A redução da violência no Brasil passa pela cidadania, diz Minayo em palestra no Inpa
Para a professora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz-RJ Maria Cecília Minayo, é importante que nas cidades existam projetos de inclusão das pessoas na cidadania, porque isso gera transformação social
Por Cimone Barros (texto e foto) – Ascom Inpa
O contrário da violência não é a não-violência, é a inclusão da população na cidadania, na cidade, no lugar onde moramos. Não podemos comparar, mas é isso que os países europeus conseguiram. A afirmação é da professora e socióloga Maria Cecília Minayo, ao falar sobre violência urbana com foco no homicídio em reunião na manhã desta quarta-feira (27), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA) do Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). À tarde, ela fez palestra sobre o suicídio entre idosos no Brasil.
Minayo é coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (ENSP-RJ), grupo que se dedica há 28 anos ao estudo da violência, que é um fenômeno complexo, histórico e indicador de qualidade de vida, sendo o homicídio o seu indicador mais letal.
“Entendo por violência urbana a violência social, de gênero, de idade, que ocorre no ambiente das cidades. Ela é conformada com um sistema em que entram desde a história, as condições socioeconômicas, a cultura até a subjetividade, ou seja, como os sujeitos, as pessoas fazem para transformar a cidade”, explicou Minayo.
No Brasil, as mortes violentas, como homicídios e acidentes de trânsito, ocupam a terceira posição entre as causas de mortalidade, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e o câncer. No país, a taxa de mortes violentas é de 26 por 100 mil habitantes, praticamente metade do que era na década de 1990, mas ainda é preciso baixar muito, já que o aceitável é 10/100 mil habitantes. Em Manaus, é algo em torno de 12 /100 mil habitantes, segundo a titular da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), Graça Prola.
Conforme a professora, não dá para acabar com a violência, mas é possível reduzi-la mexendo com questões estruturais. E é fundamental primeiro que todos se incluam dentro da questão, porque todos, com exceção das crianças e dos incapazes, são potencializadoras ou pessoas que podem atuar em movimento, na política, na cultura, na religião e na família para a transformação social.
“É muito importante que nas cidades existam projetos de inclusão das pessoas na cidadania, porque isso vai gerar transformação social”, disse Minayo. “O programa Fica Vivo, de Belo Horizonte-MG, o de Jardim Ângela-SP, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio de Janeiro, apesar das controvérsias, são programas que mostram que atuações complexas, que articulam a população, o poder público, sobretudo em torno da juventude, promovendo coesão e quando necessário a coerção, são fundamentais”, complementou.
Para o diretor do Inpa, o pesquisador Luiz Renato de França, o tema é atual e muito importante. “A violência permeia todas as culturas e sociedades. E não é só a que a gente vê, mas também a psíquica, a psicológica”, destacou o diretor, que entregou o certificado de participação do GEEA para a professora Minayo.
Conforme Graça Prola, como disse Minayo, é preciso reduzir a violência pela inclusão, pela cidadania, mas uma cidadania que vai além da documentação, trabalho feito em muitos bairros de Manaus. “É preciso qualificar esse trabalho no sentido de que ele não seja pontual, mas sistemático e esteja imbuído de um processo educativo”.
Para atuar na redução dos crimes de homicídios, o Governo do Estado deve lançar ainda no primeiro semestre deste ano o Programa Estadual Todos pela Vida. De acordo com a secretária da Sejusc, há pelo menos seis meses técnicos do governo de várias secretarias trabalham no plano do programa, que terá o piloto no Jorge Teixeira, bairro da zona Leste que permanece há dois com maior número de homicídios.
GEEA
O GEEA se reúne a cada dois meses para discutir temas relevantes para Amazônia e é formado por pesquisadores, professores, empresários, gestores públicos e sociedade civil organizada. O secretário-executivo é o pesquisador do Inpa, Geraldo Mendes, que na oportunidade anunciou a professora Cecília Minayo como membro efetiva do grupo.
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