Pesquisa do Inpa desenvolve modelo de observação e análise para detectar mortalidade arbórea
Fatores orgânicos, tempestades e estresses foram pontos principais no processo de mortalidade das árvores
Por Eduardo Phillipe
Intitulado como “Revelando as causas e a distribuição temporal da mortalidade arbórea em uma floresta de terra-firme na Amazônia Central”, a dissertação de mestrado da estudante do Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais (PPG CFT) do Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Clarissa Gouveia Fontes, analisou durante um ano os aspectos que levam as causas das mortes das árvores.
O estudo, orientado pelo pesquisador do Inpa, Niro Higuchi, foi realizado na floresta localizada na Estação Experimental de Silvicultura Tropical (EEST) do Inpa foi desenvolvido em dois transectos (espaços) com uma área de 20 x 2500 m cada, totalizando 5.808 árvores.
Ao todo foram catalogadas 67 mortes. Dentre as causas mais comuns foram diagnosticados os seguintes fatores: as tempestades, estresses e fatores biológicos.
Processos
A maioria das árvores na floresta Amazônica possuem copas assimétricas e as tempestades são capazes de aumentar o peso da copa, provocando a queda das árvores para o seu lado mais pesado. Existem, ainda, registros de tempestades de vento que podem matar milhares de árvores em apenas poucos dias, são os chamados downburst ou roça de ventos.
O período chuvoso é onde o nível de mortalidade fica maior, consequentemente, tempestades e raios são mais constantes. “Na região atingida pelo raio, geralmente encontra-se mais de um individuo morto, representados por mais de uma espécie, além de provocar a morte parcial ou total da regeneração natural do lugar”, esclarece a mestranda.
Os classificados como competição e supressão entre espécies, déficit hídrico, alagamentos, e ataques patógenos são relacionados aos fatores biológicos e de estresses. “No momento que a árvore morre, ela continua a influenciar os organismos ao seu redor, auxiliando no equilíbrio e desenvolvimento de outros organismos. E, também, cooperando na mudança de biomassa, no fornecimento de luz, nutrientes e na umidade da floresta”, explica.
A mortalidade arbórea é um processo natural no ecossistema florestal, pois influencia na estrutura, dinâmica, estoque de carbono e reciclagem de nutrientes. Mas, quando a mortalidade é maior que a capacidade de resistência da floresta, as consequências em longo prazo podem ser preocupantes. “São observadas mudanças nas taxas de evapotranspiração, temperatura, umidade e na estrutura das espécies”, ressalta Fontes.
O pioneirismo da pesquisa foi uma contribuição essencial para a comunidade científica, auxiliando na criação de novas perspectivas. “O desejo é que o estudo seja conduzido por mais tempo e em novas áreas para que possamos verificar um possível padrão de comportamento”, almeja Fontes, ressaltando a concepção de um banco de dados maior para a determinação mais exata das variações no clima e a sua relação com a mortalidade arbórea durante determinado período.
“Esse tipo de estudo pode melhorar o entendimento das vulnerabilidades de nossas árvores diante de eventos catastróficos que vem ocorrendo na Amazônia, principalmente aquelas relacionadas com secas e tempestades”, concluiu.
Outros fatores relacionados à mortalidade das árvores
Além das intempéries do tempo, podemos destacar como influenciadores da mortalidade das árvores as infestações das mesmas por lianas, insetos e fungos. Durante o período da pesquisa, uma espécie foi morta pela hemi-epífita estranguladora Apuí e três outras por fungos patogênicos: duas por Ganoderma sp e uma por Auricularia delicata Fries.
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