Pesquisadora do Inpa lança livro trilíngue sobre árvore embaúba para o público infantil
Noemia estuda cogumelos há 25 anos e, embora, este seja o seu principal foco de pesquisa, resolveu colocar no papel a história da embaúba
Texto e foto: Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Quem nunca teve um bichinho de estimação ou dedicou atenção especial a uma planta ou um item de coleção? Foi o que aconteceu com a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Noemia Kazue Ishikawa. No livro “Embaúba: uma árvore e muitas vidas”, ela conta a história da paixão por uma árvore especial. O livro trilíngue (português, inglês e japonês), foi escrito em parceria com o também pesquisador do Instituto, William Magnusson, e com o professor da Universidade de Kyoto, Takakazu Yumoto. O livro será lançado, em Manaus, nesta quarta-feira (12), às 17h, na Livraria Leituras.
Lançado recentemente pela Editora Escrituras, em São Paulo, o livro esteve em exposição no estande da Fundação Japão, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores do Japão, na 24ª Bienal Internacional do Livro, que aconteceu em São Paulo, de 26 de agosto a 4 de setembro. O livro também se destaca pelas ilustrações em aquarela feitas pela artista amazonense Hadna Abreu.
Durante o lançamento, na Livraria Leituras (localizada no segundo piso do Amazonas Shopping, zona Centro-Sul de Manaus), haverá uma sessão de autógrafos com os autores Noemia Kazue e William Magnusson, além da ilustradora Hadna Abreu. Os 15 primeiros livros contarão com o autógrafo do chef Alex Atala, que escreveu o prefácio.
A obra é baseada numa história real sobre a paixão por uma árvore de embaúba (Cecropia sp.), que a pesquisadora Noemia avistava todos os dias pela janela do seu laboratório, no Campus III do Inpa, até que um dia foi arrancada para dar lugar a uma calçada. “Eu gostava muito daquela árvore porque no entorno dela apareceram vários cogumelos. Eu estava estudando esses cogumelos e toda a interação que existia ao redor da árvore”, conta a pesquisadora.
O livro conta de forma lúdica como uma professora e seus estudantes descobriram, enquanto pesquisavam cogumelos na Amazônia, o importante papel da embaúba na natureza e sua relação com os demais seres vivos. “Eu estava querendo escrever um artigo para criança sobre os bichos que se alimentavam dessa árvore e o artigo seria sobre a árvore, mas acabou virando um livro contando o que aconteceu com a embaúba”, revelou.
A história narra que ao redor de um pé de embaúba oito cogumelos Phlebopus brasilienses cresciam, formando o círculo chamado de “colar de fadas”. Desde esse dia, a pesquisadora e os estudantes passaram a estudar a embaúba e aprenderam muito a seu respeito. “As preguiças adoram as folhas e os frutos da embaúba. E os morcegos também gostam de comer os frutos. Já os macacos guariba chegavam em bando para comer suas folhas e frutos. A embaúba parece até um restaurante, pois vive lotada!”, descreve o livro.
Incentivo
Noemia estuda cogumelos há 25 anos e, embora, este seja o seu principal foco de pesquisa, resolveu colocar no papel a história da embaúba após contar sobre o amor que sentia por aquela árvore para o professor Yumoto. Ele gostou da história e a incentivou a escrever o livro.
“Era uma árvore, mas ali tinha toda uma história que era vista da minha janela. Eu olhava as formigas, os pássaros, os cogumelos. Todo dia eu via a vida acontecendo naquela árvore”, conta a pesquisadora. “Só que um dia a derrubaram. E enquanto o livro não saiu foi como se eu estivesse de luto por ela durante todo esse tempo”, desabafa.
Para a pesquisadora e coordenadora do curso de Pós-Graduação em Ecologia do Inpa, Albertina Lima, o livro mostra como o efeito antrópico (a ação do homem de retirar a árvore) pode mudar a vida de uma pessoa. “Essa é uma maneira poética de fazer conservação e isso mexe com o sentimento das pessoas”, diz.
A pesquisadora Noemia conta que começou a escrever há quatro anos, junto com o professor Yumoto, o primeiro rascunho em japonês para o público infantil. As primeiras linhas saíram ainda numa viagem de barco durante uma expedição pelo rio Negro. Logo depois, mostrou o esboço do livro, já na versão em português, para o doutor Bill, como é conhecido o pesquisador do Inpa William Magnussom. Natural de Sidney (Austrália) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (INCT-Cenbam), foi responsável para passar para o inglês, dando sua contribuição, também, com o conhecimento na parte ecológica.
Noemia revela que o fim original da história descrevia que a embaúba foi derrubada para construir uma calçada, porém, o professor Yumoto e o doutor Magnussom ajudaram-na a escrever outro final, dando uma continuidade para a história. “Mas nem tudo está perdido - as sementes daquela embaúba foram levadas pelos animais. Outras embaúbas continuam fazendo parte da teia da vida em outros lugares”, narra o livro.
“Esse final é mais positivo e confortou o meu coração pela perda da embaúba”, revela Noemia. “Agora sei que a árvore não será esquecida, porque a história está sendo lida tanto no Brasil, como nos Estados Unidos e no Japão”, festeja.
Desafios
Escrever de forma lúdica para o público infantil foi um desafio, já que os pesquisadores são preparados para escrever artigos científicos. “Mas foi prazeroso, porque foi escrito de forma harmônica e entre amigos”, conta Noemia, que também publicou em 2014 um livro de crônicas intitulado “A porteira azul e outras histórias”.
Outra contribuição veio do renomado chef de cozinha Alex Atala, que escreveu o prefácio do livro, e conheceu a doutora Noemia há poucos anos, em uma expedição de cogumelos, na Amazônia. “Nessa história, os autores mostram como uma árvore pode ser um catalisador de vidas e de emoções; no solo, no céu e na terra”, escreve Atala no prefácio.
A publicação do livro contou com o apoio da Editora Escrituras, que acreditou no projeto da pesquisadora e investiu no lançamento da obra que está à venda na Livraria Cultura de São Paulo. “Fiquei contente porque os editores acreditaram no meu trabalho. Isso é importante para os pesquisadores saírem do cotidiano de artigos científicos e ousar atingir outro público”.
Literaturas deste tipo são objetivadas nos Programa INCT-Cenbam e Museu na Floresta, financiados pelo CNPq e FAPEAM para a inserção da ciência na sociedade. O lançamento realizado na Livraria Cultura em São Paulo teve o apoio financeiro da Agência de Cooperação Internacional Japonesa (JICA-Brasil).
Os interessados podem encomendar o livro pelo email: vendas@escrituras.com.br (R$ 31) ou pelo site da Livraria Cultura (R$ 35), ou ainda, se preferirem, podem adquirí-lo na Livraria Leituras (R$ 35).
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