Inpa repassa conhecimento nutricional de plantas alimentícias não-convencionais para nutricionistas e merendeiras escolares
Receitas gastronômicas com plantas alimentícias não- convencionais são utilizadas para difundir conhecimento nutricional e ampliar as possibilidades dos produtos chegarem à merenda escolar
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Torta salgada e risoto enriquecido com folha de taioba (Xanthosoma taioba), salada de ora-pro-nobis (Pereskia bleo) e vitaminada de cara-de-espinho (Discorea altissima Lam). Estas foram algumas receitas que nutricionistas e merendeiras escolares aprenderam na oficina “Processamento de cubiu e camu-camu para fabricação de sucos, geléias, doces e molhos e preparações utilizando plantas alimentícias não-convencionais”, que acontece desde a última segunda-feira (26), no Laboratório de Alimentos e Nutrição do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
A oficina, que encerra na tarde desta quarta-feira (28), tem o objetivo de disseminar o conhecimento nutricional com alternativas alimentares de plantas alimentícias não-convencionais para a merenda escolar, além de ampliar a capacidade da agricultura familiar e de cooperativas agrícolas para que esses produtos possam chegar até as escolas.
As plantas não-convencionais são plantas orgânicas que nascem facilmente em qualquer lugar, como quintais, terrenos baldios, calçadas e beiras de estradas. São chamadas popularmente de mato espontâneo ou daninhas e não necessitam de cuidados específicos, como as hortaliças convencionais. Podem fazer parte do nosso cardápio a exemplo da folha de taioba que substitui a couve ou a sua raiz que substitui a batata.
De acordo com a pesquisadora do Inpa, a nutricionista Dionisia Nagahama, organizadora da oficina, esta é um piloto de uma próxima oficina que acontecerá no ano que vem e com um público mais ampliado. “Abrimos 20 vagas e, para nossa surpresa, apareceu o dobro de participantes. Isto quer dizer que o assunto é de interesse para muitas pessoas”, explica a pesquisadora.
Participam desta oficina supervisoras, nutricionistas e merendeiras escolares da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), nutricionistas do Programa Sesi Cozinha Brasil e do Programa Sesc Mesa Brasil, agricultores familiares da Cooperativa Raio de Sol (situada no Km 41 da BR-174), além de estudantes de nutrição e gastronomia da Fametro e Uninorte, e técnicos agropecuários do Instituto Federal do Amazonas (Ifam).
A pesquisadora explica que foram escolhidas algumas hortaliças que são de fácil manuseio, diferentemente da alface ou da couve, e que são chamadas de hortaliças não-convencionais. “Elas são sustentáveis e só precisam de chuvas e de poucos cuidados”, explica Nagahama. “Os vegetais oferecem vitaminas e uma grande quantidade de fibras, além de diversos minerais como magnésio, cálcio, potássio e ferro, e quanto mais verde há mais chance de ter vitamina A e ferro”, acrescenta a pesquisadora.
As receitas com as plantas alimentícias não-convencionais ou pancs, produzidas no primeiro dia da oficina, foram ministradas pela especialista em Nutrição Humana e Saúde pela Universidade de Lavras (MG), Terezinha Freire. Na tarde de terça-feira (27), segundo dia do curso, os participantes aprenderam com o gastrônomo Carlos Seixas a produzir três tipos de farinha de pupunha (tonalidades diferentes) que serviram de base para um bolo. Nesta quarta-feira (28), último dia da oficina, serão repassadas técnicas de processamento do cubiu, fruta amazônica rica em fibra, para a produção de geléias e molho (conhecido como tucupi de cubiu) com a mestranda em Agricultura no Trópico Úmido (ATU) Helen Kássia Araújo.
Uma das participantes da oficina, a supervisora operacional da merenda escolar da ADS, Elke Gondim, o interesse em participar da oficina é aprender as técnicas de manipulação dessas plantas não-convencionais para que no futuro essas pancs possam ser inseridas na merenda escolar da rede púbica de ensino de Manaus.
“É importante aprender técnicas novas e, principalmente, quando se trata de alimentos não-convencionais, que espero, no futuro, sejam inseridas na merenda dos alunos”, disse a supervisora da merenda escolar da Coordenadoria Distrital de Educação da Seduc, Nirlene Soares.
Na opinião da estudante de nutrição da Fametro, Marcia Lamego, a oficina é interessante porque está trabalhando com produtos que normalmente não são utilizados e nem conhecidos, como a taioba e a ora-pro-nobis, planta que pode ser utilizada em ornamentação. “O que me chamou atenção foi conhecer e trabalhar com esses produtos que não são conhecidos”, disse.
Já a nutricionista do programa do Sesi Cozinha Brasil, Evely Medeiros, veio buscar alternativas e divulgar o conhecimento para as pessoas que trabalham com alimentação, ou para aquelas que querem utilizar os produtos encontrados na região e os não-convencionais, além de mostrar os nutrientes que existem nesses alimentos.
A presidente da Associação de Agricultores e Produtores Rurais Raio de Sol, Heloisa Soares, que já trabalha com o cubiu na produção de geléias, doces e molhos da fruta, veio participar da oficina para aprender receitas novas e aprimorar a atividade que desenvolve na comunidade. “Queremos aprender e trocar ideias para oferecer na nossa comunidade”, diz.
Outra participante da oficina de alimentos não-convencionais, a nutricionista do projeto do Sesc Mesa Brasil, Monique Sena, explica que o projeto ensina pessoas a fazer pratos com o aproveitamento de alimentos que iriam ser jogados fora. “Nessa oficina estou aprendendo a utilizar os alimentos não-convencionais e já peguei todas as receitas para repassar para as comunidades que também fazem oficina conosco”, contou.
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