Cerrado brasileiro precisa ter uso sustentável, diz professor da UFMG em palestra no Inpa
Grande parte do cerrado brasileiro é ocupada pela agricultura e pastagens, restando poucas áreas intactas. São 54 milhões de hectares de pastagens, 72 milhões de cabeça de gado e 21 milhões de hectares de área cultivada, com soja e milho, por exemplo
Da Redação – Ascom Inpa
Foto: Cimone Barros – Ascom Inpa
Repensar o cerrado, levando em conta a biodiversidade do bioma, a sua importância estratégica na segurança alimentar e hídrica, mostrando que é preciso melhorar o seu uso para que seja sustentável. Este foi o objetivo da palestra do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ecólogo Geraldo Wilson Afonso Fernandes, em palestra nesta sexta-feira (21), na reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTIC).
Com o tema “Bioma Cerrado e interface com a Amazônia”, Fernandes destacou que o cerrado representa 25% do território brasileiro, a segunda maior formação vegetal do Brasil e da América do Sul, além de ser a savana mais diversa do mundo quando comparada com a africana e australiana. Grande parte do cerrado brasileiro é ocupada pela agricultura e pastagens, restando poucas áreas intactas, como Matopiba – vegetação nativa entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que mais sofre com o avanço do agronegócio no país.
O cerrado brasileiro responde por 35% de toda a produção de grão dos país. “Temos que restaurar as áreas degradadas com as espécies adequadas, trazer o cerrado de volta para suas origens e assim ter o uso mais correto dos seus recursos”, disse Fernandes. “Isso vai propiciar um ganho muito grande, um retorno dos processos e mecanismos de funcionamento, que trarão mais biodiversidade e serviços ambientais”, complementa o professor, que veio a Manaus participar do Congresso de Biotecnologia Sustentável na Biodiversidade Amazônica, que ocorreu de 17 a 20 deste mês, no Inpa.
O cerrado é um bioma de vegetação, em geral, não florestal, composta de muitos arbustos e ervas que geralmente se localizam em solo com poucos nutrientes e estressados, principalmente em algumas regiões da África, Austrália e na região central do Brasil. Por outro lado, segundo Fernandes, devido às variações geológicas e às dinâmicas das florestas do mundo, há várias áreas de savana na floresta amazônica, como campina, campinarana e outras savanas.
Conforme Fernandes, o cerrado exerce um papel importante na biodiversidade e economia, com várias espécies que servem de alimento para uma fauna específica e espécies que produzem uma grande quantidade de compostos químicos de importância econômica e madeireira. “O cerrado tem também espécies muito bonitas que podem ser usadas para ornar nossas casas e jardins, como orquídeas, palmeiras, e, muitas vezes, levamos para casa uma flora comum, que se encontra em todo o mundo como é a flor do deserto”, destaca o ecólogo.
O cerrado pode ser visto como uma floresta de cabeça para baixo, onde grande parte da biomassa encontra-se escondida debaixo da terra, protegida do fogo e calor exaustivo, algo comum no bioma. A estratégia das plantas para se tornarem diferentes foi possível, segundo o professor, após milhões de anos de evolução.
“Quando não se enxerga isso, e se pensa apenas em biomassa em cima da terra, você negligencia essa contribuição do cerrado, achando que ele é um ambiente que não contribui com nada no sequestro de carbono, que é uma visão que não tem fundamento científico”, assegura.
Atualmente apenas 6% da área do cerrado estão protegidas. Para tentar barrar o avanço da destruição, Fernandes propõe aumentar o conhecimento sobre o bioma, educar a população, políticos e tomadores de decisão sobre a importância do cerrado, desenvolver khow-how no extrativismo, proteger o bioma e as comunidades tradicionais – como indígenas e quilombolas -, e desenvolver políticas públicas, como tornar o cerrado um patrimônio nacional.
Geea
Na oportunidade foi lançado o VIII tomo do Geea, que trata sobre três temas: Biotecnologia aplicada à piscicultura, de autoria de diretor do Inpa, Luiz Renato de França; Socioeconomia na Amazônia, do empresário Osíris Silva; e Comunicação na Amazônia, do diretor da Rede Amazônica de Rádio e Televisão, Luis Augusto Pires batista.
A coletânea é organizada a partir dos debates realizados nas reuniões do grupo, formado por estudiosos e especialistas de várias áreas do conhecimento, de diversas instituições. Em 2017, o grupo completará dez anos de existência. “A obra traz o registro dos debates, dos dados científicos e o mais importante, das interpretações feitas por pessoas competentes com atuação na Amazônia e uma visão de conjunto, que traz arcabouço e profundidade para as análises”, destaca o secretário-executivo do Geea, o pesquisador do Inpa Geraldo Mendes.
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