participação no desenvolvimento de políticas públicas e discussões sobre agricultura em nível nacional e internacional.

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