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Barragens na Amazônia destroem ricas biotas aquáticas e terrestres do mundo, diz estudo

  • Publicado: Segunda, 21 de Março de 2016, 15h54
  • Última atualização em Segunda, 21 de Março de 2016, 15h55

“As barragens planejadas não são uma parte inevitável do desenvolvimento do Brasil, porque elas não são necessárias”, ressalta o pesquisador do Inpa Philip Fearnside, para quem o Brasil tem melhores opções de geração de energia, dispondo de um enorme potencial em outras fontes renováveis, como a eólica e a solar

Da Redação da Ascom – Inpa

Foto: Acervo Philip Fearnside

Para assegurar a independência energética e a exploração de recursos minerais, os governos dos países amazônicos estão promovendo uma “corrida desenfreada” na construção de grandes barragens por toda Amazônia. Essa pressa tem causado graves impactos sobre as mais ricas biotas aquáticas e terrestres do mundo. O alerta é de uma equipe de pesquisadores dos EUA, do Brasil e do Reino Unido, dentre eles estudiosos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).

“A diversidade de organismos de água doce na Amazônia ainda é pouco conhecida, sendo que de 30% a 40% dessas espécies ainda não foram formalmente nomeadas”, destaca o pesquisador do Inpa, o doutor em Ecologia Jansen Zuanon.

Em artigo publicado neste mês, na revista científica Biodiversity and Conservation, os pesquisadores afirmam que as bacias hidrográficas da Amazônia e do Tocantins representam 6% do potencial hidrelétrico global. Os nove países que compõem o bioma amazônico já construíram 191 barragens em toda a bacia e estão planejando desenvolver outras 246 barragens adicionais.

Segundo os pesquisadores, a maioria destas barragens está concentrada no sul da Amazônia brasileira. Dentre elas, inclui-se a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, uma obra polêmica e com forte impacto, principalmente, sobre as comunidades indígenas e sobre a biodiversidade regional. A hidrelétrica já recebeu a licença final e deve começar a gerar energia ainda este mês. Até 2019, quando estará concluída, terá capacidade de gerar 11.233 megawatts.

“As barragens planejadas não são uma parte inevitável do desenvolvimento do Brasil, porque elas não são necessárias”, ressalta o pesquisador do Inpa, o doutor em Ciências Biológicas, Philip Fearnside. Segundo ele, o Brasil tem melhores opções de geração de energia e dispõe de um enorme potencial em outras fontes renováveis, como a eólica e a solar.

 

RioXinguFotoPhilipFearnside

 

De acordo com o trabalho dos pesquisadores, que fizeram a revisão na literatura para sumarizar os impactos da construção de barragens na biodiversidade na Amazônia, esses 437 empreendimentos hidrelétricos acabarão com habitats raros dos rios da região, como corredeiras e pedrais. Estes locais são o lar de muitas espécies endêmicas, ou seja, de espécies que não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta.

Para os pesquisadores, a expansão da rede de energia hidrelétrica não visa apenas garantir a segurança energética nacional, ela também facilita a expansão das operações de mineração de bauxita, níquel, cobre e ouro, fornecendo energia elétrica subsidiária para as indústrias desse setor.

Segundo a publicação, a expansão na rede de barragens vai resultar em enormes alterações aos rios amazônicos por obstruir o movimento da fauna aquática, tanto a montante quanto a jusante, submergindo essas corredeiras sob enormes lagos, inundando as florestas adjacentes e criando ilhas de floresta que não podem sustentar populações viáveis de muitos animais e plantas.

Medidas para minimizar os impactos

Os pesquisadores propõem uma série de medidas possíveis para minimizar os impactos ambientais de hidrelétricas na Amazônia. Dentre elas, evitar construir grandes usinas nas partes baixas dos grandes afluentes, redirecionando esforços para usinas menores em trechos intermediários dos rios; realizar análises para avaliar os impactos de uma combinação de pequenas e grandes usinas hidrelétricas considerando bacias hidrográficas inteiras e não estudos isolados dos impactos de cada empreendimento.

Além dessas medidas, os pesquisadores também propõem que seja diversificada a matriz energética brasileira e dos países amazônicos vizinhos, reduzindo a dependência em relação à energia hidrelétrica por meio de investimentos em outras fontes renováveis de energia, como a eólica, fotovoltaica, e produção de gás a partir do lixo; reduzir as perdas de energia nas linhas de transmissão e modernização ou repotencialização de usinas antigas.

De acordo com o autor principal, o Dr. Alexander Lees, da Universidade de Cornell, nos EUA, o atual regime de construção das represas irá mudar para sempre o processo de perturbação humana nas terras baixas da Amazônia e irá resultar na extinção de uma miríade de espécies que constituem o ecossistema de água doce da maior biodiversidade do planeta.

 

StoAntoniofishpassageFotoPhilipFearnside

 

Um dos coautores da publicação, o professor Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, diz que plantas lenhosas silvestres, mesmo terrestres em áreas de florestas bem acima do nível de água dos reservatórios de hidrelétricas, não estão seguras. Segundo ele, estas populações podem acabar “presas” em arquipélagos artificiais, nos quais a biodiversidade está condenada a se empobrecer ao longo do tempo através dos estragos causados pelo isolamento, pelas mudanças no habitat e pelos efeitos de borda.

Os pesquisadores ressaltam que, embora muitas espécies ameaçadas pelas barragens na Amazônia brasileira estejam formalmente protegidas pela legislação brasileira de serem caçadas ou comercializadas, existem disposições legais que permitem que sejam extirpadas por estes projetos de construções de barragens na Amazônia.

De acordo com o consultor legislativo na área de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Mauricio Schneider, esta falta de proteção legal para a fauna amazônica ameaçada de extinção global está em forte contraste com a situação na Mata Atlântica brasileira, onde uma lei confere proteção a espécies ameaçadas se a intervenção colocar em perigo a sua sobrevivência. O consultor afirma que um projeto de lei (nº 3.4486 de 1989), propondo uma proteção semelhante para a o bioma amazônico foi rejeitado na Câmara e que estas medidas devem ser reconsideradas.

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