Indígenas e ribeirinhos usam mel como complemento alimentar
Ascom
Em uma região tão rica em biodiversidade como a Amazônia é difícil acreditar que populações ribeirinhas e indígenas sofram com problemas como desnutrição e falta de alimentos para suprir suas necessidades diárias. Todavia, faz parte da realidade de muitas famílias que, aos poucos, encontram no mel e no pólen produzidos pelas abelhas nativas sem ferrão (melíponas) uma fonte alternativa para complementar a alimentação. É o que explica o servidor do Grupo de Pesquisas em Abelhas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (GPA/INPA), Hélio Conceição Vilas Boas.
Em trabalho realizado junto às comunidades Itacoatiara Mirim; Boa Vista; Assunção do Içana; Ambaúba; Castelo Branco; Uarirambá; Canadá e Tunuí Cachoeira, localizadas no município de São Gabriel da Cachoeira, distante 860 km de Manaus, Vilas Boas conta que, às vezes, é comum as pessoas ingerirem apenas o beiju (farinha de mandioca embebida em água), quando não, o escasso peixe, que se deve pela acidez dos rios de águas escuras.
Realizado em parceria com a Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam, o projeto visa conscientizar os moradores sobre a importância das abelhas para a manutenção da floresta, além de servir como fonte de alimento para as famílias.
Denominado “Meliponicultura em São Gabriel da Cachoeira”, o projeto é coordenado pela pesquisadora Gislene Carvalho-Zilse e vem sendo desenvolvido no âmbito do projeto “Fronteiras”, o qual conta com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O Fronteiras é um grande “Programa de Pesquisa no Alto Rio Negro”, no qual estão inclusos 22 sub-projetos nas mais diversas áreas do conhecimento.
Vilas Boas diz que na sede da escola fica instalado o meliponário modelo, com seis colônias, o qual é utilizado nas aulas práticas e teóricas sobre criação de abelhas. No local, estudantes do 3º ano do ensino médio recebem orientações sobre a metodologia e servem como multiplicadores do conhecimento científico nas comunidades vizinhas.
As comunidades são visitadas mensalmente pelos pesquisadores, onde permanecem por um período de uma semana ou 15 dias. Nos locais, pequenos agricultores e estudantes recebem orientações sobre a importância das abelhas nos sistemas agroflorestais, biologia da abelha, biologia da reprodução, técnicas para criação em colméias artificiais (feitas de madeira ou troncos), produtos das abelhas e criação comercial, entre outros assuntos.
Apesar do interesse de muitos indígenas e ribeirinhos, os pesquisadores que fazem parte do projeto se defrontam com o problema em conciliar o conhecimento tradicional com a nova tecnologia. “Alguns resistem porque são acostumados ao extrativismo com destruição dos ninhos para retirarem o mel da natureza. O pólen também é desprezado porque o consideram como fezes das abelhas e não estão habituados a consumi-lo”, lamenta.
Segundo o servidor, o problema é superado com o simples ato de provar o suco feito de pólen e mostrar o quanto é saboroso. O ritual é repetido em todas as comunidades visitadas, conta Vilas Boas. Ele diz que o mel também é oferecido às pessoas presentes durante as oficinas. “O resultado é a ampliação do conhecimento acerca das abelhas pelos comunitários que passam a ver o mel e o pólen como fonte complementar de vitaminas na alimentação. Estes produtos são ricos em açúcar, aminoácidos e vitaminas, além de outros nutrientes”, completa.
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