"Sem abelha, sem alimentos", diz pesquisador do Inpa em palestra na Semana do Meio Ambiente
Além da produção de mel, as abelhas prestam um importante serviço ambiental com a reprodução e manutenção das plantas e do equilíbrio da biodiversidade
Por Cimone Barros – Ascom Inpa
Foto: Cimone Barros e Acervo Pesquisador
Responsável por 30% da produção de alimentos do mundo, a polinização é uma das principais funções desempenhadas pelas abelhas, insetos que em alguns países começam a sumir. O assunto que preocupa o mundo e órgãos como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), por ameaçar a segurança alimentar, foi discutido nesta sexta-feira (09) no ciclo de palestra da Semana do Meio Ambiente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).
A Semana segue até este domingo (11), com diversas atividades no Bosque da Ciência, que fica na rua Otávio Cabral, s/nº, Petrópolis. A entrada é gratuita durante o evento. Neste sábado, às 10h, o ciclo será encerrado com a palestra do veterinário do Inpa, Anselmo D’Affonseca, sobre Ciência e beleza: fotos de pássaros amazônicos. Veja aqui a programação.
A palestra a “Importância dos insetos na polinização das plantas” foi apresentada pelo pesquisador do Inpa, o biólogo com doutorado em Entomologia, Marcio Luiz de Oliveira. O pesquisador é curador da Coleção de Invertebrados do Inpa, com experiência em ecologia e conservação de abelhas. Alunos do curso técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação do Amazonas (Ifam), de Itacoatiara, participaram da atividade.
Para entender melhor o desaparecimento e a morte massiva de abelhas melíferas (Apis mellifera), especialmente nos Estados Unidos e Europa, a FAO criou vários programas para tentar descobrir as causas do desaparecimento desses agentes polinizadores, e para proteger as abelhas e suas áreas de ocorrência. Até mesmo a NASA, agência espacial americana, anda investigando a questão.
Os estudos ainda não foram concluídos. Mas é provável que haja uma combinação de fatores para o desaparecimento das abelhas, como agentes patógenos – entre eles o vírus da asa deformada (DWV, na sigla em inglês), queimadas, desmatamento, aquecimento global e o uso de defensivos agrícolas para combater pragas nas lavouras.
De acordo com Oliveira, a FAO está preocupada de que no futuro não haja oferta de alimentos ou que exista em quantidade insuficiente por conta do desaparecimento das abelhas, que além da produção de mel, prestam um importante serviço ambiental com a reprodução e manutenção das plantas e do equilíbrio da biodiversidade.
“Aqui na Amazônia a gente ainda não notou o sumiço das abelhas. Isso está acontecendo muito nos Estados Unidos e na Europa, que dependem, sobretudo, de poucas espécies polinizadoras. A abelha que praticamente poliniza tudo por lá é a abelha melífera (Apis mellifera), conhecida pela humanidade desde a Antiguidade”, explica Oliveira.
Conforme Oliveira, uma grande parte das plantas consumidas pela humanidade, ou pelo menos as mais importantes, são polinizadas pelo vento, como trigo e arroz, que não precisam de insetos, porque o vento vem e carrega o pólen – elemento reprodutivo masculino – até a parte feminina da planta e produz o fruto. Porém, uma grande quantidade de plantas precisa de um agente para transportar o pólen até a estrutura reprodutiva feminina.
“Em contrapartida, as frutas e frutos como por exemplo abóbora, tomate, uva, maçã, cupuaçu e guaraná e outros dependem dos polinizadores para sua reprodução. Os insetos polinizadores mais importantes são abelhas, borboletas, moscas e besouros, mas o grupo com maior destaque é o das abelhas”, conta o pesquisador.
Abelhas na Amazônia
Na Amazônia, o desaparecimento das abelhas, em sua maioria, abelhas sem ferrão, ainda não foi notado. Grande parte do bioma é preservado, além de existir centenas de espécies de abelhas nativas, uma das maiores diversidades de abelhas nativas do mundo. Conforme Oliveira, algumas dessas abelhas são endêmicas da região, estando portanto envolvidas na polinização das frutas e frutos da região.
“Então você pensa no cupuaçu, na pupunha, na bacaba, no guaraná; todas essas plantas da região dependem dos polinizadores nativos para serem produzidas, daí mais um motivo para o agricultor proteger a área, a mata que está em volta dos plantios”, destaca o pesquisador.
Ainda de acordo com o Oliveira, é provável que com aquecimento global, desmatamento, queimadas, crescimento das cidades, aberturas de rodovias, as populações de abelhas diminuam. “Temos de pensar que tipo de desenvolvimento queremos. Não pode ser de qualquer maneira”, enfatiza, destacando que todos nós somos responsáveis. “Acredito que o caminho é educação, acompanhada de fiscalização e, se for o caso, punição”, completa.
Para a professora do curso técnico de Meio Ambiente do Ifam de Itacoatiara, Ana Rita Braga, a palestra foi excelente. “Tenho certeza de que os nossos alunos absorveram os conhecimentos repassados pelo pesquisador sobre a questão dos serviços ambientais prestados pelos polinizadores (abelhas) associados à produção de alimentos”, disse.
O estudante Nicolau Alexandre dos Santos compartilha da mesma opinião e destaca a relevância do tema. “Para a produção de alimentos precisamos dos serviços dos polinizadores e se não os preservarmos poderemos sofrer graves consequências”, ressalta.
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