Pesquisa busca analisar o comportamento alimentar de peixes-bois da Amazônia
O estudo é realizado com animais que vivem em semi-cativeiro no interior do Amazonas e em cativeiro no Inpa, em Manaus
Por Séfora Antela/ Ampa

Identificar o som da mastigação dos diferentes alimentos que fazem parte da dieta do peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é o objetivo do experimento, realizado por meio de uma cooperação técnica entre o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) e pesquisadores japoneses do Instituto de Pesquisas Oceânicas da Universidade de Tóquio (JP).
“Estamos analisando os diferentes tipos de plantas consumidas pelos peixes-bois e os diferentes sons da mastigação. Num último trabalho de reintrodução realizado pelo LMA, constatou-se que os animais reintroduzidos tiveram dificuldade de procurar alimento e esse é um dos motivos pelos quais eles não conseguiram se readaptar ao ambiente natural. Desta forma; por meio desse dispositivo, poderemos analisar se nos primeiros dias, após a soltura, o animal estará se alimentando com frequência, e qual o tipo de planta consumida”, ressalta Mumi Kikushi, pesquisadora da Universidade de Tóquio.
Coleta e análise de dados
Os estudos, com os peixes-bois que estão em semi-cativeiro no município de Manacapuru, distante da capital amazonense 68 km, e no cativeiro do Inpa, em Manaus, servirão a priori para auxiliar os pesquisadores no monitoramento desses indivíduos, depois de soltos na natureza. A coleta de dados dos exemplares que estão no interior do Estado iniciou na última semana e a próxima etapa é analisá-los em laboratório.
As análises com animais que vivem no Instituto começaram em 2011 e terminam na próxima sexta-feira (11). “Dados preliminares do primeiro experimento (2011) mostraram que o equipamento apresentou enorme eficácia para estudos de comportamento alimentar com a espécie. A detecção do som de mastigação dos animais foi excelente, onde conseguimos verificar que existem diferenças entre os intervalos de mastigação dos peixes-bois para cada espécie de planta consumida”, explica Diogo Souza, biólogo da Ampa.
Avanço nas pesquisas
Com essa tecnologia, será possível, futuramente, realizar estimativa populacional de peixe-boi da Amazônia. “Até hoje, não existem estudos ou pesquisas que revelem estimativas populacionais para o número de indivíduos de peixes-bois da Amazônia. Esse equipamento apresenta-se como importante ferramenta para estudos ecológicos com o peixe-boi na natureza, e contribuirá para aumentar o conhecimento sobre as principais áreas de ocorrência da espécie”, ressalta Souza.
Metodologia
O método utilizado pelos pesquisadores é o “acoustic data logger”, no qual é feito o registro dos dados sonoros, através de um hidrofone. O aparelho foi acoplado ao cinto transmissor dos peixes-bois, escolhidos para retornar à natureza, por meio do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia Criados em Cativeiro, realizado pela AMPA e Inpa desde 2008.
“Este dispositivo possui uma bateria para durar oito dias. Terminado este período, o dispositivo se soltará do cinto transmissor, utilizado para monitorar os peixes-bois, e poderá ser encontrado através da radiotelemetria, mesma tecnologia já usada pelos pesquisadores da Ampa e do Inpa no monitoramento dos animais reintroduzidos. Em laboratório, poderemos analisar os resultados deste estudo pioneiro”, ressalta Tomonari Akamatsu, coordenador do estudo e membro da Divisão Nacional de Ciência e Tecnologia de Tóquio.
Programa de Reintrodução
O LMA do Inpa, desde 1974, realiza atividades com peixe-boi da Amazônia, envolvendo estudos sobre biologia, ecologia, fisiologia e manejo da espécie. O Instituto possui um centro de resgate e reabilitação que se destina a recuperação dos animais e estudos em cativeiros. O sucesso do programa de reabilitação no Inpa gerou um excedente de indivíduos prontos para retornarem à natureza, tornando viável a reintrodução no ambiente natural de peixes-bois cativos visando à manutenção das populações naturais da espécie.
As atividades de monitoramento por rádio-telemetria dos peixes-bois reintroduzidos tiveram início em março de 2008 e, desde então, quatro exemplares voltaram para a natureza.
O monitoramento pós-soltura, de acordo com pesquisadores da Ampa, é fundamental para verificar a adaptação dos animais às novas condições de vida e a utilização do habitat, bem como avaliar o sucesso das reintroduções, além de ser importante ferramenta para a educação ambiental de várias comunidades. Em outubro desse ano, mais três animais serão soltos na natureza.
Foto da chamada: Séfora Antela
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