Pesquisadores do Inpa, Ufam e Kew Gardens trocam experiências sobre manejo de sementes florestais da Amazônia
Na opinião de Isolde Ferraz, a realização do workshop teve uma importância significativa no sentido de fortalecer a colaboração entre os diferentes laboratórios
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Fotos: Fernanda Farias e Luciete Pedrosa
“Os gargalos são muitos em relação à produção e manejo de sementes florestais na Amazônia”, disse a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenadora do projeto Bio-Economia e Serviços de Ecossistemas de Sementes Nativas da Amazônia (Besans), Isolde Ferraz, no workshop Manejo de Sementes Florestais. O evento foi uma parceria entre o Inpa, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e os Jardins Botânicos Reais da Inglaterra (Kew Gardens).
Aspectos sobre produção de sementes e mudas florestais da Amazônia, manejo após a coleta, transporte e armazenamento, foram os temas abordados durante os cinco dias de workshop, que foi encerrado no último sábado (13), no auditório da Faculdade de Ciências Agrárias/Ufam. O objetivo do evento foi capacitar alunos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado), além de pesquisadores e técnicos interessados no manejo e no tratamento de sementes.
“Estamos fazendo um treinamento, nesta primeira etapa, para que a classe acadêmica trabalhe juntos com os pesquisadores no projeto Besans”, disse Ferraz, explicando que o projeto Besans trabalha com sementes de importância econômica da região amazônica, como andiroba, copaíba, castanha da Amazônia, além de frutíferas como o cupuaçu e outras.
O projeto Besans, que terá uma vigência de 12 meses, foi aprovado recentemente por uma ação conjunta entre o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), e o Newton Fund, que é um fundo de apoio à pesquisa em Ciência e Inovação do governo britânico (Fundo Newton). Recebe o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Conselho de Pesquisa do Reino Unido (Research Councils UK) o do Conselho de Pesquisa do Ambiente (Natural Environment Research Council), o maior financiador do Reino Unido de ciência ambiental.
De acordo com a pesquisadora do Inpa, que é doutora em Fisiologia vegetal, os resultados obtidos no workshop serão levados, numa segunda etapa, para uma capacitação dos cerca de 60 produtores de sementes e mudas do Amazonas, registrados no Ministério da Agricultura. A capacitação está prevista para novembro deste ano com os produtores de Manaus, Maués e Apuí.
Na opinião de Ferraz, a realização do workshop teve uma importância significativa no sentido de fortalecer a colaboração entre os diferentes laboratórios com a meta de trabalhar os desafios para se obter mais conhecimento sobre as espécies que são de interesse econômico. “Esse encontro servirá de estímulo para a pesquisa sobre estas espécies e também para padronizar os métodos e como os diferentes laboratórios poderão estudá-las”, disse.
“Para se ter uma ideia, um trabalho de levantamento de 788 espécies de sementes florestais de interesse econômico existentes na Amazônia identificou que somente metade delas foram estudadas”, afirmou Ferraz.
Os pesquisadores Peter Toorop, Wolfgang Stuppy e Hugh Pritchard, participaram do evento trazendo suas experiências no projeto Banco de Sementes do Milênio do Kew Gardens, o maior banco de sementes de espécies nativas coletadas no mundo inteiro para fins de conservação. O Brasil mantém uma colaboração científica com o Kew Gardens, porém, não existe um acordo para coleta de sementes na Amazônia.
Segundo Ferraz, os pesquisadores do Kew Gardens trouxeram novidades em relação ao manejo de sementes, como a forma de avaliação, além de outras maneiras de interpretar os dados. “Também apresentaram uma série de equipamentos novos com a possibilidade de uso e que podem ser interessantes para nossas futuras pesquisas”.
Esta é a primeira vez que Toorop veio a Manaus e disse que aprendeu muito ao ver os diferentes tipos de vegetação da região. Além disso, teve a oportunidade de ver parte da regeneração natural das diversas espécies florestais e como estas se adaptam ao ambiente. “Para mim foi muito importante esse processo de aprendizagem”, disse o pesquisador, que também não conhecia a floresta amazônica.
Hugh Pritchard, que já esteve em Manaus, disse que desta vez ficou surpreendido com o contato direto com os estudantes. Ele gostou de ver como os alunos participantes do workshop entendem a importância da floresta e como são conscientes da importância que eles têm no avanço da Ciência no Brasil. “Eu pude ver a paixão dos alunos quando subimos juntos na torre do Museu da Amazônia, na Reserva Ducke, e vimos a floresta do alto”, disse.
Para o mestrando em Ciências de Florestas Tropicais do Inpa, Cristiano Carvalho, a vinda dos especialistas do Kew Gardens incrementa a maneira de pensar em relação à fisiologia das sementes. “Amplia nossos campos de pesquisas e a experiência que eles trazem acrescenta o nosso desenvolvimento e conhecimento de uma forma geral”.
Na opinião do mestrando em Botânica do Inpa, Paulo Piovesan, é importante essa troca de informações com as tecnologias que os pesquisadores do Kew utilizam, conciliando a diversidade de conhecimentos que temos na Amazônia. “Isso contribui bastante para ao meu crescimento acadêmico”, comentou.
Redes Sociais