Inpa e Uema descrevem novo gênero de mosca, Inpauema, nome em homenagem às instituições
“Resolvemos dar este nome para que ficasse perpetuada na história a parceria que existe há 22 anos entre o Inpa e a Uema”, explica o pesquisador do Inpa, o doutor em Entomologia José Albertino Rafael
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Foto: José Albertino Rafael (acervo) e Luciete Pedrosa
Inpauema é o nome científico dado a um novo gênero de um grupo de moscas que ocorre nos biomas Amazônia e Cerrado, no qual foram descritas cinco espécies novas. A descoberta é resultado de uma longa parceria de pesquisa nos estudos de biodiversidade de insetos entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e a Universidade Estadual do Maranhão (Uema), por meio dos pesquisadores José Albertino Rafael e Francisco Limeira de Oliveira, respectivamente.
“Resolvemos dar este nome para que ficasse perpetuada na história zoológica a parceria que existe há 22 anos entre o Inpa e a Uema”, explica o pesquisador do Inpa, o doutor em Entomologia José Albertino Rafael.
Como os insetos compõem o grupo de organismos mais diverso da terra, e ainda é muito pouco estudado, é comum descrever novos gêneros e mais comum, ainda, é descrever novas espécies. Isso aconteceu com este grupo de moscas com ampla distribuição geográfica, mas ainda desconhecido da ciência.
“É importante que o ser humano entenda que todos os organismos têm uma função na natureza e, por isso, é primordial conhecê-los. Esse conhecimento começa em atribuir um nome científico para os organismos ainda desconhecidos pela ciência, que de acordo com o Código de Nomenclatura Zoológica precisa ser universal, único e distinto”, explica Rafael.
A partir da atribuição de um nome, que é feita através de uma publicação científica, todo o conhecimento adquirido relativo àquele organismo será associado ao nome dado (assim como todo ser humano tem um nome registrado em cartório). Após nomeá-lo, procura-se conhecer a sua função na natureza, se é um predador, polinizador, se é uma praga, se pode se tornar uma praga ou uma peste, dentre outras possibilidades.
“Esta função precisa ser explorada, afinal, o ser humano tem a obrigação de conhecer todos os organismos com os quais convive na natureza e qual a sua função”, diz o pesquisador do Inpa.
No Brasil, existem aproximadamente 12 mil espécies de moscas e mosquitos, mas as estimativas é que sejam mais de 50 mil só no nosso país. Conforme Rafael, para conhecer essas espécies é preciso contratar muitos entomólogos, em diferentes instituições e biomas, para incrementar o conhecimento de todos os insetos, mas não somente eles, e com isso nomear e conhecer suas funções. “Esse papel vem sendo cumprido paulatinamente pelos poucos pesquisadores que temos hoje”, destaca.
Novo gênero
Gênero é uma categoria que reúne espécies próximas, aparentadas entre si. Como se fosse o pai e mãe de uma família com sobrenome comum que reúne seus respectivos filhos.
A família de moscas denominada Odiniidae reúne moscas pequenas, variando de 2,5 a 6,0 milímetros de comprimento. Nela foi encontrado um grupo ainda desconhecido com várias espécies aparentadas. Este gênero novo de moscas recebeu o nome de Inpauema. Sua publicação ocorreu recentemente na revista científica Zootaxa (http://www.mapress.com/j/zt/article/view/zootaxa.4362.4.3), um dos principais periódicos para taxonomistas na área de Zoologia.
Neste gênero, foram descritas cinco espécies novas que receberam os nomes de: Inpauema mirador (para designar o local onde foi encontrada, no Parque Estadual do Mirador, no Maranhão); Inpauema catarinae (para homenagear a pesquisadora do Inpa Catarina da Silva Motta, in memoriam); Inpauema gaimarii (para homenagear o Dr. Stephen Gaimari, que vem contribuindo para o estudo das moscas); Inpauema raimundoluizi (para homenagear o professor da Uema, Raimundo Luiz Ferreira de Almeida); e Inpauema xavieri (para homenagear o técnico do Inpa, Francisco Felipe Xavier Filho, coletor de vários exemplares).
Coletas
De acordo com a segunda autora do artigo científico, que ajudou a descrever o novo gênero e suas espécies novas, a doutoranda em Entomologia do Inpa, Dayse Willkenia Almeida Marques, duas das espécies foram coletadas no Amazonas, duas espécies no Pará, destas uma também ocorre no Maranhão, e outra foi coletada somente no Maranhão.
“É uma família de moscas pouco representada nas coleções científicas pelo fato de seus representantes serem dificilmente coletados, portanto acaba sendo pouco estudada. O material que foi descrito neste artigo está depositado nas coleções do Inpa e na Coleção Zoológica do Maranhão (CZMA)”, explica a doutoranda, que é orientada pelo pesquisador José Albertino.
Pouco se sabe sobre a biologia dessa família de insetos e ultimamente os cientistas coletaram um número expressivo de espécimes de odiniídeos em armadilhas instaladas em diferentes alturas na vegetação da Amazônia, com maior abundância e riqueza de espécies sendo coletadas no nível da copa das árvores. Os resultados das coletas estão sendo promissores, com novos gêneros e várias novas espécies a serem descritas”, explica Marques.
O estudo conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do projeto Rede Bionorte, Rede de Biodiversidade de Insetos na Amazônia (Rede-BIA). O projeto pode ser acessado pelo endereço http://redebia2.com.br/.
Parceria Inpa e Uema
A parceria do Inpa com a Uema teve início em 1996 com a vinda do professor Francisco Limeira de Oliveira (autor principal do artigo) para fazer mestrado e doutorado no Inpa. Ao retornar para a sua instituição de origem, em Caxias, no Maranhão, incentivou vários alunos a fazerem pós-graduação no Inpa e iniciou a montagem de uma coleção de insetos no Centro de Estudos Superiores de Caxias, no Maranhão, hoje denominada Coleção Zoológica do Maranhão (CZMA) e que vem se destacando nacional e internacionalmente pelo valioso acervo.
José Albertino conta que o professor Limeira saiu do Inpa com a experiência da fauna da Amazônia, mas também começou a atuar na fauna maranhense, principalmente a do Cerrado e ampliou seus estudos para a fauna da Caatinga. Isso serviu de exemplo e aguçou a curiosidade do pesquisador José Albertino para conhecer a fauna daquela região. Segundo o pesquisador, isso contribuiu para uma maior aproximação entre as duas instituições (Inpa e Uema) para que os insetos coletados em biomas diferentes fossem estudados e esta parceria já dura mais de 20 anos.
Resultados
Os resultados dessa parceria podem ser contabilizados em cerca de 20 trabalhos científicos publicados entre artigos científicos e capítulos de livros. Dessa parceria também resultou em seis alunos provenientes de Caxias e orientados pelo pesquisador José Albertino e que haviam sido orientados pelo professor Limeira durante a graduação na Uema, incluindo duas das autoras do artigo Dayse Marques e Geniana Reis. Além disso, obteve-se a aprovação do CNPq de dois editais universais para o desenvolvimento de dois projetos para trabalhar em zonas do Nordeste (Caatinga e Cerrado). Isso serviu de incentivo para o desenvolvimento de pesquisa naquela região e a formação de novos pesquisadores, por meio da Iniciação Científica, que já estão atuando na Uema, em Caxias e manutenção da CZMA.
“Acredito que os resultados obtidos são resultantes de uma parceria sólida entre duas instituições de pesquisas e que certamente continuará por mais alguns anos, quiçá por muitos anos”, comemora José Albertino.
Redes Sociais