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Ribeirinhos da Rebio do Rio Trombetas comemoram soltura de filhotes de tartarugas

  • Publicado: Quinta, 22 de Dezembro de 2011, 20h00
  • Última atualização em Quarta, 13 de Maio de 2015, 09h49

 

A expectativa é que quinze mil filhotes de tracajás e iaçás possam nascer ao longo do lago Erepecu e quarenta mil filhotes de tartarugas-da-amazônia nos Tabuleiros do Rio Trombetas

 

Arquivo CEQUA
Os filhotes a serem soltos depois de nascer são levados aos viveiros para serem pesados, medidos e marcados antes de serem soltos

Por Liliane Costa/Projeto Tartarugas da Amazônia

Como forma de repor o estoque natural das espécies de quelônios, o evento de soltura dos filhotes realizado pelo Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o futuro é uma maneira de sensibilizar as comunidades sobre a importância da conservação da espécie por meios de ações participativas.

A soltura, que aconteceu neste mês, de cerca de sete mil filhotes de três espécies de quelônios de água-doce representou de forma simbólica os mais de 55 mil filhotes que irão voltar para seu habitat natural no ano de 2012.

Comunidades localizadas no lago do Erepecu da Reserva Biológica (Rebio) do Rio Trombetas e comunidades quilombolas da zona de amortecimento à Rebio, no município de Oriximiná no Pará, participaram de uma grande festa para comemorar o final de mais um ciclo de atividades em prol da conservação dos quelônios da Amazônia nascidos nessas localidades. 

As atividades realizadas durante a proteção das tartarugas consistem na marcação de ninhos durante a fase de postura, na translocação dos ovos das áreas de desova para lugares mais seguros quando há risco de inundação ou predação, além do monitoramento dos ninhos desde a desova até a eclosão, quando os filhotes são então devolvidos à natureza.  

Foram passados os dados relativos ao desempenho das atividades realizadas e da importância que a comunidade quilombola tem na conservação dos quelônios e a educadora ambiental Adriana Terra, que faz parte do Projeto Tartarugas da Amazônia, afirma que esta prestação de contas é muito importante para que os agentes ambientais, que são os próprios quilombolas, possam explicar para os demais moradores como é desenvolvido o trabalho e os resultados alcançados. “É muito importante também levar os comunitários e as crianças para a soltura para que haja uma maior sensibilização ambiental”, comentou.

Entre as diversas atividades apresentadas durante os dois dias de soltura dos filhotes, os comunitários participaram do fechamento das atividades realizadas pelas famílias que cuidam das praias durante esses quatro meses de proteção, desde a desova até a eclosão. Após a soltura, adultos e crianças puderam participar de atividades de Educação Ambiental, como a apresentação de vídeo educativo, pintura, danças típicas e apresentação de fantoches.

Parceiros

O evento e soltura vêm sendo realizados, desde 2003 pelo Órgão Gestor da Rebio do Rio Trombetas, atualmente Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e este ano contou com o apoio do Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro, uma realização da Associação de Ictiólogos e Herpetólogos da Amazônia (AIHA), que recebe o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental. Ainda são parceiros do projeto o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), a Mineração Rio do Norte (MRN), a Prefeitura de Oriximiná, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), além dos moradores locais.

A participação efetiva das comunidades ribeirinhas é apontada como elo importante para o sucesso desta parceria. Atualmente, cerca de quarenta comunidades participam, de alguma forma, dos trabalhos de conservação de toda a área. “A nossa maior dificuldade no passado foi uma menor participação da comunidade. Ao longo dos anos conseguimos envolver um maior número de famílias para realizar o manejo e a proteção das praias, resultando assim um maior número de filhotes a cada ano de soltura. As entidades parceiras são fundamentais, porque contribuem com o apoio no monitoramento e na fiscalização. A integração da comunidade proporciona também uma maior conscientização dos ribeirinhos da região devido os esforços da equipe de educação ambiental”, explica José Risonei, chefe das unidades de conservação REBio Trombetas e FLONA Saracá- Taquera, em Oriximiná (PA).

Um exemplo de conscientização é o senhor Raimundo Dias, 65 anos, conhecido como Pindoba, que reside na Comunidade do Último Quilombo no Lago Erepecu. Ele chegou na região em 1975 e diz que até o ano de 2003 trabalhava no comercio ilegal desses animais, mas hoje vê a importância de conservar o meio ambiente. “Nessa época, a gente mais vendia do que comia. Os resultados das pesquisas dos cientistas só vieram comprovar o que nós já estávamos percebendo: uma grande diminuição das tartarugas que existiam desde a época dos meus pais. Ao me envolver no projeto ambiental, fico muito feliz ao ver o número de tartarugas aumentando com o resultado deste trabalho”, afirmou Dias. 

O que se espera para o futuro

A Doutora Maria das Neves Viana é professora e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) na Área de Genética de Populações e realiza estudos de genética que são importantes por revelarem a quantidade de variabilidade genética potencial dentro e entre populações desses animais, bem como, avaliarem a atuação das forças evolutivas e da ação do homem nestas populações.

 “É preciso preservar todas as áreas, independente das populações destes animais serem iguais ou não, porque se conservarmos agora, no futuro teremos estes animais distribuídos em todas as praias naturais sem que a gente precise manejá-los”, observou a doutora.

Neves também afirma que a participação das comunidades é fundamental para a conservação dessas espécies, pois o principal predador desses animais é o homem. “O ideal é que as comunidades conservem uma boa parte para que eles continuem tendo uma fonte de alimento alternativa. Nós não podemos dizer para os ribeirinhos que eles não podem comer a tartaruga, pois essa iguaria é presença constante na mesa do cidadão local, principalmente como uma importante fonte de proteínas para as comunidades que vivem afastadas dos grandes centros comerciais. Comer tartaruga já é um habito que está arraigado a cultura da região, e essa prática não levaria ao declínio das populações, o que ocasiona a possibilidade do desaparecimento destes animais é a ambição desmedida do homem em querer ter lucro hoje sem se preocupar com o prejuízo que terão no futuro: a possibilidade de nunca mais ver estes animais na região”, conclui.

Rafael Bernhard, pesquisador da Associação de Ictiólogos e Herpetólogos da Amazônia, também faz parte do Projeto Tartarugas da Amazônia e explica que embora existam pesquisas com quelônios há mais de vinte anos nessa área a participação comunitária nos programas de conservação é fundamental. “Se conseguirmos mudar a forma como essas pessoas enxergam os seus recursos naturais e mudarmos a sua forma de agir, podemos ter futuramente um uso racional dos quelônios. Por isso, o projeto Tartarugas da Amazônia, além da pesquisa, também esta focado para a conscientização, a fim de sensibilizar os comunitários no entorno da reserva biológica”, observou Bernhard.

“O trabalho de conservação de uma espécie é conflitante e quase que por vezes inaceitável quando de encontro aos interesses de um grupo que atua como minoria diante aos olhos governamentais. Não por isso que o desejo de manter as espécies vivas nas cercanias do “rio da vida”, como é chamado o Rio Trombetas por alguns moradores, deixe de existir. Como agir, no que esta ação representa para as comunidades ou, como enfrentar o momento atual são os paradigmas encontrados na proteção das tartarugas da Amazônia pelo projeto”, discursou Fernanda Rodrigues, bióloga e educadora ambiental do Projeto.

Foto da chamada: arquivo CEQUA
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