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Adensamento populacional da zona Norte polui igarapés com nascentes na Reserva Ducke

  • Publicado: Terça, 21 de Março de 2017, 15h40
  • Última atualização em Quarta, 22 de Março de 2017, 09h29

Grupo de pesquisa em Recursos Hídricos da Amazônia (Rhania/Inpa) monitora igarapés da Ducke, focando no Acará, Barro Branco e Bolívia. Este último recebe águas vindas de bairros da Zona Norte e saem da Reserva com suas águas poluídas e contaminadas

Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa

Foto: Luciete Pedrosa e Savio Filgueiras

Ao menos seis principais igarapés que nascem dentro da Reserva Florestal Adolpho Ducke ainda estão preservados, porém dois deles (Acará e Bolívia) ao saírem da Reserva têm suas águas poluídas pelo processo de urbanização que vem ocorrendo ao redor da mais antiga base de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTIC). A informação é do pesquisador do Inpa, Sávio José Filgueiras Ferreira, que há 12 anos monitora as águas dos igarapés no local.

“O igarapé Barro Branco não têm as suas características alteradas, pois escoa em áreas de sítios e balneários, e não é atingido pelo processo de urbanização”, diz Filgueiras.

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O trabalho de monitoramento é feito pelo grupo de pesquisa Recursos Hídricos da Amazônia (Rhania) com foco em três igarapés: Acará, Barro Branco e Bolívia. A equipe percorre, no mínimo, três quilômetros de mata adentro, uma vez por semana, para fazer o monitoramento hidrológico daqueles igarapés, ou seja, verificar a quantidade de água que escoa por esses corpos d’água. As informações são importantes para entender a produção de água dessas bacias hidrológicas em áreas de terra firme em condições naturais, considerando as variações climáticas.

São igarapés de águas preservadas e de boa qualidade ambiental, com exceção do igarapé Bolívia, que recebe águas dos bairros Aliança com Deus e Cidade de Deus, ambos na zona Norte da cidade”, explica o pesquisador, o químico com doutorado em engenharia ambiental Sávio José Filgueiras, um dos integrantes do grupo Rhania. “Ao receber as águas vindas desses bairros, o igarapé Bolívia tem suas características alteradas e sai da Reserva com suas águas poluídas e contaminadas”, destaca.

Localizada no Km 26 da Estrada Manaus-Itacoatira (AM-010), a Reserva possui 10.072 hectares – como se fosse um grande quadrado de 10 km por 10 km de lado, onde são encontradas várias nascentes de igarapés. No centro da Reserva, no sentido sul-norte, está localizado um divisor de águas: à oeste, estão as nascentes dos igarapés Barro Branco, Acará e Bolívia, que deságuam na bacia hidrográfica do rio Tarumã-Açu, um afluente do rio Negro, e à leste, as nascentes dos igarapés Tinga, Uberê e Ipiranga, que drenam para a bacia hidrográfica do rio Puraquequara, um afluente do rio Amazonas.

Conforme o pesquisador, o igarapé Acará, ao receber as águas que drenam do conjunto habitacional Viver Melhor, localizado no bairro Santa Etelvina, na zona Norte de Manaus (AM), tem sua qualidade comprometida. “As águas que saem da reserva saem com uma qualidade ambiental, porém, ao receber os esgotos domésticos do condomínio Viver Melhor, causa um grande impacto, alterando as características do igarapé Acará”, destaca o pesquisador.

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O Residencial Viver Melhor, inaugurado em 2012, é o maior já entregue no país pelo programa Minha Casa, minha Vida e atende a aproximadamente 55 mil famílias, conforme informações do site do Ministério do Planejamento.  

De acordo com Filgueiras, as águas dos igarapés que saem da Reserva Ducke apresentam características naturais como pH ácido (4,5), baixa condutividade elétrica, além de baixa concentração nutrientes como cálcio, magnésio, potássio, nitrogênio e fósforo, e baixo conteúdo de coliformes fecais, que ao serem impactadas com os efluentes do residencial as águas sofrem uma contaminação modificando suas características. 

É possível que o conjunto Viver Melhor tenha uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), porém, não se sabe se funciona adequadamente. O que se sabe é que lá na Reserva, próximo ao seu limite, percebe-se que há uma grande alteração nas águas”, explica o pesquisador, que é vinculado à Coordenação de Dinâmica Ambiental do Inpa.

Em um estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) intitulado Hidrologia e hidroquímica em igarapés com origem em Reserva Florestal sob crescente pressão antrópica no seu entorno, pesquisadores do Inpa procuraram entender como se dá o processo de degradação dos recursos hídricos da Amazônia em área de terra firme, das águas que saem da reserva e passam por sítios e áreas urbanas. A pesquisa durou dois anos e encerrou em 2016.

Conforme o pesquisador, é importante o monitoramento da qualidade e de processos hidrológicos dos igarapés para se obter conhecimento das características dessas águas da nossa região, principalmente, de áreas de terra firme. “O monitoramento é fundamental na tomada de decisão na gestão dos recursos hídricos, porque o dia em que os governantes resolverem recuperar esses ambientes aquáticos, as informações poderão servir de parâmetros para um planejamento de políticas públicas”, destaca Filgueiras ressaltando que as águas dos rios amazônicos têm características peculiares e exigem uma gestão diferenciada incluindo a legislação.

Sobre o monitoramento

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Pesquisadores com ajuda de técnicos do Inpa monitoram, desde 2005, o igarapé Bolívia e, mais recentemente, o Acará e o Barro Branco. Na área de transição, entre a área de floresta e a área urbana, onde a ocupação se restringe praticamente a propriedades rurais, a interferência humana se limita a pequenas construções, permanecendo ainda áreas com vegetação, sendo alterada parte das margens dos cursos d'água, com a remoção da vegetação ripária (vegetação próxima a corpos de água) para a construção de balneários.

Todas às sextas-feiras, pesquisadores, técnicos e alunos de iniciação científica saem bem cedo da sede do Inpa em direção à Reserva para o trabalho de campo em três pontos. Durante os trabalhos, a equipe enfrenta alguns obstáculos, como trilhas no meio de áreas inundadas e lama. Além disso, têm de encarar as águas geladas no igarapé para medirem a vazão, a condutividade elétrica e a temperatura da água.

Outros dados são obtidos com um módulo que transfere informações sobre o nível d’água e temperatura de um sistema de medidas automática (estação hidrológica), realizada pelo técnico Sérgio Magno Valério de Souza. Também fazem parte da equipe de monitoramento hidrológico dos igarapés os técnicos Afonso Ligório da Mota, Maria Aparecida da Silva Dallarosa e a bolsista de iniciação científica Fabricia Adria Rio Branco Souza do Valle. 

 

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