Oportunidades para fazer pesquisa estão em projetos estratégicos voltados à infraestrutura
Com recursos mais limitados, pesquisadores discutem estratégias para se obter financiamento e manter as pesquisas nos próximos anos. Este e outros assuntos são tratados no III Simpósio Cenbam e PPBio Amazônia Ocidental
Por Cimone Barros – Ascom Inpa
Foto: Luciete Pedrosa
Em cenário de crise econômica, as oportunidades para se fazer pesquisa nas instituições brasileiras dependerão de propostas estratégicas que atraiam a atenção do Governo e das instituições de fomento. A afirmação é do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenador do Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade (Cenbam), William Magnusson, durante o III Simpósio Cenbam e PPBio Amazônia Ocidental, que encerra nesta quinta-feira (19).
De acordo com Magnusson, um projeto que pode ser carro-chefe para o Cenbam e o Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) para os próximos anos é alinhar as pesquisas às demandas dos projetos estratégicos de infraestrutura do país, como estradas, hidrelétricas e na área de mineração. Segundo o pesquisador, geralmente se faz o planejamento energético do país para um período de 20 a 30 anos, mas os estudos sobre a biodiversidade só tem início uns dois anos antes de começar a obra. O resultado é que esses estudos ganharam a fama de atrasar os empreendimentos e causar prejuízos à sociedade e aos empresários.
“Então se podemos fazer planejamento estratégico, como levantamento da biodiversidade em lugares onde estão previstas essas grandes obras para as próximas décadas, podemos trabalhar em conjunto com as agências e os setores produtivos para fazermos planejamento no começo e evitar colocar os empreendimentos em lugares errados”, explicou Magnusson. “Isso vai aumentar muito o nosso conhecimento em biodiversidade e os seus processos, ao mesmo tempo, vai economizar literalmente bilhões de reais para o povo”, complementou.
O Simpósio que teve início na última terça-feira (17), no Inpa, avaliará resultados, discutirá metas e perspectivas dos programas. O evento conta com a presença de pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, além dos chefes dos doze núcleos regionais do Cenbam, que é um dos quatro Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) instalados no Inpa.
Da mesa de abertura do evento, participaram o diretor do Inpa, Luiz Renato de França; a vice-coordenadora do Cenbam, Noemia Kazue; e a representante da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera (FDB), Shirley Teixeira. “O Cenbam e o PPBio são programas bem-sucedidos. E uma das ações importantes é a formação de expertise de mão de obra para a Amazônia, porque sabemos que não é tão fácil investigar essa biodiversidade e, ao mesmo tempo, formar recursos humanos para ter essa expertise”, destacou França.
O Cenbam e o Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) buscam integrar e monitorar pesquisas ecológicas, fortalecer instituições e coleções e criar uma rede de biodiversidade na Amazônia com compartilhamento de dados robustos que servirão de base para tomadores de decisão, bioprospecção e educação. Ambos trabalham em parceria com várias instituições, entre elas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Resultados
As pesquisas de maior impacto do Cenbam e do PPBio para sociedade estão relacionadas com os estudos de impactos ambientais. Para se ter ideia, as autoridades responsáveis pelo licenciamento de grandes obras, como a Hidrelétrica de Santo Antônio, que fica no rio Madeira, atualmente, exigem a utilização de sistemas que foram desenvolvidos por essa rede de instituições amazônicas.
“Temos um grande impacto: melhorando a qualidade de informação que eles têm e, também, barateando os custos, diminuindo as dúvidas que levam a gargalos que atrasam a liberação dos licenciamentos das obras”, destacou William Magnusson.
Os pesquisadores do PPBio e Cenbam também possuem dados que permitem a avaliação de impactos da BR-319 (Manaus-Porto Velho). A rodovia virou um “grande laboratório em escala amazônica” das interações entre o clima, a biodiversidade, o solo e a produção primária dentro da floresta amazônica.
“Nos estudos, vimos, por exemplo, que o lençol freático da BR-319 está em cima de uma páleo-várzea. Então é muito poroso e, nas épocas secas, os igarapés secam completamente. Imagina o reflexo disso para a agricultura: vai ter que usar a irrigação durante um período do ano porque a floresta foi derrubada. Se com floresta se tem essa flutuação no nível freático, imagina quando tirar a floresta”, contou a gerente de Logística do Cenbam, Maria Aparecida de Freitas.
Foram feitos levantamentos de vários grupos taxonômicos, incluindo aves, morcegos, plantas (estrutura de vegetação), herpetofauna (répteis e anfíbios), além de características de solo e características ambientais. Durante os estudos, várias espécies novas para a ciência e a região foram registradas e o programa está desenvolvendo guias para vários grupos para facilitar estudos futuros.
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