Oito institutos de pesquisa serão criados na Amazônia
A Amazônia vai ganhar este ano mais oito institutos de pesquisa que deverão aumentar a quantidade e o nível de cientistas atuando na região.
Arnoldo Santos - Manaus
Especial para Terra
A criação das instituições, aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em novembro do ano passado, faz parte do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia que começa a ser implantado este ano pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
O programa prevê a criação de 101 novos institutos de pesquisa em todo o País. Os recursos virão de uma parceria entre as fundações estaduais de apoio à pesquisa do Amazonas (Fapeam), Pará (Fapespa), São Paulo (Fapesp), Minas Gerais (Fapemig), Rio de Janeiro (Faperj) e Santa Catarina (Fapesc), junto com o Ministério da Saúde e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para todo o projeto (101 institutos) serão destinados R$ 600 mi.
No caso da região amazônica, o fato é que as novas instituições quadroplicarão a quantidade de institutos que atualmente produzem ciência na maior floresta tropical do mundo, a qual representa 60% do território brasileiro, possui cerca de 25 milhões de habitantes, mas representa menos de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.
O programa prevê gastar R$ 42 mi para a instalação dos oito novos institutos na região, o que deve acontecer dentro de cinco anos. Entre os projetos aprovados pelo CNPq para a região amazônica, quatro estarão subornidados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus(AM).
Os outros serão criados no Pará pelo Museu Emílio Goeldi, Univerdidade Federal do Pará (UFPA) e Instituto Evandro Chagas (IEC), todos com sede em Belém.
A criação dos institutos vem ao encontro de antigas reivindicações dos cientistas que trabalham na Amazônia. Estima-se que de um total de 70 mil doutores que agem em todo o Brasil, menos de 3 mil estejam na região amazônica.
"A base instalada ainda é muito pequena. Atualmente, nós temos apenas três institutos de pesquisas atuando na Amazônia: o INPA, o Museu Goeldi e o Instituto Mamirauá (Tefé/AM). Somando estes três, não dá mais do que 250 doutores. E desses 3 mil doutores do total, cerca de 1,5 mil têm mais de 50 anos de idade", explicou Adalberto Luis Val, diretor do INPA. "Nós precisamos fortalecer a pesquisa no interior, principalmente nos dois maiores estados da região, Amazonas e Pará".
A escolha das áreas onde irão atuar os novos institutos foi feita dentre uma lista de 19 prioridades consideradas estratégicas pelo Plano de Ação em Ciência e Tecnologia e Inovação (PACT&I).
Portanto, a partir do conhecimento produzido pelo INPA, serão criados o Centro de Estudos de Adaptação da Biota Aquática da Amazônia (Adapta - Amazônia), o Centro Nacional de Pesquisas e Inovação de Madeiras da Amazônia (CNPIM), o Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam) e o Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia (Servam).
As instituições serão coordenadas por doutores do próprio INPA que já atuam nas áreas de origem.
"Qual é o papel da floresta no processo de mudanças climáticas? Todos os modelos do mundo mostram que a Amazônia vai sofrer um processo de savanização caso não haja uma mudança significativa, mas nós não temos um modelo (conjunto de hipóteses, teses, experimentos, etc) disso", afirmou Val sobre o Servam. "A própria floresta tem capacidade para se adaptar a essas mudanças. E isso é um serviço que nós precisamos entender melhor e fazer disso um serviço para a nossa região".
O Servam será coordenado pelo pesquisador Philip Fearnside, professor e pesquisador do departamento de Ecologia do INPA. O cientista defende um profundo estudo de quantificação sobre os serviços que a floresta presta naturalmente ao ser humano, uma maneira de garantir que a própria floresta seja preservada.
"Um dos serviços ambientais importantes da floresta amazônica é o armazenamento de carbono, que evita o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera e, conseqüentemente, o aquecimento global. Porém, a maneira como se contabiliza o carbono pode ter um grande efeito no valor atribuído a diferentes medidas de mitigação, tais como a criação de áreas protegidas, operações de ''''comando-e-controle'''' para inibir o desmatamento, e o plantio de árvores," defende Fearnside em seus artigos científicos.
Sobre o estudo das adaptações da vida no meio aquático, Val lembra: "A água para o mundo moderno é uma questão vital. Em nosso caso, a água carrega um conjunto de outros bens essenciais. O peixe está lá, as árvores, o microorganismo e o próprio o fungo, que pode gerar novos produtos, está relacionado com a água".
"Enquanto nós não dermos o passo seguinte, vamos ficar somente na fase de reconhecer o potencial da biodiversidade. Nós precisamos investir aqui para entender como esses organismos fazem para sobreviver diante das mudanças em abientes aquáticos", acrescenta Val.
O instituto que vai estudar mais profundamente a biodiversidade amazônica terá o papel de integrar as pesquisas feitas em toda a região. Em uma mesma área, são realizados vários estudos que acabam não se integrando por simples falta de iniciativa, ou uma coordenação unficada.
Essa situação se agrava quanto mais longe for dos centros urbanos principais, como Manaus e Belém. Por isso, um dos objetivos do Cenbam vai ser trabalhar a capacitação de pessoal de apoio, segundo explica o coordenador do centro, pesquisador William Magnusson.
"O objetivo é capacitar pessoal nos diversos níveis: assistentes de campo, alunos do Ensino Médio, Básico e de Pós-Graduação, e técnicos de laboratórios. A infra-estrutura será readequada, como museus, herbários e coleções vivas, a instalação e recuperação de equipamentos e laboratórios, e o intercâmbio necessário para o aproveitamento dos recursos disponíveis", explicou Magnusson, que é pós-doutor em biologia, tendo vasta experiência em zoologia e comporamento animal.
Madeira é a quarta área escolhida para atuação dos institutos que serão criados no Amazonas. O INPA já tem um laboratório que estuda tecnologias de madeira, em particular o melhor aproveitamento deste recurso.
O novo centro será coordenado pelo pesquisador Niro Higuchi, pós-doutor em engenharia ambiental com pesquisas realizadas principalmente na área de manejo, conservação e dinâmica florestais.
Demostrando uma simples conta, ele resume os principais objetivos do novo instituto. "Hoje, a madeira da Amazônia tem apenas 30% de rendimento aceito como consenso para a região. Isto quer dizer que 70% da tora é desperdiçada. O baixo rendimento e o valor da madeira em pó são as principais vias para a consolidação do manejo florestal sustentável na região amazônica", diz Higuchi.
"Não há manejo florestal no mundo que sobreviva com 30% de aproveitamento. Este projeto foi aprovado por essas duas coisas: trabalha no sentido de melhorar as tecnologias aplicadas no processo de aproveitamento da madeira com a melhoria do processo de manejo. Como isso a gente pode aumentar de maneira significativa o potencial madeireiro da região", complementa Val.
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