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Com recursos escassos, Niro Higuchi concentrará esforços do LBA em poucos locais de pesquisas

  • Publicado: Quinta, 17 de Março de 2016, 15h22
  • Última atualização em Quinta, 17 de Março de 2016, 15h22

O pesquisador do Inpa é o novo gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).

 

Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa

Foto: Paulo Mindicello

 

Chegou a hora de cair na realidade e tentar adequar nossos sonhos e metas originais ao orçamento que temos”. A afirmação é do novo gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Niro Higuchi. O pesquisador diz que focará sua gestão em duas prioridades: formação de pessoal e a organização do Banco de Dados.

Para Higuchi, o principal desafio de sua gestão será concretizar as prioridades estabelecidas e mostrar que, no momento, o mais importante é se concentrar em poucos sítios, que são locais de pesquisas. “Não adianta querermos ir além do alcance de nossas pernas. Não dá para cobrir toda a Amazônia, então é melhor concentrar em pouco e fazer bem feito”, diz o gerente científico.

Mas isso não quer dizer que serão eliminados os outros sítios. A proposta do pesquisador é dar prioridade para alguns lugares e tentar otimizar a utilização do orçamento. Para ele, não há outra forma de fazer a gestão se não for assim.

O LBA é uma iniciativa de cooperação nacional e internacional, gerenciada desde seu início oficial, em 1998, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e coordenada pelo Inpa. Mantém núcleos em Manaus (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Rio Branco (AC), Ji-Paraná (RO), Cuiabá (MT), Palmas (TO) e Brasília (DF). Cerca de 280 instituições estão envolvidas em projetos com o LBA, sendo mais de 100 delas brasileiras e mobilizando em torno de 1.700 pesquisadores do quais mais de 1000 brasileiros, além de 900 estudantes e jovens pesquisadores.

Niro Higuchi é coordenador de projetos sobre Manejo Florestal e Dinâmica de Carbono do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Madeiras da Amazônia. Na bagagem, o pesquisador carrega a colaboração no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), sendo um dos um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2007.

De acordo com o pesquisador, em 2015, o orçamento do LBA foi em torno de R$ 3 milhões, o que, segundo ele, dá apenas para manter funcionando a máquina do LBA, como os gastos na manutenção dos sítios, alimentação de pessoal e óleo diesel.

 

Niro HuguchFoto PauloMindicello

 

Para 2016, Higuchi explica que, além dos cortes naturais que ocorreram nos ministérios, não existe uma garantia de que esse orçamento seja liberado para o LBA. Vivemos nessa incerteza”, enfatiza o gerente científico ao referir-se que o LBA, numa primeira fase, teve o apoio internacional da Agência Espacial Americana (Nasa) e de vários consórcios europeus.

Essa primeira fase foi de muitas atividades de pesquisas, de interações e de publicações. Depois entramos numa segunda fase quando o governo brasileiro assumiu o LBA”, explica Higuchi. “O que temos hoje é um LBA com os sonhos e as aspirações da primeira fase, mas sem o dinheiro dessa fase e, sim, recursos infinitamente menores”, acrescenta.

Para o pesquisador, o grande legado do LBA da primeira fase, que pode ser medido aqui no Brasil, em especial na Amazônia, é a quantidade de pessoas formadas (420 mestres e 296 doutores). “Se isso é um indicador de desempenho, vamos continuar investindo na formação de pessoal”, diz Higuchi.    

Queremos a colaboração dos nossos parceiros na formação de pessoal e na qualidade do Banco de Dados que foram e estão sendo coletados e, também, na manutenção dessa infraestrutura que o LBA tem”, enfatiza o gerente científico. “Claro que queremos publicar o máximo e produzir conhecimento, para isso vamos tentar envolver a pós-graduação do Inpa nos nossos sítios de pesquisas e incentivar os parceiros do LBA, especialmente, os estrangeiros a se engajarem nesses programas”, acrescenta.

Fontes

Niro Higuchi reconhece que 2015 foi difícil e este ano deve ser “pior” para a pesquisa. Segundo ele, as principais fontes de financiamento estão sem dinheiro e vê com certa dificuldade angariar novos recursos para o LBA. “Vamos tentar buscar recursos nas fontes de fomentos no Estado e em nível federal com o CNPq, Capes e Finep, mas infelizmente todas essas fontes estão passando por dificuldades”, diz o pesquisador, ressaltando a existência de outras fontes como o Fundo Clima e o Fundo Amazônia.

Além desses, Higuchi conta que fora do Brasil os recursos podem vir do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que financiará o projeto Experimentos da próxima Geração sobre Ecossistemas Tropicais (NGEE-Tropics, na sigla em inglês), e da Comunidade Europeia que tem projetos envolvidos com o LBA.

Para o pesquisador, o LBA é o maior projeto que focou num entendimento dessa relação entre a biosfera e atmosfera. Uma biosfera em condições naturais e uma atmosfera em mudança com ou sem feitos naturais. “E lá se vão mais de 20 anos de estudos nessa direção”, conta Higuchi, lembrando que muitos pesquisadores do LBA colaboraram com o IPCC, também ajudaram na definição de certos conceitos que até então eram ambíguos, e participaram na elaboração de procedimentos e de como fazer essas avaliações.

O LBA tem um papel importante e é o único projeto do mundo nessa área que pode ter essas informações para servir de referência em mudança climática”, acrescenta Higuchi.

Para o pesquisador, é importante manter o LBA porque ainda é pouco o tempo para se estudar a Amazônia. “Imagine que aqui perto de Manaus encontramos uma árvore de quase 1.400 anos de idade. Então, para ela chegar ao seu estágio de desenvolvimento levou 1.400 anos. Como podemos ter em 20 anos acesso de como ela funciona? Não estamos nem na idade do feto dessa árvore”, brinca o pesquisador.

Segundo o pesquisador, estudos como este são de longo prazo e eventos extremos estão acontecendo na Amazônia. “Ninguém está conseguindo prever estes eventos. Não tem como ficar esperando a vida inteira”, alerta o pesquisador.

Na opinião do gerente científico do LBA, é preciso trabalhar com modelos para fazer as previsões. “Os nossos modelos são ruins e as incertezas são grandes”, afirma. Segundo ele, uma maneira de melhorar as incertezas e dar mais confiança para os que vão planejar as políticas públicas seria ter mais verdade de campo, que são as medidas que o LBA faz.

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