Mandíbula de formiga inspira criação de grampo sutura
Filme Apocalíptico ("Apocalypto", 2006 ). Direção: Mel Gibson
Por meio da observação dos sistemas da natureza, conhecido como técnica biônica, a pesquisa desenvolveu um grampo para utilização nos pontos cirúrgicos
Por Josiane Santos
Difícil encontrar alguém que não tenha uma cicatriz de pontos causada por alguma cirurgia. Os pontos, também chamados de sutura, aproximam a pele facilitando a cicatrização. Dentre os tipos de sutura estão: sutura por fio absorvível (como categute, vicryl e dexon) e fio não absorvível (como nylon, seda e algodão), sutura por adesivo e sutura por grampo metálico.
Utilizando como base os sistemas vivos da natureza para empregar em processos, técnicas ou princípios que possam ajudar na criação de projetos (técnica biônica), a designer industrial Thays Obando Brito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolveu em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) o grampo de sutura baseado no formato da mandíbula da formiga saúva soldado do gênero Atta, conhecida como formiga cortadeira. O grampo de sutura está entre os processos patenteados pelo Inpa em 2010.
Os materiais utilizados a liga de aço cromo e o silicone, já existem no mercado e são de baixo custo, além do mais, os grampos são também coloridos, criados principalmente para o público infantil. “Eu me preocupei com essa questão psicológica para ter um diferencial no mercado”, destaca Brito.
Ela conta que a ideia do projeto surgiu inspirada na cena do filme Apocalíptico, do diretor Mel Gibson, que retrata a cultura e história das civilizações pré-colombianas da América Central. Em uma das cenas, a mãe aplica a mandíbula da formiga para suturar o ferimento da criança.
“Observando a aplicação da formiga na sutura que os índios utilizavam, comecei a imaginar e consequentemente a criar. Foi quando descobri nos livros de medicina sobre sutura, que realmente eles utilizavam a mandíbula da formiga para suturar as feridas”, disse.
A manipulação do objeto acontece por meio do porta agulha, instrumento comum no centro cirúrgico, a fim de introduzir o grampo na pele aproximando as bordas da ferida. “Também tive a preocupação com a questão econômica, por isso esse grampo tem outro diferencial, ou seja, o mesmo não necessita de um instrumento próprio, bem diferente do grampo metálico já existente em que necessita de grampeador próprio para sua fixação na pele”, enfatiza Brito. O grampo também tem um dispositivo externo que serve como tampa de proteção.
A pesquisa teve a orientação do pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Entomologia (CPEN) Jorge Luiz Pereira de Souza e da professora da Ufam Magnólia Granjeiro Quirino.
Arte da chamada: Ivan Marcos de Araújo Lima e Thays Obando Brito
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