Inpa leva peixes-bois do semi-cativeiro para serem reintroduzidos na natureza
Os mamíferos aquáticos voltarão a nadar nos rios da Amazônia após passarem por cerca de um a cinco anos se adaptando ao semi-cativeiro. Os animais serão soltos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçú-Purus
Por: Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Como parte do projeto Peixe-Boi do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) quatro peixes-bois (Trichechus inunguis) foram retirados do semi-cativeiro, em Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus), nesta quarta-feira (5), para serem devolvidos à natureza. Os animais se juntarão a um outro indivíduo, levado do cativeiro, na sede do instituto, para serem soltos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçú-Purus, em Beruri (a 173 Km de Manaus). Três deles serão reintroduzidos nesta quinta-feira (6) e no dia seguinte será a vez dos outros dois.
Para o processo de reintrodução da espécie à natureza nessa fase de soltura, transmissores via HF são instalados na cauda do animal para que se consiga obter dados para as próximas fases do projeto, tais como a localização do peixe-boi, a profundeza e a temperatura da água. Com isso, os pesquisadores podem acompanhar o desenvolvimento do animal. Em 2016, quatro animais foram reintroduzidos à natureza, também na RDS Piagaçu-Purus.
Os mamíferos aquáticos voltarão a nadar nos rios da Amazônia após passarem por cerca de um a cinco anos se adaptando ao semi-cativeiro, um lago de aproximadamente 13 hectares (equivalente à área do Bosque da Ciência do Inpa, em Manaus), onde puderam ter contato com outros animais aquáticos, como peixes e quelônios. “Este estágio de semi-cativeiro em ambiente natural foi um diferencial muito grande na adaptação desses animais novamente à natureza”, diz a coordenadora do Projeto Peixe-Boi e pesquisadora do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa, Vera da Silva.
O projeto Peixe-Boi existe há quase 40 anos no Inpa, desenvolvendo estudos para a conservação desses mamíferos aquáticos na região. É um bem-sucedido projeto de conservação e educação ambiental sobre o maior mamífero aquático endêmico da bacia amazônica, ele não existe em nenhum outro lugar.
Para a coordenadora do projeto, o sucesso desse trabalho é do Inpa e também da colaboração de alunos de mestrado e doutorado que fizeram suas teses na obtenção de informações biológicas, além dos parceiros que apoiaram financeiramente o projeto. “Agora com o patrocínio da Jica e da empresa japonesa Itochu estamos conseguindo acelerar o processo de reintrodução dos peixes-bois”, destaca.
A pesquisadora explica que os animais no semi-cativeiro começam a se afastar dos barulhos de carros e outras perturbações e passam a buscar seu próprio alimento, ou seja, já não é mais oferecido alimento cultivado, mas somente plantas que crescem naturalmente no lago.
Silva explica também que o Inpa recebe por ano cerca de dez filhotes órfãos de peixes-bois, resgatados pelos órgãos ambientais, e que são reabilitados em tanques do Instituto. “Com a nossa experiência e os resultados de pesquisas, conseguimos ter um sucesso de reabilitação desses filhotes com uma taxa de mais de 85% de sobrevivência desses animais”, conta a pesquisadora.
As ações de retiradas dos peixes-bois do semi-cativeriro fazem parte do Programa de Reintrodução de Peixes-Bois da Amazônia, que é um dos focos de atuação do Projeto Museu na Floresta, uma parceria do Inpa com a Universidade de Kyoto (Japão) desde 2015. O Programa conta com a colaboração de tratadores, veterinários, biólogos e comunitários, numa parceria com a Associação Amigos do Peixe-Boi da Amazônia (Ampa).
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