Estudioso em cavernas mostra no Inpa experiência na reconstrução do clima de tempos passados
O workshop internacional no Inpa reúne, desde a última segunda-feira (25), especialistas de vários países na área de hidrologia, climatologia e dendrocronologia. O evento encerra-se nesta sexta-feira (29)
Texto e foto: Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
“Cavernas são laboratórios naturais para a reconstrução do clima de tempos passados”. A afirmação é do pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Francisco Cruz, durante palestra sobre a utilização de dados de isótopos de oxigênio em formação de cavernas, na manhã desta quinta-feira (28), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
O pesquisador é um estudioso na análise de amostras de cavernas (espeleotemas), mais especificamente de estalagmites (formações minerais que crescem do chão para cima), que são estudados para ajudar na reconstrução do clima há milhares de anos. Os estudos são realizados em cavernas de vários locais da América do Sul, inclusive, da Amazônia.
Cruz explica que um processo que ocorre fora da caverna e que modifica o clima pode estar registrado em rochas dentro das cavernas. “Essas rochas guardam informações ao longo do tempo e, em vários casos, ficam preservadas dentro das cavernas e, assim, conseguimos reconstruir as mudanças climáticas que ocorreram em períodos remotos”, diz.
De acordo com o pesquisador, os estudos abrangem um tempo muito longo que vão desde os últimos ciclos glaciais, há mais de 100 mil anos, até o momento atual. “Estamos tentando conciliar os estudos feitos com amostras de cavernas com os estudos realizados com anéis de crescimento de arvores e isótopos em celulose”, explica Cruz. “Os estudiosos que trabalham com anéis de crescimento também trabalham com isótopos estáveis de oxigênio e carbono”, acrescenta.
Para o estudioso, as cavernas de calcário na Amazônia são únicas, porque são poucas e difíceis de encontrá-las. “A maioria das cavernas que existem, por exemplo, no município de Presidente Figueiredo (Amazonas), são de arenitos e não têm as formações de estalagmites de calcários, que são as amostras adequadas para o meu estudo”. O pesquisador desenvolve trabalhos em cavernas, no município de Itaituba (Pará) e na região da Amazônia peruana.
Segundo o pesquisador, os resultados desse estudo mostram que no passado as variações climáticas de precipitações de chuvas se comportavam de modo diverso em diferentes tipos de ciclos. “Uns mais longos e outros mais curtos”, disse o pesquisador.
Ele explica que os dados quando comparados com estudos em diferentes regiões amazônicas, como no Pará (que está a leste) e o Peru (a oeste), percebe-se que a Amazônia se comporta com variações contrárias no tempo. “Existem períodos em que se está muito úmido no Peru e outros muitos secos no Pará”, acrescenta.
Para ele, esse comportamento climático depende do que se originam os eventos e o ciclo de tempo nos quais estão envolvidos. “Como em qualquer estudo, quanto mais dados distribuídos ao longo do território brasileiro, mais vamos conseguir entender a variação da distribuição de chuvas nos continentes e a origem dessa variação nos fenômenos climáticos”, disse.
Francisco Cruz participa do workshop internacional no Inpa, onde estão reunidos, desde a última segunda-feira (25), especialistas nacionais e estrangeiros na área de hidrologia, climatologia, dendrocronologia e análises de isótopos estáveis na Amazônia. “A minha intenção é interagir com os cientistas que trabalham com árvores nessa escala mais recente do tempo, nos últimos séculos, para tentar juntar os diversos tipos de registros (árvores e formação de cavernas)a fim de tornar a reconstrução climática mais completa e precisa”, disse. O evento prossegue até nesta sexta-feira (29).
Para um dos participantes do workshop internacional, o estudante de doutorado da USP, Placido Fabricio Buarque, este evento é de grande importância para comunidade científica que trabalha com a dendroclimatologia. “Esta é uma oportunidade de aprender um pouco mais com os grandes cientistas da área”, comentou.
Também palestraram os pesquisadores Roel Brienen da Universidade de Leeds (Reino Unido) e Arnoud Boom da universidade de Leichestes (também no Reino Unido). Os temas das palestras desta quinta-feira giraram em torno do uso de isótopos para entender o clima no passado.
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