Em encontro no Inpa comunidade científica defende manutenção da Reserva Ducke
“Seria um enorme impacto para Manaus e para a ciência caso a Reserva Ducke se transforme em Zona Transição”, afirma o pesquisador do Inpa Philip Fearnside.
Por Luciete Pedrosa
Pesquisadores, estudantes e líderes de movimentos sociais estiveram reunidos na nesta quarta-feira (4), no auditório da Ciência, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) para debaterem o novo Plano Diretor de Manaus, que está em fase final de votação e que transforma o entorno da Reserva Florestal Adolpho Ducke em Zona de Transição. Criada nos final dos anos de 1950, a Ducke é uma reserva federal administrada e gerenciada pelo Inpa que se mostrou preocupado com a questão em documento oficial.
“Praticamente metade das espécies de pássaros dos fragmentos florestais estudados ao Norte de Manaus desapareceu localmente em pouco tempo após a fragmentação ter ocorrido. Espécies de macacos, onças ou outros mamíferos que dependem de uma área contínua grande para sobreviver tendem a desaparecer também”, disse o pesquisador do Inpa, o Ecólogo José Luís Camargo, coordenador científico do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), em documento final do workshop que também representa o posicionamento do Instituto.
O vereador Elias Emanuel (PSD), relator Plano Diretor de Manaus, que compareceu pela manhã ao evento, afirmou que a cidade de Manaus precisa crescer para o Norte, mas com o desafio de crescer para si própria, porque 60% dos lotes existente em Manaus estão inutilizadas segundo ele. Na avaliação do vereador, a classificação como Zona de Transição no entorno da Reserva Ducke já existe há 11 anos.
Ele defende a manutenção da mesma, citando outras Zonas de Transição como a Tarumã-Açu, Praia da Lua e Ducke explicando que para cada uma delas existem um conjunto de atividades que podem ser realizadas especificamente e que não sejam impactantes.
Para o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcos Castro, defende a proposta de transformar a área em Zona de Amortecimento permitindo que a reserva não perca o contato com a floresta. “A intenção dos pesquisadores é não desconectar a Reserva Ducke do restante da floresta porque isso causaria alguns problemas que poderiam transformar o entorno da reserva em fragmentos florestais urbanos e esses fragmentos vão sendo pressionados e aos poucos diminuídos. A proposta do Plano Diretor é transformar aquela área em Zona de Transição, o que significa dizer que em pouco tempo poderá ser totalmente desmatada e no lugar abrigar núcleos habitacionais e um dia se transformar em Zona de Expansão Urbana”, explica o professor Castro.
De acordo com o Coordenador de Extensão do Inpa, Carlos Bueno, o debate foi planejado para que outros atores possam contribuir sobre a importância de se preservar não apenas a Ducke, mas também a área do entorno da reserva, mostrando os problemas que podem ser acarretados de ordem econômica, social e ambiental em função de um “desenvolvimento” da cidade no entorno dessa floresta. “O debate também vai contribuir para que a Reserva Ducke não se transforme em um fragmento florestal, mas que continue a exercer o papel de uma floresta, inclusive na manutenção do clima e das cabeceiras dos vários igarapés que existem naquela área”, destaca Bueno.
Segundo o vereador Bibiano Garcia (PT), o que se questiona nesse debate é a expansão da cidade indo para a zona Norte. “Estamos recorrendo aos cientistas para nortear os estudos técnicos para a defesa da importância da manutenção das áreas verdes em Manaus, especificamente no entorno da Reserva Ducke, e discutir o novo Plano Diretor da cidade”.
Durante a programação, o pesquisador do Inpa, Philip Fearnside, responsável pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Serviços Ambientais da Amazônia (SERVAMB), ressaltou a importância da Reserva Ducke e a contribuição que ela dá aos pesquisadores, sendo aquele o lugar mais estudado por causa da sua biodiversidade. O pesquisador afirmou que o crescimento da cidade para o Norte ameaça a reserva e que a prioridade no momento é manter a floresta. “Seria um enorme impacto para Manaus e para a ciência caso a Reserva Ducke se transforme em Zona Transição. Essa área é importante para se obter dados dos serviços ambientais como o estudo da água e do solo”, disse.
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