Inpa estimula o cultivo de alimentos tradicionais em Terra Indígena Andirá-Marau
Para resgatar uma variedade de plantas cultivadas pelos indígenas e garantir uma alimentação mais saudável, Inpa e parceiros reunirão cerca de 200 indígenas de diversas etnias na 1ª Feira de Troca de Sementes, Saberes e Sabores, na Aldeia Simão, no rio Andirá (AM)
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Para estimular a produção de alimentos e o resgate das espécies anteriormente cultivadas pelos Saterê-Mawé, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), juntamente com outros institutos de ensino e pesquisa, está reintroduzindo nas comunidades da Terra Indígena Andirá-Marau o cultivo de hortaliças, como cará, bertalha, ariá e cubiu.
Após passarem a viver da comercialização do guaraná, exportado inclusive para a Europa, a etnia reduziu a prática do cultivo de algumas espécies – a exemplo da mandioca utilizada na produção de farinha – e passou a comprar alimentos industrializados, o que modificou os hábitos alimentares.
O trabalho faz parte do projeto Waraná (guaraná, na língua Saterê-Mawé), coordenado pela pesquisadora do Inpa, a doutora em Ciência Agronômicas Sonia Alfaia, vinculada à Coordenação de Tecnologia e Inovação. “Eles vendem guaraná e compram alimentos industrializados, entre eles o refrigerante e o frango de frigorífico. Por isso, está se discutindo com as lideranças da Terra Indígena Andirá-Marau uma proposta de resgate e valorização das espécies tradicionais para que os indígenas voltem a cultivá-las”, diz.
A pesquisadora lembra que os indígenas possuem um vasto conhecimento da região onde vivem e há séculos manejam as terras ao mesmo tempo em que as preservam. “Já os pesquisadores detêm o conhecimento técnico que podem ajudar a melhorar as práticas tradicionais de manejo”, ressalta.
Para alavancar o trabalho e trazer novamente para o cultivo as variedades de plantas que estão desaparecendo do sistema agrícola tradicional dos Saterê-Mawé, o Inpa realizará de quinta-feira a sábado próximo (11, 12 e 13) a 1ª Feira de Troca de Sementes, Saberes e Sabores da Terra Indígena Andirá-Marau. O encontro acontecerá na aldeia Simão, situada às margens do rio Andirá, distante três horas de voadeira (pequena embarcação de alta velocidade) do município de Parintins.
Situada entre o Oeste do Amazonas e o Pará, a Terra Indígena Andirá-Marau abrange os municípios de Parintins, Barreirinha e Maués, no Amazonas; e os municípios paraenses de Aveiro e Itaituba. A Terra Indígena possui quase 800 mil hectares e uma população de mais de 7,3 mil habitantes da etnia Saterê-Mawé.
A feira é uma parceria do Inpa juntamente com o Consórcio dos Produtores Saterê-Mawé, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), o Instituto Federal do Amazonas (Ifam), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror).
Cerca de 200 pessoas, entre indígenas, pesquisadores, professores, técnicos e estudantes terão a oportunidade de se encontrar na feira para a troca de conhecimentos no cultivo de sementes crioulas de diversas espécies de plantas. As sementes crioulas são aquelas sementes tradicionais não melhoradas pela pesquisa. Elas são cultivadas pelos ribeirinhos, indígenas e quilombolas e passadas de geração em geração.
Além dos Saterê-Maué, participarão do evento etnias de diversas localidades como Mura, Munduruku, Baré e Hixkariana, que habitam as regiões da calha do Madeira, do Alto Solimões e do Baixo Amazonas.
De acordo com dados do Censo do IBGE de 2010, o Brasil possui uma população indígena de 896.917 indivíduos. O estado do Amazonas concentra a maior população de índios com 20,5%, o que representa 183.867 pessoas.
Sobre o Projeto Waraná
A 1ª Feira de Troca de Sementes, Saberes e Sabores faz parte das atividades do projeto Waraná, que é financiado pela Petrobras desde 2013 e com vigência até meados de 2016.
O principal objetivo do projeto Waraná Agroecológico é o fortalecimento da agricultura, a soberania alimentar, além da geração de renda e a valorização dos saberes tradicionais dos indígenas das comunidades da Terra Indígena Andirá-Marau.
No projeto são desenvolvidas atividades em 13 comunidades da Terra Indígena Andirá-Marau, onde estão sendo implantadas unidades demonstrativas de Sistemas Agroflorestais em áreas de roçados abandonados e capoeiras junto aos produtores indígenas, por meio de oficinas e mutirões (puxiruns) para os plantios.
Os sistemas agroflorestais são plantios consorciados e mais adaptados às condições de solos pobres da Amazônia. Segundo Alfaia, nesses plantios são consorciadas espécies florestais de interesse econômico como o pau-rosa, uma espécie que já foi muito abundante na região, o mogno, a andiroba, entre outras, com as espécies alimentares como mandioca, milho, banana e também o guaraná.
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