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Noemia Ishikawa destaca em Aula Magna do Inpa valorização do simples e acessível

  • Publicado: Segunda, 05 de Março de 2018, 11h32
  • Última atualização em Segunda, 05 de Março de 2018, 11h37

Pesquisadora do Inpa atua há 27 anos nos estudos de cogumelos. “Valorizar o que está perto e o que é simples. Isso também pode abrir novos caminhos científicos”. Essa foi a mensagem de Noemia Ishikawa aos cerca de 100 novos alunos dos oito cursos de pós-graduação da instituição

 

Por Luciete Pedrosa (texto e foto) – Ascom Inpa

 

Não negligenciar ou deixar de perceber o que está perto. Foi isso que a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) Noemia Ishikawa fez com a espécie de cogumelo comestível Lentinula raphanica, que pertence ao mesmo gênero do Shiitake (Lentinula edodes).  Até a publicação de sua ocorrência em 2010, a presença dessa espécie era desconhecida na Amazônia brasileira. Os primeiros cogumelos encontrados pela pesquisadora estavam  em troncos de castanheiras no campus III do Inpa, onde Ishikawa trabalha.

 

Essa foi a mensagem que cientista deu durante Aula Magna para 100 novos alunos que ingressaram no mestrado de oito Programas de Pós-Graduação do Inpa, que aconteceu na última quinta-feira (1º), no Auditório da Ciência do Inpa. O tema da aula inaugural foi “Cogumelos da Amazônia: ligações entre biodiversidade, saberes dos povos indígenas e gastronomia”.

 

Ishikawa contou sua experiência e trabalhos de pesquisa que desenvolve há 27 anos com o estudo de cogumelos. Em 2017, a pesquisadora ganhou junto com parceiros a 59ª edição do Prêmio Jabuti, na categoria Gastronomia. O Jabuti é o mais tradicional e prestigiado prêmio da literatura brasileira. No mesmo ano a pesquisadora também recebeu a comenda da Ordem do Mérito do Judiciário do Trabalho no grau de Comendador.

 

SITENoemiaIshikawaFotoLucietePedrosaINPA

 

“O cogumelo estava atrás da minha sala; se eu não tivesse dado importância, talvez não teria conhecimento e conteúdo para abrir várias portas que surgiram para mim nos últimos anos”, conta a londrinense Ishikawa, que é vice-coordenadora do Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade da Amazônia (INCT Cenbam).

 

O cogumelo Lentinula raphanica é o principal objeto de estudo do Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia, liderado pela pesquisadora, para a geração de produtos alimentícios a partir da biodiversidade da floresta amazônica e foi testado e aprovado por renomados chefs da cozinha brasileira, a exemplo de Felipe Schaedler e Hiroya Takano em Manaus e Alex Atala em São Paulo.

 

Durante a conversa, em tom de descontração, Ishikawa comparou sua trajetória científica como uma “colcha de retalhos”. Nela, os cogumelos são as “estampas” de um “patchwork”, artesanato que une retalhos de tecidos para fazer uma infinidade de formatos, de desenhos.

 

Incentivo de Kerr

 

A pesquisadora lembrou o início de sua carreira, ainda na graduação, em 1994, quando teve a influência e o incentivo do Dr. Warwick Kerr para estudar cogumelos na Amazônia, o que aconteceu em 2002. O Dr. Kerr, hoje com 96 anos, é considerado o maior especialista em genética de abelhas do mundo e foi diretor do Inpa por duas vezes (na década de 70 e de 1999 a 2002). 

 

Ishikawa também contou a importância de ter conhecido o antropólogo do Instituto Socioambiental (ISA), Moreno Saraiva, que intermediou a aproximação da pesquisadora com o cacique Davi Kopenawa, líder yanomami, para a realização do trabalho com cogumelos em Terras Indígenas Yanomami, localizadas entre o Estado do Amazonas e Roraima numa área de cerca de 9,6 milhões de hectares.

 

O antropólogo liderou estudos de levantamento do conhecimento da culinária Yanomami. O resultado do estudo deu origem à obra Ana Amopö: Cogumelos Yanomami, ganhador do Prêmio Jabuti, o maior prêmio na literatura brasileira, na Categoria Gastronomia, em 2017.

 

Cursos

 

Aula Magna Foto Luciete Pedrosa INPA 11

 

Os novos mestrandos também receberam as boas-vindas da coordenadora de Capacitação, Beatriz Ronchi Teles, na ocasião representando a diretora substituta Hillândia Brandão, e da coordenadora de Pós-Graduação, Rosalee Coelho. O diretor do Inpa, Luiz Renato de França, está de licença por problemas de saúde. 

 

“Desde 1975, início do primeiro curso de pós-graduação (Botânica) até dezembro de 2017, foram titulados 2.581 mestres e doutores”, contou Teles. Desse total, foram titulados 2.024 mestres e 557 doutores.

 

Os calouros foram apresentados aos coordenadores de cursos de Pós-Graduação: Agricultura no Trópico Úmido (ATU), Rogério Hanada; Biologia de Água Doce e Pesca Interior (BADPI), Cláudia de Deus; Botância (BOT), Michael Hopkins; Ciências de Florestas Tropicais (CFT), Niro Higuchi; Entomologia (ENT), José Wellington; Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (GCBEv), Jacqueline da Silva Batista; Ecologia (ECO), Albertina Lima; Clima e Ambiente (Cliamb), Luís Cândido. 

 

Para o biólogo e estudante de mestrado em Ecologia, o paulista Stefano Ávilla, um dos motivos que o trouxe para a Amazônia é que a biodiversidade da Amazônia. “No meu estado estudei muito a Mata Atlântica que tem um remanescente pequeno do que foi originalmente; e a Amazônia, apesar de sofrer pressões antrópicas, tem uma grande diversidade que merece ser estudada e conservada”, diz.

 

Aula Magna Foto Luciete Pedrosa INPA 42

 

“Vim de Florianópolis em busca de novas experiências em relação à instituição, à região, ao bioma e também pela perspectiva de ser orientada pelo pós doutor Jadson Oliveira, que estuda fungos da ordem dos cogumelos shiitake, shimeji e champignon”, disse a estudante de Botânica, Julia Simão Cardoso.

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