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Pesquisa do Inpa caracteriza quintais agroflorestais em Terra Indígena

  • Publicado: Segunda, 18 de Junho de 2012, 20h00
  • Última atualização em Quinta, 30 de Abril de 2015, 11h32

 

Quintal agroflorestal é uma área de produção localizada próxima da residência, onde os moradores cultivam espécies agrícolas e florestais e pequenas criações de animais domésticos ou silvestres amansados

Por Josiane Santos

A pesquisa “Quintais agroflorestais em área de terra firme na Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas”, desenvolvida pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Florestas Tropicais (PPG/CFT) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Mateus Vieira da Cunha Salim, desenvolveu uma descrição do sistema produtivo dos quintais agroflorestais na Terra Indígena (TI) Kwatá-Laranjal, habitada pelas etnias Munduruku e Sateré-Mawé, localizada no município de Borba, interior do Amazonas.

O estudo foi orientado pela pesquisadora do Inpa, Sonia Sena Alfaia, e teve como co-orientador, Robert Pritchard Miller, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). “O objetivo da pesquisa é caracterizar estes ambientes quanto à composição florística, avaliando-se os efeitos da idade de formação e área do quintal sobre a diversidade de espécies e densidade de indivíduos, assim como verificar se os parâmetros de fertilidade do solo possuem relação com idade e a área do quintal, e se as práticas de manejo realizadas contribuem para a manutenção da fertilidade do solo, comparando o solo dos quintais agroflorestais com capoeiras e florestas adjacentes”, explicou Salim.

A pesquisa faz parte do projeto intitulado “Plantios florestais com finalidade de recuperação de áreas degradadas no Estado do Amazonas”, coordenado pelo pesquisador do Inpa, Paulo de Tarso, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a participação do Programa de Agricultura Indígena da Secretaria de Estado da Produção Rural do Amazonas (Sepror) e pretende atender as demandas que envolvam as populações indígenas e os sistemas agroflorestais.

Na Terra Indígena Kwatá-Laranjal, quinze quintais agroflorestais foram selecionados para o estudo, todos localizados em áreas de terra firme. Em 2007, foi registrada uma população de 1.719 pessoas na Terra Indígena Kwatá-Laranjal. Informações sobre perfil socioeconômico, caracterização, manejo e composição do solo dos quintais agroflorestais foram realizadas por meio de inventário agroflorestal, entrevistas, aplicação de questionário e visita in loco, além de coleta de solo. Todos esses dados foram coletados no mês de julho de 2011.

“Essas informações são um importante relato sobre práticas agronômicas realizadas ao redor das moradias e podem indicar espécies com maior potencial produtivo nesta região. Além disto, a pesquisa levantou as demandas dos moradores para futuras ações de extensão agroflorestal”, destacou Salim.

Características

Segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados (73,3%) gera renda a partir da venda de frutas (laranja, tangerina, melancia, banana, açaí e castanha) cultivadas em seus próprios quintais. Outra importante fonte de renda para as comunidades estudadas é a venda de farinha de mandioca, produzida nas áreas de roça.

Outro fator detectado pela pesquisa é que o manejo agroflorestal é feito na maior parte pelas mulheres. “Os homens geralmente deslocam até a cidade para trabalhar, comprar e vender produtos ou para a floresta caçar, enquanto a mulher permanece no espaço doméstico do lar, espaço este que engloba o quintal”, exemplificou.

Recomendações de manejo

De acordo com análises feitas no solo da TIKwatá-Laranjal, concluíram que nesses solospredomina a textura muito argilosa, além deargila arenosa e franco argilo siltosa, cujos atributos físicos possuem bom potencial para uso agrícola.

Salim destaca que características deste solo associadas ao manejo praticado nos quintais agroflorestais contribuem para o bom desempenho destes sistemas. “Os solos da TI Kwatá-Laranjal possuem atributos físicos que proporcionam maior retenção dos nutrientes, que pode conferir uma boa fertilidade aos solos por períodos maiores, quando comparados como solos arenosos. Além disso, 20% dos quintais estudados possuem solo de Terra Preta de Índio, que são solos de elevada fertilidade, com presença de fragmentos de cerâmica indígena e carvão vegetal. Outro aspecto que vale a pena ser destacado é quea elevada pluviosidade característica da região amazônica pode ser otimizada quanto ao aproveitamento de recursos hídricos por meio de captação, armazenamento e direcionamento de águas pluviais”,complementou.

Retorno aos indígenas

No mês de maio, Mateus Salim juntamente com o estudante de mestrado do Inpa Gabriel Zanatta, que realizou uma pesquisa sobre extrativismo de açaí nesta Terra Indígena - com o apoio dos pesquisadores do Inpa, Luiz Augusto de Souza e Sonia Alfaia, e Etelvino Araújo, da Sepror - repassaram os resultados das pesquisas aosindígenas, além de realizar uma oficina de viveiros para agricultura familiar. 

Composta de aulas teóricas e práticas, a oficina instruiu os moradores na construção de dois viveiros-modelo nas aldeias de Laranjal e Fronteira, para viveiros de baixo custo de produção de mudas, utilizando materiais disponíveis na própria localidade como madeira e palha, além de materiais cedidos pela equipe como cano e bica para instalação do sistema de irrigaçãodo viveiro. “Esta oficina tem como objetivo abordar técnicas de produção de mudas de baixo custo, que possam ser realizadas pelos agricultores familiares e contribuam para aumentar a produtividade e diversidade de espécies dos quintais agroflorestais e outras áreas de plantio”, explicou Salim.

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