Murais temáticos de grafite são usados para divulgar mensagem conservacionista em RDS
“O resultado foi maravilhoso e o impacto da ação foi positivo e marcante para a comunidade”, comemora a bióloga venezuelana Bertsch, que atua no Laboratório de Manejo de Fauna do Inpa e é artista plástica nas horas vagas
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Foto: acervo pesquisadora
Ricos em cores e saberes, murais pintados por pesquisadora, grafiteiros e comunitários mostram a união da arte e da ciência como uma ferramenta importante ao pesquisador para divulgar mensagens conservacionistas nas comunidades onde atuam. A arte retrata principalmente animais ameaçados de extinção da Amazônia, como a ave mutum-piuri, a onça pintada, o peixe-boi, o macaco-barrigudo.
A atividade é coordenada pela bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) Carolina Bertsch, que há quatro anos desenvolve trabalho de pesquisa e conservação da ave mutum-piuri (Crax globulosa) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, nos municípios de Beruri e Anori, interior do Amazonas.
“O resultado do trabalho foi maravilhoso e o impacto da ação foi positivo e marcante para a comunidade”, comemora a bióloga venezuelana Bertsch, que atua no Laboratório de Manejo de Fauna do Inpa, e é artista plástica nas horas vagas.
As atividades de educação ambiental e os murais temáticos colaborativos foram realizados na Escola Municipal Oswaldo Nazaré Veríssimo, na comunidade São Sebastião (Vila do Itapuru), e no mercadinho flutuante Ana Lice, na comunidade do Cuiuanã. A ação contou com apoio do coordenador de Educação, professor Kedson Mady. “Convidei três artistas grafiteiros de Manaus para contribuírem com suas artes, e a criançada participou do processo todo pintando a escola”, conta a bolsista.
Para a atividade, foram convidados os artistas muralistas grafiteiros de Manaus Raí Campos (conhecido como Raiz), Deborah Lemos (conhecida como Eré) e Emerson Gómez que usa o nome artístico de Soft. “Eles têm propostas e estilos diversos, porém, todos representam a natureza na sua arte e espalham mensagens de respeito à natureza, à fauna e a nós mesmos, por toda a cidade de Manaus”, explica Bertsch.
A bióloga comenta que, quando idealizou o projeto, o artista Raí foi o primeiro a abraçar a ideia para logo em seguida se juntarem os artistas Deborah e Emerson. Todos participaram como voluntários em prol do projeto e da comunidade. “Sou muito grata aos artistas por isso. Os seus trabalhos são muito bons e foi uma honra poder pintar murais junto com eles e aprender um pouco da arte do grafite e muralismo, a qual estou interessada em percorrer na minha caminhada como artista”, destaca.
“Levamos nosso conhecimento em artes e meio ambiente para contribuir com a preservação ambiental e realizar este intercâmbio cultural”, diz a artista Deborah Lemos, estudante de Artes na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Arte como ferramenta
Como bióloga e artista visual (pintora), Bertsch conta que a união da arte e com a ciência é algo natural e que faz todo sentido para ela. “Como artista, acredito que tudo é possível quando a arte é criada, além de ser um meio de mudança”, diz. “Projetos artísticos direcionados podem subsidiar, dar forma e transformar o nosso mundo sob muitos aspectos, seja no âmbito ambiental, seja social”, completa.
A pesquisadora conta que em 2015 organizou um projeto com o grupo do Facebook “Artistas e Biólogos Unidos pela Natureza” (ABUN) em prol do mutum-piuri. Na ocasião mais de 25 artistas de várias partes do mundo pintaram a espécie e tem usado a arte no trabalho de educação ambiental que realiza nas comunidades locais da Reserva.
Retribuição
Bertsch conta que nesta primeira intervenção, além de ter como objetivo a divulgação da importância de preservar espécies ameaçadas como o mutum-piuri, o mutum-fava, o peixe-boi e a onça-pintada, também foi um presente que ela quis dar como retribuição para a comunidade pelo apoio durante os quatro anos que trabalha na região.
“Acho que nós, pesquisadores, devemos começar a corresponder mais com as comunidades onde trabalhamos. Muitas vezes, fazemos pesquisas e, por diversas razões, não damos nenhum ou muito pouco retorno às comunidades que nos acolhem”, diz a pesquisadora acrescentando que essa é uma reflexão que é preciso fazer e começar a incorporar no desenvolvimento dos projetos de pesquisa.
Replicar a ação
Bertsch conta que pretende levantar recursos para replicar esse tipo de ação em outras comunidades do interior, levando a mensagem conservacionista e a arte para as comunidades. Ela conta ainda que os comunitários não esperavam que algo dessa natureza pudesse acontecer na comunidade deles e que gostariam que acontecessem mais atividades artísticas, o que para a bióloga e artista plástica sinaliza uma carência no interior.
Durante as a atividades, a frente a escola, assim como as três salas foram pintadas cada uma com murais de várias espécies de fauna local representativas de diferentes tipos de ambientes. Na primeira sala, o tema foi de fauna de ambientes aquáticos (pirarucu, jacarés, tracajás); na segunda sala, de ambientes terrestres (macaco-barrigudo, jiboia, bicho-preguiça); e a terceira sala, com aves (mutum-fava, inhambu-macucaua e arara-vermelha).
Segundo Bertsch, a comunidade participou ativamente nas primeiras etapas dos murais fazendo o fundo de cores, principalmente os jovens e as crianças, mas também pessoas de todas as idades. “Foi uma verdadeira festa de cor, alegria e criatividade para a comunidade e para nós”, ressalta.
Sobre o projeto
O projeto “Estado de conservação e uso do habitat do mutum-piuri Crax Blobulosa (Aves Cracidade) na várzea da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus” foi iniciado em 2013 junto ao Instituto Piagaçu com apoio do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Tem como objetivo preencher lacunas de conhecimento no estado de conservação desta espécie ameaçada na região do baixo rio Purus, onde já tinha sido reportada, embora não se tinham informações atualizadas nem precisas sobre seu status.
Em 2015, a bióloga ingressou no Inpa com uma bolsa de capacitação institucional para continuar com o mesmo projeto. Os trabalhos são desenvolvidos em dois setores (unidades administrativas) ao norte da reserva: no Itapuru e no Caua-Cuiuanã.
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