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Estudo do Inpa mostra que chance da jaguatirica capturar presa é maior durante a lua cheia

  • Publicado: Quarta, 09 de Novembro de 2016, 09h59
  • Última atualização em Quinta, 10 de Novembro de 2016, 08h47

O estudo amostrou três áreas de floresta pertencentes ao Inpa, durante dois anos, instalando 30 armadilhas fotográficas que permaneceram por 60 dias em cada área. No total, os pesquisadores obtiveram 1.504 registros fotográficos de jaguatiricas, tatus, gambás e aves, que se utilizam do chão da floresta para se alimentar

 

Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa

Fotos: Acervo GPMA

 

Pesquisa realizada por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e da Universidade de Aveiro (Portugal) demonstrou que as chances das jaguatiricas (Leopardus pardalis), conhecidas como gato-do-mato, de capturar suas presas são maiores na lua cheia devido à maior claridade. O estudo também mostrou que as presas sofrem a influência da luminosidade da lua em seus padrões diários de atividade, e as mudanças no padrão de ambos se dão em função da relação entre presas e predador.

“Quanto mais luz, mais fácil de ver as presas, mas isso não é uma regra. A jaguatirica consegue pegar apenas alguns bichos. Outros preferem se esconder ao invés de ficarem expostos. Esses que ficam expostos são os que se arriscam para se alimentar e acabam sendo predados”, explica o bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Inpa e integrante do Grupo de Pesquisa de Mamíferos Amazônicos (GPMA/Inpa), o biólogo André Gonçalves.

A jaguatirica pertence a ordem dos carnívoros e à família felidae. É considerada um animal de médio porte, com peso variando de 6 kg a 16kg. Distribui-se, amplamente, desde o sul do Texas (EUA) até próximo à Argentina. É considerada um carnívoro oportunista, com a dieta variando de acordo com a região onde se encontra. Geralmente, a presa potencial mais abundante de um  certo lugar será a mais presente na dieta do animal. Na Amazônia, é o rato-de-espinho.

 

Jaguatirica1FotoAcervoGPMA

 

O animal tem uma dieta variada, desde lagartos, pequenas aves até mamíferos. A jaguatirica tem hábito terrestre, mas também utiliza as árvores para se locomover e capturar suas presas. As jaguatiricas caminham longas distâncias durante a noite, até aproximadamente 15 quilômetros, e captura as presas se espreitando entre a vegetação. Na lua cheia, algumas espécies de presas ficam mais ativas, então, a jaguatirica aproveita a oportunidade e aumenta suas chances de pegar mais presas.

Conforme o estudo, a adaptação da espécie em relação ao habitat em que se encontra também se dá em função de fatores abióticos, como a luminosidade lunar. O estudo publicado recentemente na revista Journal of Zoology sugere que as jaguatiricas mudam o tipo de presa (diurna ou noturna) e caçam em diferentes fases da lua. A jaguatirica mostrou ser ativa em dois picos do dia: durante a madrugada e no amanhecer. À noite, preda animais como o rato-de-espinho e a mucura. Ao amanhecer, aves, como o jacamim e o nhambu.

A pesquisa utilizou armadilhas fotográficas e testou se os padrões de atividade das jaguatiricas eram sincronizados com os de suas potenciais presas na natureza e, também, se apresentavam alguma relação com as fases do ciclo lunar. Os níveis de atividades das jaguatiricas e das presas foram avaliados através dos ciclos circadianos.

 

Crypturellus.variegatus.FotoGPMA

 

O ciclo circadiano é o período de um dia (24h) no qual se completam as atividades do ciclo biológico dos seres vivos. Uma das funções deste sistema é o ajuste do relógio biológico. “Compreender os fatores determinantes extrínsecos deste ciclo se torna relevante para a compreensão de como as espécies se adaptam e persistem em seus ambientes”, explica o pesquisador do Inpa e coordenador do GPMA, Wilson Spironello.

Adaptação

De acordo com o pesquisador da Universidade de Aveiro, Luís Pratas-Santiago, os animais podem adaptar os seus horários de atividade durante todo o ciclo circadiano para aumentar a sua aptidão e permitir a coexistência mútua, a sobrevivência. “Sabe-se que os padrões de atividade podem ser modificados em resposta a vários fatores, tanto mudanças no ambiente, quanto no nível do próprio organismo, como fisiológico, e as adaptações temporais desempenham um papel importante na estruturação das comunidades”, diz.

Segundo Pratas-Santiago, estes fatores podem ser adaptações entre presas e predadores, em que o ciclo da lua é capaz de desempenhar um papel importante nas mudanças dos padrões de vários animais noturnos. O pesquisador explica que alguns mamíferos, tais como pequenos roedores e morcegos são conhecidos por reduzir as suas atividades em noites mais brilhantes. “Este comportamento tem como finalidade diminuir a vulnerabilidade destes animais, porque predadores são mais eficazes em noites brilhantes”, destaca.

 

Cuniculus.paca.FotoGPMA

 

De acordo com André Gonçalves, que é biólogo e mestre em Ecologia, além de fatores ambientais e intrínsecos da espécie, as mudanças também podem partir de respostas a impactos humanos (fatores antrópicos). “O impacto humano também pode vir a alterar até mesmo os horários em que as espécies estão ativas. Animais que apresentam hábitos diurnos - como cutias e veados - podem vir a se tornar noturnas em áreas que sofrem com caça e diversos outros tipos de impactos”, comenta. 

Para Wilson Spironello, os resultados demonstram a plasticidade e quão oportunística é a jaguatirica, espécie que apresenta uma considerável variação no comportamento ao longo da sua ampla distribuição geográfica.  “Isto demonstra o quanto ainda precisamos entender sobre a ecologia e a história natural das espécies”, destaca o pesquisador.

Armadilhas

O estudo amostrou três áreas de floresta pertencentes ao Inpa, durante dois anos. Foram instaladas 30 armadilhas fotográficas que permaneceram por 60 dias em cada área. No total, os pesquisadores obtiveram 1.504 registros fotográficos de jaguatiricas, tatus, gambás e aves, que se utilizam do chão da floresta para se alimentar.

Os dados obtidos no estudo fazem parte de um projeto de monitoramento mais amplo do Grupo de Pesquisa de Mamíferos da Amazônia, que tem como objetivo principal avaliar os efeitos do impacto humano em diferentes reservas florestais na Amazônia Central.

A pesquisa foi realizada na Reserva Florestal Adolpho Ducke (situada no Km 26 da Estrada AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara); na Reserva Biológica do Cuieiras (a 60 quilômetros ao norte de Manaus, na BR-174) e na Reserva do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), localizada a 80 quilômetros ao norte de Manaus, também na BR-174.

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