Proposta de prótese ortopédica com fibras vegetais vence o Prêmio Samuel Benchimol
O projeto do Laboratório de Engenharia de Madeira do Inpa utilizará fibras extraídas das folhas de abacaxi e curauá, plantas que possuem excelentes propriedades físicas, químicas e mecânicas, fundamentais para a geração de superplásticos naturais
Da Redação - Ascom Inpa
Foto: Luciete Pedrosa
Pela quarta vez a equipe do Laboratório de Engenharia de Madeira do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) ganha o Prêmio Samuel Benchimol. Com o projeto de uma proposta inovadora para a “Confecção de próteses ortopédicas com fibras vegetais de espécies nativas da Amazônia” a equipe do laboratório foi agraciada com o primeiro lugar na categoria Projetos de Natureza Econômica-Tecnológica.
A equipe do projeto é formada pelo pesquisador Jadir Rocha, responsável pelo Laboratório de Engenharia de Madeira, pelas tecnologistas Tereza Bessa e Cynthia Pontes, e pelas pesquisadoras Katia Loureiro Ramos e Vania Camara. Com a proposta agraciada, agora os pesquisadores e tecnologistas se preparam para enfrentar novos desafios: desenvolver uma solução tecnológica literalmente verde, de excelente qualidade e com baixo custo e obter recursos juntos as agências e instituições financiadoras para executar o projeto.
O projeto para a fabricação de próteses do modelo tipo transtibial (amputação na área da panturrilha, abaixo do joelho) será desenvolvido com matérias-primas de duas espécies de plantas nativas da Amazônia, curauá (Ananas erectifolius L.B.Sm) e abacaxi (Ananas comosus (L.) Merril).
“Mais uma edição do Prêmio Samuel Benchimol e a nossa equipe mais uma vez foi premiada. Isto é a confirmação de que estamos apresentando propostas extremamente relevantes para o desenvolvimento científico e tecnológico utilizando matérias-primas da região”, diz o pesquisador Jadir Rocha.
De acordo com Rocha, as duas plantas possuem “excelentes propriedades físicas, químicas e mecânicas”, fundamentais para a geração de superplásticos naturais, mais leves e resistentes que os polímeros (plásticos) convencionais, utilizados industrialmente e com resistência similiar às fibras de carbono, de vidro e de titânio.
O pesquisador explica que as folhas da curauá e do abacaxi serão extraídas e processadas para a obtenção de fibras. Estas fibras serão trabalhadas em escalas nanométricas (pequenas partículas) que podem chegar a materiais com alta resistência mecânica, como o aço e o titânio e substituir as próteses de madeiras, por exemplo.
Atualmente, na produção de próteses existentes no mercado são empregados vários tipos de materiais, como a borracha, o aço, o alumínio e mais, recentemente, os termopláticos sintéticos, o titânio e a fibra de carbono. Estes dois últimos são considerados os melhores pelas características e propriedades, porém, são importados e de custos elevados, o que os torna inacessíveis e poucos amputados têm acesso a essas próteses.
“A proposta do Inpa será cerca de duas a três vezes mais baratas do que as existentes no mercado”, destaca Rocha ao comentar que os ensaios para a confecção das primeiras próteses serão realizados em várias instituições. Uma parte será nos laboratórios da Coordenação de Tecnologia e Inovação (Coti/Inpa) e outra parte, como a modelagem, construção e avaliação dessas próteses, em outras instituições e universidades parceiras na região Sudeste do Brasil. A previsão para conclusão dos estudos da prótese é de dois anos.
De acordo com o pesquisador, a proposta para confecção de próteses, que vão desde o pé até se encaixar no joelho, é poder usar fibras extraídas das folhas da curauá e do abacaxi que possuem alta resistência mecânica, o que é fundamental para o projeto que o pesquisador pretende desenvolver. Ele explica que estas fibras são superiores ao sisal, uma planta de origem mexicana e que o Brasil é o maior produtor do mundo dessa matéria-prima utilizada na fabricação de cordoarias (cordas, fios e tapetes).
“Temos aqui duas espécies com qualidade superior ao do sisal e podemos a partir de agora desenvolver os superplásticos naturais em substituição aos plásticos sintéticos e diversos outros materiais”, destaca o pesquisador, acrescentando que a coleta da folha do abacaxi será feita com os produtores da região de Iranduba (AM) e a coleta da curauá será feita na região de Santo Antônio de Tauá, a cerca de 170 quilômetros de Belém (PA).
Trajetória
Desde 2000, Rocha e a equipe do Laboratório de Engenharia de Madeira já acumulam sete prêmios, dentre eles destacam-se: Prêmio Fucapi CNPq de Tecnologia – 1º lugar obtido em 2000; 3º lugar em 2001; 1º lugar em 2002; Prêmio Professor Samuel Benchimol – 2º lugar (2008); 3 º lugar (2011 e 2015); e agora, conquistaram o 1º lugar (2016).
Mais de cem espécies de madeiras da Amazônia que servem para diversas categorias de uso, desde pisos a instrumentos musicais já foram estudadas pelo Laboratório de Engenharia da Madeira do Inpa. Nos últimos anos, os pesquisadores do laboratório focaram o estudo de matérias-primas vegetais de origem não madeireira, desenvolvendo o painel de buriti e inajá (forros e divisórias), o tijolo vegetal para utilização na construção civil (que utiliza casca de coco, caroço de tucumã, ouriço e casca da castanha), além dos paineis de diversos tipos de folhas e a utilização da madeira da pupunheira para a confeçção de instrumentos musicais, móveis rústicos de galhos e pequenos objetos.
Prêmio Samuel Benchimol
O Prêmio Professor Samuel Benchimol tem o objetivo de valorizar e incentivar ideias que tragam benefícios e ajudem a desenvolver a região. A cerimônia de premiação será no dia 28 de outubro em Belém. O Prêmio é divido em três categorias: Projeto de Natureza Ambiental, Projetos de Natureza Econômico-Tecnológica e Projetos de Natureza Social.
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