Câmeras instaladas em torres do Inpa decifram ritmo sazonal da fotossíntese na floresta amazônica
Os resultados da pesquisa estão publicados na revista Science desta semana. Participam do trabalho 16 instituições brasileiras e estrangeiras, lideradas pela Universidade do Arizona e pelo Inpa
Da redação da Ascom Inpa
Foto: Acervo pesquisador
Uma pesquisa recente explica a sazonalidade na fotossíntese da floresta na Amazônia Central. Liderado por Jin Wu durante seu doutorado na Universidade do Arizona, o estudo usou uma combinação de câmeras e dados de fluxo de gás carbônico entre a atmosfera e a floresta, registrados pelas torres do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
“Já era conhecido que o gás carbônico da atmosfera é fixado pela floresta com maiores taxas no fim da estação seca e no início da chuvosa, e fixado com taxas menores no final da estação chuvosa e no início da seca”, diz o pesquisador do Inpa e coautor do artigo, Dr. Bruce Nelson. Segundo o pesquisador, a novidade está em demonstrar que esta sazonalidade da fotossíntese não ocorre apenas em função da variação da luz, da temperatura ou da umidade ao longo do ano.
“Nos meses mais secos (entre junho e novembro) a floresta exibe uma troca acelerada das folhas. A quantidade de folhas nas copas das árvores não muda muito durante o ano, mas sua idade, sim”, explica o pesquisador. “Até o final da estação chuvosa, as folhas lançadas nos meses secos têm menos vigor, reduzindo a fotossíntese”, acrescenta Bruce Nelson.
Para decifrar esta dinâmica das folhas, em 2010, os pesquisadores montaram câmeras automáticas em duas torres do LBA, uma a 60 km de Manaus (AM), e outra na Floresta Nacional do Tapajós, a 67 km ao sul de Santarém, no Pará. Em 2013, foi equipada uma das torres do Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus. Os dados para as duas torres perto de Manaus foram analisados pelas mestrandas Suelen Marostica, Julia Tavares e Aline Lopes, que também assinam o artigo na Science.
“Gravamos um grande número de fotos em cada dia do ano para facilitar a filtragem e a correção de artefatos de iluminação”, explica o pesquisador. Ele ressalta, ainda, que o ciclo das idades das folhas coincide muito bem com a sazonalidade do “verdor” da floresta captada anteriormente por satélites.
Segundo Bruce Nelson, estes dados dos satélites provocaram polêmica entre os cientistas, pois são influenciados pelo ângulo do sol e pela nebulosidade, ambas com tendências sazonais. “Agora, as câmeras nos três sítios são concordantes entre si e concordantes com os dados dos satélites. A floresta se torna mais verde ao longo da estação seca, devido ao lançamento de folhas novas”, diz.
O pesquisador revela que em breve se terá um entendimento melhor das mudanças fisiológicas das folhas com a idade, já que as informações ainda estão sendo aprimoradas por um grupo de pesquisadores e mestrandos do Inpa, liderados pelo professor doutor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marciel Ferreira, dentro do projeto GoAmazon.
Para o pesquisador doutor Scott Saleska, orientador de Jin Wu, a importância maior do estudo reside em demonstrar uma deficiência nos modelos que preveema resposta da floresta às futuras mudanças climáticas. “Estes modelos não incorporam os efeitos da fenologia foliar e, portanto, não conseguem reproduzir corretamente a variação sazonal da fotossíntese”, diz.
A pesquisa foi financiada pela Parceria para Pesquisa e Educação Internacional (Pire) da Fundação Nacional de Ciências Norte-Amercana (US NSF); pela Fundação Agnese Nelms Haury da Universidade do Arizona; pelo projeto GoAmazon, financiado conjuntamente pelo Departamento de Energia Norte-Americano e pelas agências brasileiras de apoio à pesquisa dos Estados de São Paulo (Fapesp) e do Amazonas (Fapeam); pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Brasil.
A coleta de dados teve suporte do LBA/Inpa e da Sociedade Max Planck, além da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da RDS Uatumã.
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