Seminário de Entomologia no Inpa debate o conservacionismo na Amazônia
Para diretor da WCS Brazil, o geógrafo Carlos Durigan, a Amazônia está virando um grande canteiro de obras e se transformando numa outra Amazônia, sem floresta e com rios poluídos
Por Luciete Pedrosa (texto e foto) – Ascom Inpa
Pelo menos 50% da Amazônia estão protegidas, não só pelas unidades de conservação, mas também pelas Terras Indígenas. O assunto foi discutido pelo diretor da WildLife Conservation Society (WCS Brazil), o geógrafo Carlos Cesar Durigan, nesta quinta-feira (3), durante o Seminário de Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). O seminário é destinado novos alunos de pós-graduação do Instituto e o público interessado em questões ambientais na Amazônia.
O Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) define unidade de conservação como o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público com objetivos de conservação e limites, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
“Temos acompanhado alguns estudos demonstrando que as Terras Indígenas também têm um papel fundamental para a conservação da Amazônia”, diz Durigan ao comentar que não se pode falar em conservacionismo sem fazer ciência. “A conservação que queremos para a Amazônia tem a ver com a necessidade de termos as bases científicas para nossas tomadas de decisões”, acrescenta.
A WCS Brazil (na tradução livre significa Associação para a Conservação da Vida Silvestre) é uma organização global com sede nos Estados Unidos e está presente em vários países trabalhando com conservação em nível global. No Brasil, iniciou os trabalhos nos anos 70 com pesquisas em parcerias com agências governamentais na implementação de áreas protegidas.
Em 2004, foi criada, no Rio de Janeiro, a WCS Brazil, sendo transferida há pouco tempo para Manaus. Funciona no Minicampus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Departamento de Biologia, Setor Sul, Bloco H. Trabalha com dois programas de atuação. O Programa Bioma Amazônia, que visa o fortalecimento e a gestão de áreas protegidas, e o Programa Bioma Pantanal voltado para a conservação junto aos proprietários rurais do Pantanal.
Durante a palestra, o diretor da WCS Brazil também comentou que a Amazônia está virando um grande canteiro de obras e se transformando numa outra Amazônia, “sem floresta e com rios poluídos”. Ele explica que o processo de implementação da infraestrutura trazido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo Federal, com a exploração dos recursos naturais em grande escala é um risco para a Amazônia deixar de ser Amazônia.
Na opinião do conservacionista, esse modelo do governo Federal não tem a sustentabilidade e a conservação como base para o planejamento das obras e faz com que a Amazônia deixe de ter este viés, que passou a ter a partir nos anos 90, com foco na conservação e que mostrou ao mundo o potencial que a região tem que se desenvolver de forma diferenciada.
“O que vemos hoje é uma retomada daquele modelo antigo dos anos 60 na época do militares, que pregava que para desenvolver a região é preciso devastar”, ressalta.
Formação
De acordo com o coordenador do Seminário, o pesquisador Marcio Oliveira, a série de palestras tem a proposta de trazer para os novos alunos uma visão geral sobre a Amazônia. Segundo ele, na maioria das vezes, os alunos chegam já definido que vão trabalhar com certos grupos de insetos e não percebem os demais temas ligados ao projeto de cada um. “Não percebem o quanto a questão indígena, a devastação, as mudanças climáticas também são importantes”, diz.
“Por isso convidamos vários especialistas da região para darem uma visão geral sobre questões amazônicas, que são importantes para o profissional que estamos formando”, ressaltou Oliveira. “Queremos formar um profissional de alto nível e que estejam percebendo o que está acontecendo ao redor deles”.
Também na manhã desta quinta-feira, o mestrando do Inpa, Gersonval Monte, falou sobre as principais endemias na Amazônia. À tarde, o ciclo de palestras continua com o bolsista do Inpa, Layon Oreste Demarchi, que falará sobre os tipos de vegetação na Amazônia; já o pesquisador do Inpa, Reinaldo Correa, abordará os conflitos agrários na Amazônia; e fechando a programação, o professor de Antropologia da Ufam, Lucio João de Oliveira, falará se existe uma ciência indígena.
Na manhã desta sexta-feira (4), último dia da programação, os alunos farão uma excursão terrestre até o Km 45 da BR-174 (Manaus-Boa Vista) em área de campina, campinarana e terra firma.
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